sábado, 12 de setembro de 2020

Título de nova encíclica papal não será traduzido

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé

 

‘Muitos questionaram a respeito do título da terceira encíclica do papa Francisco, que será assinada pelo pontífice no dia 3 de outubro, em Assis, na Itália. Adiantamos nesta quinta-feira (10), em primeira mão, que ela se chamará Fratelli tutti em todas as línguas. A Sala de Imprensa da Santa Sé informou ao Dom Total que não será feita nenhuma tradução do título. Especulava-se que o nome declinaria para ‘Todos irmãos’, em português. Alguns sites americanos especializados, inclusive, chegaram a apostar em ‘All brothers’, em inglês. 

Outra novidade em relação ao documento papal é que o nome oficial não será em latim, como aconteceu com as demais encíclicas do pontífice (Lumen Fidei e Laudato si'). Com isso, papa Francisco ousa mais uma vez : nenhum outro pontífice, na história do catolicismo, batizou uma encíclica com um idioma moderno.

Quando o título é publicado em latim, é de praxe que ele não seja traduzido. Como se tratava de uma frase em italiano, havia incertezas em relação à denominação por parte do Vaticano. Portanto, fim do mistério.

A frase Fratelli Tutti – todos irmãos, do italiano –, introduz a ‘sexta admoestação de Francisco de Assis’, cujo título é A imitação do Senhor. O trecho faz parte de uma coleção de 28 textos curtos medievais, inspirados nos princípios de vida do santo, que é considerada a carta magna da espiritualidade franciscana. Depois da Laudato si, será a segunda encíclica a se inspirar no legado do religioso do século 13.

Conteúdo da encíclica

Francisco é o papa das surpresas, porém, em alguns momentos, consegue ser previsível. Tudo isso porque o papado, enquanto instituição, não foge às próprias regras, independente de quem governe a Igreja Católica.

É de se esperar que, em momentos de crise, o romano pontífice, de alguma forma, se manifeste. E na maioria das vezes, escolhe a encíclica como instrumento para expor um parecer oficial.

O documento nada mais é que uma ‘carta circular’, como o próprio nome sugere, e é endereçada a todos os católicos. Desta vez, Francisco seguiu a cartilha pontifícia. E pode confirmar uma tendência : nas fases mais desafiadoras da história, o catolicismo produziu seus mais célebres escritos.

Com João XXIII, esse tipo de texto se tornou ainda mais abrangente, já que foi ele quem começou a inserir na introdução das encíclicas a expressão ‘aos homens de boa vontade’; ou seja, não somente aos católicos aquela mensagem é destinada. Na Pacem in Terris (1963) aparece essa nova modalidade.

E é provável que Francisco repita a fórmula. Na Laudato si (2015), à diferença da Lumen Fidei (2013), que especifica os destinatários (bispos, padres, diáconos, consagrados e fiéis leigos), o papa ocultou essa especificação.

De acordo com o comunicado oficial do Vaticano, publicado no último dia 5, será um texto ‘sobre a fraternidade humana’, o que sugere um apelo à cooperação internacional em tempos de crise. É uma encíclica de cunho social, que poderá se tornar uma das mais completas já publicadas pelos pontificados contemporâneos, no tocante à versatilidade de temas tratados.

Talvez seja cedo para dizer, mas cogita-se que, se assim for, causará um impacto tão expressivo quanto a Pacem Terris de João XXIII, citada anteriormente, que foi escrita num contexto de Guerra Fria. Ainda hoje, os especialistas consideram o documento do papa bom um texto fundamental sobre a dimensão social do evangelho.

Além de focar nos problemas causados pelo coronavírus, é provável que Francisco insista nos assuntos que tem evidenciado em seus discursos sobre a pandemia : o cessar-fogo global, o cuidado para com o meio ambiente, o espírito de coletividade e o convite à colaboração entre cristãos e não cristãos.

A declaração conjunta do papa Francisco e o grande imã de Al-Azhar, Ahmed Al-Tayyib, assinada em Abu Dhabi, em 2019, também poderá servir de base para o texto. No documento, que também privilegia o tema da fraternidade humana, os dois líderes se comprometeram a trabalhar juntos na construção de um mundo mais justo, rechaçando os ataques contra a dignidade humana em todas as suas formas.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1470518/2020/09/titulo-de-nova-enciclica-papal-nao-sera-traduzido/

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