Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Presidente
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
‘Os
maiores desafios deste tempo emolduram o Setembro Amarelo com rostos sem luz e
sorrisos opacos, pois a vida está ainda mais ameaçada. Sentimentos e emoções se
embaraçam diante do peso que recai sobre a humanidade. Não há sinais
promissores de que a civilização contemporânea avançou na aprendizagem sobre os
cuidados com a vida. É preciso, assim, progredir na ciranda do bem viver e do
bem-querer – os trilhos sobre os quais a vida transcorre, de estação em
estação, até chegar ao seu destino final. Uma viagem que exige o domínio da
arte de cuidar, a partir do reconhecimento de que a vida é dom e
responsabilidades.
Viver
é inscrever-se em um contínuo caminho de lições, conforme bem assevera o ditado
popular ‘vivendo e aprendendo’. Essa constatação ainda se confirma
quando pessoas mais vividas manifestam surpresa diante de um acontecimento e
dizem : ‘pensei já ter visto de tudo’. A vida é dom de riqueza
inesgotável e, por isso mesmo, sempre apresenta novas lições. Todos são
aprendizes, desafiados a superar muitas provas. Sejam oferecidas as condições
para que cada pessoa possa superá-las. Para os cristãos, o Evangelho de Jesus
Cristo é referência fundamental que leva a aprendizados condizentes com o dom
de viver. A gramática do Evangelho da Vida congrega princípios e metas,
códigos e experiências, lições e ensinamentos, partindo sempre da cláusula
pétrea : o dom da vida é inviolável, merece cuidados e todas as condições para
se desabrochar. Nesse sentido, o Evangelho ensina que o bem-querer, traduzido
em gestos de amor ao próximo, é indissociável do bem viver.
Importante
considerar também que o dom inviolável da vida, para ser protegido, exige
constante reflexão sobre as emoções e as dores carregadas no coração humano.
São essas emoções e dores que sustentam a vida de cada um. Por isso, saber
reconhecer e lidar com os próprios sentimentos é uma importante forma de
sabedoria, uma ciência sobre o viver. Distanciar-se da reflexão sobre os
próprios sentimentos muito contribui para não se enxergar sentido na vida. E são
terrificantes, embora não raramente distantes da luz midiática, as estatísticas
dos que desistem de viver, com preocupante aumento de vítimas entre jovens – o
futuro de uma humanidade que precisa renovar-se para não se declinar. Muita
gente está sem forças para continuar vivendo, e ajudar na edificação de um
mundo mais justo, solidário e fraterno. Consequentemente, as estatísticas sobre
o suicídio podem revelar número de mortes semelhante ao de pandemias.
Dentre
as renovações urgentes está a necessidade de se superar desigualdades sociais
que representam graves ameaças à vida humana. A opacidade amarela deste mês de
setembro alerta que a vida, embora seja dom precioso, é constantemente
ameaçada. São, pois, muito necessárias políticas públicas com força e velocidade
para debelar os processos que levam à destruição das vidas. O comprometimento
da qualidade do bem-querer tem forte incidência sobre o bem viver. E o
adoecimento planetário ambiental contracena com o adoecimento emocional humano.
É preciso sublinhar a responsabilidade de se investir nos sentimentos que
modulam a vida, com iniciativas que qualifiquem a dimensão emocional da
humanidade, especialmente a partir da contribuição da espiritualidade. Isso
permite cultivar o equilíbrio assentado em valores humanistas que possibilitem
redimensionar critérios, juízos e escolhas.
Corajosamente
cada pessoa deve dedicar atenção aos sentimentos, buscando o diálogo, com
disposição para escutar e oferecer afeto. Famílias sejam mais atentas e
aconchegantes. Escolas tornem-se mais interativas, inspirando nos alunos a
sensação de pertencimento. Igrejas busquem ser cada vez mais sensíveis às dores
humanas, garantindo a espiritualidade e as palavras que devolvam esperança.
Todos se dediquem a edificar uma sociedade que seja livre das indiferenças, sem
idolatrias e hegemonias mesquinhas, aprendendo lições como esta, partilhada por
Cora Coralina : ‘Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que
nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas. E isso
não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela
não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura
enquanto durar.’ Eis a compreensão necessária : alcançar pela força do
bem-querer o necessário bem viver.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/artigo/9029/2020/09/bem-viver-e-bem-querer/
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