Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
redatora chefe do
‘Os
Lugares Santos, tocados por Jesus, não seriam acessíveis hoje sem a presença e
a dedicação de gerações inteiras de franciscanos que ofereceram suas vidas
durante oito séculos para guardar e permanecer na Terra Santa.
A
origem da Custódia da Terra Santa remonta ao ano 1217, quando no capítulo geral
de Pentecostes, convocado pelo próprio São Francisco de Assis, a ordem
franciscana por ele fundada se organizou em províncias, entre as quais a da
Terra Santa : então chamada de ‘Província Ultramarina’. Ela se estendia
ao redor da bacia do Mediterrâneo, do Egito à Grécia e além.
Em
1219, o próprio São Francisco partiu do porto italiano de Ancona para visitar a
província da Terra Santa. O fundador veio como um mensageiro de paz na Quinta
Cruzada.
O desembarque no Egito deu-lhe a oportunidade de pedir permissão ao delegado papal e, enfrentando pessoalmente os riscos, visitar o sultão do Egito Malek al-Kamel. Esse encontro tornou-se um dos momentos mais importantes da história do diálogo entre cristãos e muçulmanos.
Oitocentos
anos depois, a Custódia da Terra Santa é hoje uma província da Ordem dos Frades
Menores que compreende Israel, os Territórios Palestinos, Síria, Jordânia,
Líbano, Chipre e Rodes, bem como alguns conventos no Egito, Itália, Estados
Unidos e Argentina.
Nesta
entrevista, realizada em Jerusalém, o Padre Francesco Patton, custódio da Terra
Santa, revela elementos pouco conhecidos da presença franciscana na Terra de
Jesus.
Viver na Terra
Santa significa viver intensamente o diálogo inter-religioso. O senhor se
inspirou no encontro de São Francisco com o Sultão?
Esse
foi um encontro que causou uma virada na vida de São Francisco e, portanto,
constituiu uma virada na sua forma de perceber a missão.
Em suas instruções após o encontro com o sultão, Francisco alerta: ‘não provoque litígios ou disputas’. Ao mesmo tempo, pede estar ao serviço de todos com uma clara identidade cristã. É o guia que nos orientou durante esses oito séculos.
De
fato, em geral, naquela época da Quinta Cruzada, a relação entre cristãos e
muçulmanos não era de encontro, mas de desacordo. No entanto, Francisco vive
este encontro e propõe este estilo que hoje mantém toda a sua atualidade.
Isso
é demonstrado pelo fato de que, precisamente no ano passado, o Papa Francisco,
junto com o Imame de Al-Zhar, assinou em Abu Dhabi o conhecido documento
dedicado à fraternidade entre os povos ao serviço da paz.
A relação entre
cristãos de diferentes confissões, o diálogo ecumênico, constitui outro dos
desafios para os franciscanos na Terra Santa. No passado, esse diálogo passou
por momentos difíceis. Como isso é hoje?
No
momento, as relações com as outras comunidades cristãs são muito boas. Vemos
isso tanto no Santo Sepulcro quanto em outras ocasiões de nossa vida cotidiana.
No
Santo Sepulcro, pudemos concluir as obras de restauração graças a um acordo
entre as diferentes Igrejas envolvidas. Agora estamos preparando a segunda fase
de restauração, e isso também é possível graças a um convênio.
Mas,
além destes acordos concretos entre chefes de comunidades eclesiais, existe
colaboração no sentido mais amplo : por exemplo, partilhamos os nossos
problemas e tomamos decisões em conjunto, quando uma ou outra comunidade passa
por um problema que deve ser enfrentado com espírito de solidariedade.
Os franciscanos
hoje cuidam de 80 santuários que podemos definir como ‘os santuários da nossa
redenção’. Em que consiste essa ‘custódia’? Como o senhor vive está vivendo
este momento atual, em que depois de anos de crescimento exponencial de
peregrinos, agora tudo está vazio por causa do coronavírus?
São
momentos particulares da história: não faz muito tempo, a Custódia também viveu
momentos muito difíceis. Por exemplo, durante a primeira e a segunda Intifada,
os peregrinos deixaram de vir, mas continuamos presentes nos santuários.
Temos
que lembrar o mandato deixado a nós pelo Papa Clemente VI, que em 1342 nos
pediu para morar nos santuários, além de cuidar da recepção dos peregrinos.
A
nossa presença nos santuários, mesmo quando estão vazios e não há peregrinos,
significa habitar nos lugares onde Deus se revelou, onde Jesus Cristo realizou
a nossa redenção, nos lugares onde Jesus nasceu, pregou, fez milagres e
entregou sua vida por nós.
A educação das
novas gerações de cristãos no território é um dos campos aos quais a Custódia
da Terra Santa dedica maior atenção. Esta atividade é desenvolvida através de
15 escolas, em cinco países, frequentadas por onze mil alunos, com onze cem
professores. Como são essas escolas?
Muitos de nossos alunos são muçulmanos, e nós conseguimos compartilhar, conviver de forma harmoniosa.
Compartilhamos
a aula de religião com cristãos de diferentes confissões : é uma espécie de
religião cristã; ou seja, oferece uma perspectiva ecumênica, na qual também se
aprende a conhecer as diferenças e particularidades de cada uma das igrejas.
Temos
a escola de música ‘Magnificat’, que recebe estudantes judeus,
muçulmanos e cristãos. Ajuda-nos a compreender o valor não só da educação em
geral, mas da arte em particular : através da música cria-se o diálogo. É o que
João Paulo II chamou de ‘caminho da beleza’, o caminho da arte. Ao longo
desse caminho, conseguimos compartilhar valores, criar algo muito belo juntos.
A
Custódia da Terra Santa também oferece mais de 582 casas em Jerusalém e 72
casas em Belém, dando teto para cerca de 2.050 pessoas.
Em
meados do século passado, a Custódia da Terra Santa oferecia ‘pão e azeite’
nas suas paróquias como ajuda quotidiana; hoje a população precisa de um teto
para ter uma vida digna. Esta é a forma de estar ao lado dos mais pobres e
manter a presença cristã na Terra Santa.
Outra figura
importante da Custódia é representada pelos Comissários da Terra Santa,
presentes em todo o mundo. Qual é a missão deles?
A
missão dos comissários é muito importante para nós: são como os embaixadores da
Custódia da Terra Santa nos diversos países.
São
Frades menores franciscanos (da Custódia ou das Províncias locais) empenhados
em trabalhar para a realização de vários objetivos : o primeiro é tornar conhecida
a Terra Santa. Por isso, eles divulgam nossa revista, divulgam nossa mensagem,
divulgam o que o Christian Media Center, nosso centro de produção, faz.
Eles
também trabalham por um segundo objetivo muito importante : incentivar e
acompanhar as peregrinações. Muitos comissários organizam grupos de peregrinos
de diversos países do mundo, e os acompanham aqui para que a peregrinação se
torne uma autêntica experiência de fé, de oração, de crescimento cristão.
Finalmente,
eles se esforçam para alcançar um objetivo decisivo : apoiar financeiramente a
Custódia da Terra Santa. E o fazem por meio da promoção da Coleta em favor da
Terra Santa, que geralmente ocorre na Sexta-Feira Santa, embora devido ao coronavírus
este ano seja no dia 13 de setembro. Eles também trabalham para
encontrar recursos por meio de benfeitores e pessoas que amam a Terra Santa.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2020/09/08/a-epopeia-pouco-conhecida-da-custodia-da-terra-santa/
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