quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Um caminho difícil de seguir

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 

*Artigo de Fabrício Veliq,

teólogo protestante

 

Um novo mandamento vos dou : que vos ameis uns aos outros como eu vos amei (João 13,34).

Amem os seus inimigos e orem por aqueles que vos perseguem (Mateus 5,44).

 

‘Embora essas duas citações bíblica sejam amplamente conhecidas e anunciadas em diversos cultos e missas, muitas vezes não se dá a real atenção às dificuldades que estão inseridas nessas simples palavras. Num primeiro momento, alguém poderia pensar que o primeiro versículo é até aceitável, uma vez que é Jesus falando aos seus discípulos.  Já o segundo traz algo que não sabemos muito bem como lidar.

Enganam-se, contudo, aqueles que consideram o primeiro como até fácil de ser cumprido e o segundo como impossível. Na realidade, ambos esses mandamentos de Jesus demandam um comprometimento enorme da parte de quem se propõe a segui-los e, ainda, colocam-se como critério de compreensão do próprio evangelho.

Quanto ao primeiro versículo, ainda que se considere que Jesus esteja falando somente para seus discípulos, instando-os a terem uma vida em amor fraterno entre si, por ser a forma pela qual o mundo reconhecerá quem são seus seguidores, precisamos ter em mente que amar a quem gostamos é um desafio enorme e que nos exige muito. Afinal, aceitar a diferença do outro (que não raras vezes são contrárias às nossas expectativas), incentivá-lo a ser melhor, estar junto em seus percalços, chorar suas dores e alegrar-se com suas alegrias ou, ainda de maneira sintética, procurar com todas as forças e, dentro do possível, fazer o bem para a outrem não são tarefas simples e nem sempre prazerosas e leves.

Não raras vezes queremos desistir das pessoas ou até mesmo sermos indiferentes para com elas porque não as suportamos. Infelizmente, é comum não termos sempre atitudes amorosas para com aqueles de quem gostamos e queremos bem.

Quanto ao segundo versículo, é comum ouvir que, nesse caso, Jesus tenha forçado a barra demais.  Como já é difícil amar a quem se gosta, quem dirá amar a quem nos faz o mal ou nos odeia?! Se isso nos soa espantoso hoje, imagina para quem vivia à época de Jesus! Nessa ocasião, a lei do talião, com seu ‘olho por olho e dente por dente’, era regra social básica, vista como garantidora da honra de determinada família ou clã, e até mesmo reflexo do próprio Deus, uma vez que ele retribuiria o mal  com algum castigo e o bem com alguma benesse.

Jesus, porém, revela outra imagem de Deus, a saber, aquele que ama sempre, não faz distinção de pessoas, não retribui o mal com o mal, faz vir a chuva sobre justos e injustos, de maneira que qualquer mérito deveria ser descartado na relação com esse que é Pai de todos. Nesse sentido, se Deus é aquele que oferece seu amor sempre, até mesmo para com quem era considerado inimigo pelo povo, da mesma forma Jesus ordena que também nós amemos aos que nos perseguem e se mostram nossos inimigos.

Com isso em mente, é possível perceber o quão rigorosa é a moralidade exigida por Jesus. Bem distante de um mero cumprimento de ordenanças que garantiria a justiça e o agradar a Deus, o que se coloca é o imperativo do amor àqueles e de quem gostamos e também de quem não (uma vez que gostar é sempre opcional; amar, no entanto, para o cristão, um mandamento),

Por sua vez, tal mandamento, paradoxalmente, só pode ser realizado quando feito de maneira livre e gratuita, uma vez que todo amor pressupõe a liberdade.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1475114/2020/10/um-caminho-dificil-de-seguir/


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