Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘Todo
relacionamento precisa de escuta atenta. Não raro ouvimos sobre relações que
acabaram por uma pessoa não ouvir a outra ou porquê uma das partes não se
atentava à demanda da outra, causando-lhe a sensação de falar com as paredes.
De tanto insistir em ser ouvida e não obter resposta, considera-se o rompimento
como única coisa a se fazer. Uma vez acabada a esperança, encerram-se também as
possibilidades de retorno.
Quando
olhamos para a questão da teologia e sua relação com o mundo, a premissa com a
qual começamos nosso artigo também se aplica. Não dificilmente temos
presenciado abordagens teológicas que se distanciam do mundo, não ouvindo o que
este tem a dizer em suas diversas vozes. Focando-se somente em doutrinas,
normas, teorias etc., a teologia tem constantemente se tornado surda àqueles
com quem deveria se relacionar.
No
entanto, em um país no qual a maioria das pessoas se diz cristã, ainda é
possível perceber que elas querem ouvir algo dos teólogos. Algo que faça
sentido para suas existências, que traga conforto e respostas aos seus dramas.
Diante
desse cenário, torna-se importantíssima uma teologia pública, que seja feita a
partir de baixo, das experiências do povo, de suas lutas e questões. Isso não
implica em deixar a seriedade de lado. Muito pelo contrário, significa tomar a
atitude essencial para um bom relacionamento, que é ouvir o outro com quem se
relaciona. Descer de certo pedestal imaginário – no qual diversos teólogos se
colocam, achando que estão acima de todo mundo – e abrir mão da pretensão de
serem os detentores da verdade última, a qual somente eles têm acesso, são
tarefas imprescindíveis. Não cabe mais uma visão teológica nos moldes da
cristandade medieva, quando o cristianismo ditava o quer era certo e errado.
Esse saudosismo nutrido por uma grande parte das pessoas religiosas no país
somente contribui para o constante afastamento da teologia na relação
cristianismo–sociedade.
É
imprescindível que o cristianismo compreenda que não há escuta sincera se não
há humildade e que não se alcançam pessoas sem a disposição de ouvi-las com
atenção. Talvez, na contemporaneidade, ouvir seja um dos maiores desafios para
o cristianismo.
Ao
mesmo tempo, lidar com tal desafio pode fazer com que a proposta cristã volte
ao seu fundamento: Jesus de Nazaré, o galileu que andava com os humildes e
pobres de seu tempo, expondo o Reino de Deus numa linguagem cotidiana, de fácil
assimilação, sem rebuscamentos, mas com profundidade e seriedade. Uma mensagem
que, como disseram os caminhantes de Emaús, ‘ardia o coração’ quando se
ouvia.
A
principal tarefa teológica da atualidade deveria consistir em recuperar o
exemplo de Jesus, refazer seu comprometimento de caminhar com o povo, sentir
suas dores, ouvir seus clamores e anunciar-lhe a esperança do Reino de Deus. Todo
o resto, portanto, seria adendo e nota de rodapé para explicitar algo
importante de ser lembrado.
Infelizmente,
é o exemplo de Jesus que tem sido tomado como nota de rodapé nas pomposas e bem
articuladas elucubrações que vários teólogos têm feito em suas tentativas de
falar somente a seus pares, deixando de lado aqueles para quem Jesus se
dirigiria e a quem ouviria.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1472714/2020/09/teologias-que-nao-escutam/
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