Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Maura Shea,
professora
‘Uma
amiga minha estava se perguntando se deveria ir para casa no Dia das Mães. Sua
colega de quarto estava voltando de um funeral fora da cidade e estava
preocupada com a possibilidade de levar o contágio do coronavírus para a casa
de seus pais.
‘Eu
poderia simplesmente sair agora, antes da minha colega de quarto voltar’,
disse a moça preocupada. ‘Eu ainda poderia ficar a semana toda, até o Dia
das Mães, porque realmente quero ser uma boa filha.’
Porém,
ela sabia por experiência própria que, às vezes, ficar uma semana inteira com
os pais não é tão emocionalmente tranquilo assim. Queria homenagear a mãe, mas
não queria demorar a voltar para casa.
‘Eu
queria saber a coisa certa a se fazer’, disse.
Outra
amiga está grávida e tem um filho de 2 anos. O marido e ela têm tido
dificuldades em decidir os limites apropriados para a presença dos pais, que
desejam tanto estar presentes com ela e com o neto durante esse período, e que
não estão preocupados em contrair o vírus. Minha amiga está lutando contra o
medo de ser responsável por contagiá-los.
‘Por
outro lado’, diz ela, ‘não quero viver com medo. Eu sei o quão
importante é para meus pais ver o neto’. Qual é a coisa certa a se fazer?
Muitos
estão enfrentando decisões semelhantes e são oprimidos por uma sensação de querer
fazer o que é certo, mas também pelo medo de escolher o caminho errado.
Precisamos considerar os vários caminhos – saúde e segurança, passar tempo com
os seres queridos, ir ao escritório para nos concentrarmos melhor no trabalho,
apoiar negócios locais que estão passando por dificuldades. Muitos de nós
também nos sentimos chamados a proclamar a verdade sobre o veneno do racismo
por meio do protesto e do ativismo. Todos esses caminhos valem a pena, mas como
e quando?
Acho
que nós, católicos, em particular, com nossa ênfase no discernimento, às vezes
temos a sensação de que deve haver uma resposta certa, a resposta que Deus
conhece e espera que nós também descubramos.
Infelizmente,
mesmo quando levo, em oração a Deus, decisões difíceis como essas, descubro que
ele raramente me dá uma orientação clara. Muitas vezes, parece que ouço Deus
dizer : ‘Não tenha medo’. Mas essas palavras tranquilizadoras não se
traduzem em nenhuma ação imediata.
Fico
com a suspeita de que muitas vezes Deus realmente quer que eu escolha.
Uma
frase sempre vem à mente : ‘A nossa dignidade consiste em ser causas’ (tomado
do pensamento de São Tomás de Aquino)
Em
algum lugar nas brumas distantes do tempo, provavelmente na faculdade, li algo
de São Tomás de Aquino sobre a relação entre a providência de Deus e nosso
livre arbítrio. Tomás pensava que existia uma distinção importante entre
causalidade primária (causalidade de Deus) e causalidade secundária – mas
afirmava que ambas eram reais. O santo estava argumentando contra aqueles que
viam Deus manipulando o mundo como um titereiro que controla seus fantoches. Em
vez disso, Aquino diz :
Pois, devemos atribuir a Deus toda dignidade. Ora, é próprio da dignidade
real ter ministros, mediante os quais exerça a providência sobre os seus
súditos. Logo, com maior razão, Deus não provê imediatamente a todos os seres.
Demais. – É próprio da providência ordenar as coisas para um fim, que lhes é a
perfeição e o bem. Pois, é da essência de uma causa levar a bom termo o seu
efeito. Ora, toda causa agente é efeito da providência. Logo, se Deus provê
imediatamente a todos os seres, anular-se-ão todas as causas segundas. (Summa Theologiae I, q. 22, a. 3).
Com
base na ‘abundância da Sua bondade’, Deus concede às suas criaturas – e
particularmente a nós – ‘a dignidade da causalidade’.
Pensemos
sobre isso. Deus deu a você a dignidade de ser causa.
Você
pode, em razão da criatividade de Deus, ter criatividade também. Você pode
fazer música, arte, jantares e ter relacionamentos. E é realmente você quem
está fazendo essas coisas. Não longe de Deus, mas com ele. Sua causalidade
secundária e sua causalidade primária não estão em conflito.
E
isso significa que você pode fazer escolhas. Escolhas reais.
Recentemente,
perguntei a um padre sobre ouvir as inspirações do Espírito Santo e saber
quando devo agir de acordo com uma inspiração que parece vir de Deus. Com
gentileza e um sorriso, ele sugeriu : ‘Deus quer que você cresça’. Ele
acrescentou : ‘Quando São Paulo fala sobre a maturidade plena em Cristo e a
liberdade dos filhos de Deus, ele está falando sério. Deus quer que você viva
em verdadeira liberdade. Ele quer que você faça escolhas.’
Claro,
há momentos em nossas vidas em que fazer a coisa certa parece uma decisão muito
clara. E parte de confiar em Deus é acreditar que ele realmente nos dá as
informações de que precisamos para tomar boas decisões.
Mas
a paralisia católica em torno do discernimento não ocorre nesses tempos; ocorre
quando parece haver várias respostas certas e temos medo de confiar em nossos
próprios desejos ou em nossa capacidade de escolher com sabedoria.
Também
existe algum precedente bíblico para esses outros tipos de ocasiões. Pense em
Adão no jardim. Deus permite que ele nomeie todos os animais! Que coisa
poderosa, escolher um nome para outra criatura. No entanto, Deus confiou a Adão
essa escolha, essa criatividade.
Santo
Agostinho disse a famosa frase : ‘Ama e faz o que quiseres’.
Se
você amar, estará fazendo a vontade de Deus.
Deixando
de lado o pecado, entendido como imprudência para com o bem-estar dos outros ou
egoísmo com relação ao seu tempo e recursos, pode haver uma série de escolhas
dentro do reino da prudência que minha amiga pode tomar quando visitar sua
família e meu outro amigo para estabelecer limites com seus pais. E Deus
abençoaria quaisquer escolhas dentro desse intervalo que eles decidissem. Na
verdade, acredito que Deus se agradaria com isso – no seu exercício da
causalidade própria, como seres humanos.
Nesses
casos ambíguos, muitas vezes nos sentimos paralisados porque, embora saibamos
que não estamos escolhendo conscientemente algo pecaminoso, mesmo assim vemos a
gama de possibilidades e nos perguntamos se existe uma opção perfeita que
poderíamos estar perdendo.
Todavia,
percebi que a ideia do perfeito é um engano do ‘espírito maligno’, como
diria Santo Inácio, tentando nos impedir de fazer qualquer escolha. Quando
Cristo disse : ‘Sê perfeito, como o teu Pai celestial é perfeito’,
estava fazendo uma comparação na fé com aquele que, em sua misteriosa
liberdade, sem imposição ou necessidade de qualquer tipo, escolheu da
abundância de sua bondade criar o mundo.
Nós
também somos chamados a ser co-criadores. Nós também somos chamados a exercer
nossa liberdade no amor.
Talvez
a verdadeira resposta seja que Deus se agrada com as nossas escolhas. Que o
mundo está cheio de incertezas, mas que ele ama sua vontade de fazer o que é
certo e ama sua criatividade enquanto você trabalha com ele no projeto de vida
que é o mundo. Fazer uma boa escolha não significa que você evitará todo
sofrimento ou que será capaz de prever todos os resultados. Significa que você
está usando os dons do intelecto e da vontade que Deus lhe deu e que no próprio
ato de usá-los você o está glorificando.
Isso
não responde a perguntas específicas sobre quando é seguro visitar seus avós ou
se você deve fazer parte de um protesto pacífico ou se deve participar de um
retiro de discernimento sobre a vida religiosa ou ir para um terceiro encontro
vocacional. Mas é essa a questão. Em muitos casos e mesmo nos casos mais
importantes, Deus nos deu a dignidade de responder.
Quando
Jesus pergunta ao cego do Evangelho : ‘O que você quer que eu faça por você?’,
Ele realmente quis dizer isso. Não é um artifício retórico. Ou quando diz : ‘Mas
quem você diz que eu sou?’, Ele quer que seus amigos lhe digam o que
realmente pensam. Está tudo bem se Pedro não consegue articular perfeitamente a
doutrina da Trindade, como foi mais tarde esclarecido no Concílio de Nicéia.
Jesus está encantado com a resposta dele – e com a sua.
Então ore. Fale com um amigo de confiança. E,
finalmente, considere que Deus deu a você a dignidade de ser uma causa e se
deleita em sua escolha.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1469548/2020/09/o-discernimento-pode-ser-dificil-mas-deus-acompanha-sua-escolha/
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