Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé
‘Muitos
questionaram a respeito do título da terceira encíclica do papa Francisco, que
será assinada pelo pontífice no dia 3 de outubro, em Assis, na Itália.
Adiantamos nesta quinta-feira (10), em primeira mão, que ela se chamará Fratelli tutti em todas as línguas. A Sala de
Imprensa da Santa Sé informou ao Dom Total que não será feita
nenhuma tradução do título. Especulava-se que o nome declinaria para ‘Todos
irmãos’, em português. Alguns sites americanos especializados, inclusive,
chegaram a apostar em ‘All brothers’, em inglês.
Outra
novidade em relação ao documento papal é que o nome oficial não será em latim,
como aconteceu com as demais encíclicas do pontífice (Lumen Fidei e Laudato
si'). Com isso, papa Francisco ousa mais uma vez : nenhum outro pontífice,
na história do catolicismo, batizou uma encíclica com um idioma moderno.
Quando
o título é publicado em latim, é de praxe que ele não seja traduzido. Como se
tratava de uma frase em italiano, havia incertezas em relação à denominação por
parte do Vaticano. Portanto, fim do mistério.
A
frase Fratelli Tutti – todos irmãos, do italiano –, introduz a
‘sexta admoestação de Francisco de Assis’, cujo título é A
imitação do Senhor. O trecho faz parte de uma coleção de 28 textos curtos
medievais, inspirados nos princípios de vida do santo, que é considerada a
carta magna da espiritualidade franciscana. Depois da Laudato si,
será a segunda encíclica a se inspirar no legado do religioso do século 13.
Conteúdo da encíclica
Francisco
é o papa das surpresas, porém, em alguns momentos, consegue ser previsível.
Tudo isso porque o papado, enquanto instituição, não foge às próprias regras,
independente de quem governe a Igreja Católica.
É
de se esperar que, em momentos de crise, o romano pontífice, de alguma forma,
se manifeste. E na maioria das vezes, escolhe a encíclica como instrumento para
expor um parecer oficial.
O
documento nada mais é que uma ‘carta circular’, como o próprio nome
sugere, e é endereçada a todos os católicos. Desta vez, Francisco seguiu a
cartilha pontifícia. E pode confirmar uma tendência : nas fases mais
desafiadoras da história, o catolicismo produziu seus mais célebres escritos.
Com
João XXIII, esse tipo de texto se tornou ainda mais abrangente, já que foi ele
quem começou a inserir na introdução das encíclicas a expressão ‘aos homens
de boa vontade’; ou seja, não somente aos católicos aquela mensagem é
destinada. Na Pacem in Terris (1963) aparece essa nova
modalidade.
E é
provável que Francisco repita a fórmula. Na Laudato si (2015),
à diferença da Lumen Fidei (2013), que especifica os
destinatários (bispos, padres, diáconos, consagrados e fiéis leigos), o papa
ocultou essa especificação.
De
acordo com o comunicado oficial do Vaticano, publicado no último dia 5, será um
texto ‘sobre a fraternidade humana’, o que sugere um apelo à cooperação
internacional em tempos de crise. É uma encíclica de cunho social, que poderá
se tornar uma das mais completas já publicadas pelos pontificados
contemporâneos, no tocante à versatilidade de temas tratados.
Talvez
seja cedo para dizer, mas cogita-se que, se assim for, causará um impacto tão
expressivo quanto a Pacem Terris de João XXIII, citada
anteriormente, que foi escrita num contexto de Guerra Fria. Ainda hoje, os
especialistas consideram o documento do papa bom um texto fundamental sobre a
dimensão social do evangelho.
Além
de focar nos problemas causados pelo coronavírus, é provável que Francisco
insista nos assuntos que tem evidenciado em seus discursos sobre a pandemia : o
cessar-fogo global, o cuidado para com o meio ambiente, o espírito de
coletividade e o convite à colaboração entre cristãos e não cristãos.
A
declaração conjunta do papa Francisco e o grande imã de Al-Azhar, Ahmed
Al-Tayyib, assinada em Abu Dhabi, em 2019, também poderá servir de base para o
texto. No documento, que também privilegia o tema da fraternidade humana, os
dois líderes se comprometeram a trabalhar juntos na construção de um mundo mais
justo, rechaçando os ataques contra a dignidade humana em todas as suas formas.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1470518/2020/09/titulo-de-nova-enciclica-papal-nao-sera-traduzido/
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