Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
Um
novo mandamento vos dou : que vos ameis uns aos outros como eu vos amei (João
13,34).
Amem os seus inimigos e orem por aqueles que vos
perseguem (Mateus 5,44).
‘Embora
essas duas citações bíblica sejam amplamente conhecidas e anunciadas em
diversos cultos e missas, muitas vezes não se dá a real atenção às dificuldades
que estão inseridas nessas simples palavras. Num primeiro momento, alguém
poderia pensar que o primeiro versículo é até aceitável, uma vez que é Jesus
falando aos seus discípulos. Já o segundo traz algo que não sabemos muito
bem como lidar.
Enganam-se,
contudo, aqueles que consideram o primeiro como até fácil de ser cumprido e o
segundo como impossível. Na realidade, ambos esses mandamentos de Jesus
demandam um comprometimento enorme da parte de quem se propõe a segui-los e,
ainda, colocam-se como critério de compreensão do próprio evangelho.
Quanto
ao primeiro versículo, ainda que se considere que Jesus esteja falando somente
para seus discípulos, instando-os a terem uma vida em amor fraterno entre si,
por ser a forma pela qual o mundo reconhecerá quem são seus seguidores,
precisamos ter em mente que amar a quem gostamos é um desafio enorme e que nos exige
muito. Afinal, aceitar a diferença do outro (que não raras vezes são contrárias
às nossas expectativas), incentivá-lo a ser melhor, estar junto em seus
percalços, chorar suas dores e alegrar-se com suas alegrias ou, ainda de
maneira sintética, procurar com todas as forças e, dentro do possível, fazer o
bem para a outrem não são tarefas simples e nem sempre prazerosas e leves.
Não
raras vezes queremos desistir das pessoas ou até mesmo sermos indiferentes para
com elas porque não as suportamos. Infelizmente, é comum não termos sempre
atitudes amorosas para com aqueles de quem gostamos e queremos bem.
Quanto
ao segundo versículo, é comum ouvir que, nesse caso, Jesus tenha forçado a
barra demais. Como já é difícil amar a quem se gosta, quem dirá amar a quem
nos faz o mal ou nos odeia?! Se isso nos soa espantoso hoje, imagina para quem
vivia à época de Jesus! Nessa ocasião, a lei do talião, com seu ‘olho por
olho e dente por dente’, era regra social básica, vista como garantidora da
honra de determinada família ou clã, e até mesmo reflexo do próprio Deus, uma
vez que ele retribuiria o mal com algum castigo e o bem com alguma
benesse.
Jesus,
porém, revela outra imagem de Deus, a saber, aquele que ama sempre, não faz
distinção de pessoas, não retribui o mal com o mal, faz vir a chuva sobre
justos e injustos, de maneira que qualquer mérito deveria ser descartado na
relação com esse que é Pai de todos. Nesse sentido, se Deus é aquele que
oferece seu amor sempre, até mesmo para com quem era considerado inimigo pelo
povo, da mesma forma Jesus ordena que também nós amemos aos que nos perseguem e
se mostram nossos inimigos.
Com
isso em mente, é possível perceber o quão rigorosa é a moralidade exigida por
Jesus. Bem distante de um mero cumprimento de ordenanças que garantiria a
justiça e o agradar a Deus, o que se coloca é o imperativo do amor àqueles e de
quem gostamos e também de quem não (uma vez que gostar é sempre opcional; amar,
no entanto, para o cristão, um mandamento),
Por
sua vez, tal mandamento, paradoxalmente, só pode ser realizado quando feito de
maneira livre e gratuita, uma vez que todo amor pressupõe a liberdade.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1475114/2020/10/um-caminho-dificil-de-seguir/
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