Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Francisco Thallys Rodrigues,
presbítero da Diocese de Crateús, CE
Teresa
nasceu em Alençon, na França, em 1873, filha caçula do casal Louis Martin e
Zélia Guérin. Educada em uma família católica, recebeu desde cedo orientações
cristãs, sendo influenciada pelo forte testemunho cristão de seus pais e irmãs.
Acompanhou de perto o processo de discernimento de suas irmãs para a entrada na
vida religiosa. Ainda pequena, sofreu a perda de sua mãe, sendo educada, a
partir de então, por suas irmãs. Desde cedo destacou-se no colégio em razão de
sua grande capacidade intelectiva, entretanto, sentia-se fraca e pequena,
sofrendo com as brincadeiras e deboches de seus colegas.
Sentiu
o chamado de Deus para a vida religiosa, o desejo de gastar a sua vida na
contemplação, oração e vida fraterna. Em razão da pouca idade, isso lhe foi
negado mais de uma vez, conseguindo depois, com muita insistência, a
autorização para seu ingresso. Note-se que Teresinha, apesar da pouca idade,
era perspicaz : percebeu as fragilidades dos presbíteros na
vivência de seu ministério e, mesmo vivendo num contexto onde os padres eram
apresentados como figuras superiores aos anjos e menores do que Deus, foi capaz
de abraçar a vida religiosa com todos os seus limites. Neste sentido, pode-se
dizer que o itinerário espiritual de Teresinha passa por um processo de
purificação, no qual a ingenuidade angelical do primeiro contato cede lugar à
experiência madura da fé cristã.
A
experiência dentro do Carmelo foi marcada por muitos desafios na relação com as
irmãs de vida religiosa e com a própria estrutura da vida contemplativa. A
jovem carmelitana abraçou cada novo desafio dando-lhe um novo sentido a partir
de sua fé. Procurou aproximar-se de Deus a partir dos serviços mais simples,
dentro do Carmelo. Compreendeu que dentro da lógica do evangelho de Jesus, as
irmãs de temperamento mais difícil eram as que mais necessitavam de amor e de
compreensão, por isso procurava se aproximar destas irmãs, mesmo que fosse uma
experiência bastante exigente. Apesar de sua pouca idade, demonstrava
maturidade e clareza de objetivos. Era singular.
A
leitura do evangelho era constante em sua vida, destacando-se a percepção de
que Deus se fez pobre e pequeno, simples e frágil, revelando-se desde os mais
pequeninos como um dentre eles. No silêncio e na oração, procurou tornar sua
vida um sinal concreto da presença de Deus. Desde seus diários, fica claro a
sua busca e encontro com Deus em meio às alegrias e dificuldades da vida; as
dores e sofrimentos trazidos por suas perdas e doenças são por ela
interpretados à luz da fé. A leitura do evangelho e dos livros de São João da
Cruz foram fundamentais para favorecer o enfrentamento a estas situações que
podemos classificar como a noite escura, o momento de ausência-presença de Deus
nos sofrimentos da vida.
Nosso
tempo tem se caracterizado por uma diversidade de ‘espiritualidades’ que
em si mesmas são problemáticas. Diante do prenúncio dos filósofos da suspeita
de um esfriamento inicial da experiência religiosa até o seu desaparecimento,
constata-se uma permanente busca pelo sagrado, que tem se manifestado numa
multiplicidade de experiências que carecem de autêntico compromisso evangélico.
Expande-se
com força no meio dos jovens uma espiritualidade descompromissada com a vida
humana em suas distintas dimensões. Crescem os apelos por um Jesus
milagreiro-curandeiro de corte dualista, light, sem grandes
exigências e que oferece a preço bom a ‘bênção divina’, eliminando toda
possibilidade de sofrimento. Leituras que tendem a tirar a cruz de Jesus ou que
insistem numa carnificina do Deus que haveria premeditado a morte de seu filho.
Insiste-se em uma espiritualidade que esquece a presença de Deus em todas as
dimensões de nossa vida, incapaz de ler os acontecimentos do presente à luz da
presença salvadora de Deus na história humana.
O
caminho espiritual vivido por Santa Teresinha ajuda-nos a compreender que a
espiritualidade perpassa todas as dimensões da vida humana, levando-nos a
engajar a nossa vida no serviço ao próximo. A verdadeira espiritualidade cristã
conduz ao compromisso com o próximo, a renúncia do egoísmo e a defesa da vida
humana. Não se deve fomentar uma vida cristã de corte dualista que tende a
separar o espiritual do cotidiano da vida como dois campos antagônicos. A
espiritualidade cristã quanto mais presente na vida humana e no cuidado com o
próximo tanto mais será autêntico seguimento a Jesus.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1474417/2020/10/espiritualidade-teresinha-entre-deus-e-o-mundo/
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