Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Se nos lembrarmos das relações humanas, percebemos que relacionamentos fortes não são construídos da noite para o dia
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘É
muito comum ouvirmos de pessoas cristãs o desejo de se estar mais próxima de
Deus. São diversas as canções que tocam nessa temática, principalmente no meio
evangélico, trazendo o anseio daquela que canta em estar mais perto e mais
achegada ao divino. Sem entrar no mérito de que muitas dessas músicas tenham
alguns erros teológicos e ensinamentos que não condizem com aquilo que o texto
bíblico fala, elas não são algo novo. Basta observarmos os Salmos para
percebermos que tal anseio já havia em diversos cânticos. O famoso trecho : ‘como
a corça anseia pelas águas, assim a minha alma suspira por ti, ó Deus’,
presente no primeiro verso do salmo 42, deixa isso bem claro.
Porém,
tal desejo ardente que se manifesta nos momentos de louvor nem sempre está
presente no relacionamento diário dessa pessoa com Deus. Ainda é muito comum
para muitas pessoas que se dizem cristãs pensar que o momento de encontrar com
Deus se dá ali no culto ou na missa e que o templo seria o lugar privilegiado
para tal encontro. Em outras palavras, pensa-se que o momento de buscar a
intimidade com Deus e a relação com ele se dá ali, naquele lugar específico, e
se espera que ali, também, haja um transbordamento de intimidade com o divino.
De certa forma, esquece-se que todo relacionamento não é construído somente nos
momentos de euforia, mas, principalmente, nos momentos em que não há qualquer
tipo de emoção.
Se
nos lembrarmos das relações humanas, percebemos que relacionamentos fortes não
são construídos da noite para o dia. É muito pouco provável que nossos melhores
amigos e amigas tenham sido feitos somente com um encontro e uma conversa
esporádica. Muito pelo contrário, uma verdadeira amizade e um relacionamento
duradouro, geralmente, são feitos a partir de um longo tempo juntos,
conversando sobre questões triviais e sérias, passando por sofrimentos e
crises, auxiliando um ao outro, cuidando, ouvindo etc.
Se
é assim o relacionamento entre nós humanos, por que, afinal de contas, seria
diferente o estabelecimento da relação com Deus? Talvez, fruto de uma
mentalidade capitalista, na qual todas as soluções devem ser imediatas, pensar
o relacionamento com Deus como solução rápida para as angústias existenciais
seja o que passa na cabeça de muitas pessoas quando vão a um culto ou a uma
missa. O desejo por Deus, assim, torna-se algo para o momento, sem a querença
de um aprofundamento da relação para conhecer mais a respeito do caráter Dele.
A
ideia de construir uma relação com Deus, na qual se demanda dispensar tempo
para conversar com Ele, ouvir sua voz, ver os seus sinais no cotidiano,
aprender que é na relação com o próximo que Ele se faz presente pode parecer
pesada demais para muitas pessoas e, talvez por isso, sejam muito mais fáceis
os momentos catárticos e ‘apaixonantes’ que as músicas desejosas por
Deus proporcionam.
Com essa atitude, porém, há uma grande
probabilidade de se criarem pessoas que são somente apaixonadas e encantadas
por aquilo que ouvem falar a respeito de Deus, mas que não estão dispostas a
construir uma relação de amor para com Ele, o que exigiria um comprometimento
de vida e de vontade muito maior do que aquilo que alguns cultos e missas
dominicais podem proporcionar.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1476729/2020/10/pessoas-encantadas-com-deus/
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