Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
do Padre Rodrigo Ferreira da Costa, SDN
‘A oração é um privilegiado lugar onde cultivamos a amizade com
o Senhor. Ela brota do mais profundo do nosso coração, na esperança viva que há
um ‘Interlocutor’ que nos ama e
conhece todo o nosso ser. ‘A oração
consiste na comunhão continuada com Deus, com quem se está sempre em diálogo, a quem se escuta em cada
instante do dia e a quem se procura responder com a mais total transparência e
desejo de ser obediente. Existem momentos específicos, ao longo do dia, para se
entregar à oração. Entretanto, ao se dizer o ‘amém’ final, a vida de oração não
fica em suspenso até o próximo momento, em que se deixará tudo para ficar a sós
com Deus. Antes, ela continua e, em determinadas circunstâncias, no auge da
ação, poderá acontecer de forma até mais intensa e comprometedora’
(Jaldemir Vitório).
Jesus foi um homem orante. Ele estava sempre em diálogo com o
Pai. Nos momentos decisivos de sua vida e de sua missão, sempre O encontramos
em oração ao Pai. Ele, porém, não se preocupou em ensinar longas orações
aos seus discípulos. Para Ele, a oração mais eficaz é aquela feita na
intimidade do coração, numa experiência de total gratuidade, num diálogo
amoroso e filial com o Pai, sem a necessidade de repetir longas fórmulas
somente para ser visto pelos outros. ‘Quando
fores rezar, entre no teu quarto, (no
teu interior, no mais profundo do seu ser, onde somente Deus habita),
fecha a porta (entrega sua vida nas
mãos de Deus, coloque Deus no centro da sua oração, dê espaço para que Deus
possa ser Deus na sua vida) e reza a teu Pai em segredo. E teu Pai, que
vê o escondido, te pagará’ (Mt 6, 6). Não que Jesus quisesse uma
espiritualidade intimista, desligada da vida, mas, para Ele, as palavras que
saem dos nossos lábios devem estar em sintonia com o nosso coração e a nossa
vida, numa misteriosa correspondência entre as profundezas do coração e as
alturas do céu.
Os discípulos de Jesus observavam o seu jeito de falar com o Pai
e, certamente, percebiam algo novo em sua oração, por isso pedem a Jesus que os
ensine a orar (cf. Lc 11,1). Não que eles não soubessem as orações judaicas. Os
salmos, por exemplo, eram a oração comum dos judeus. Mas eles queriam aprender
dos lábios do Mestre esse jeito novo de falar com Deus. Então Jesus, partindo
da sua própria experiência de oração, ensina os seus discípulos a falarem com
Deus-Pai na liberdade de filhos e na responsabilidade de irmãos.
A oração do Pai-Nosso é o resumo de todo o Evangelho e o modelo
por excelência de toda oração cristã. Enquanto filhos no Filho, pelo batismo,
podemos nos dirigir a Deus como Pai, e, sendo Pai, é também Senhor de nossas
vidas. Por isso, o nosso maior desejo deve ser pela vinda do Reino e que a
vontade de Deus, que é vida plena para todos, se realize no mundo. Essa
perspectiva da vinda do Reino de Deus une as duas partes da oração ensinada por
Jesus. Pois sendo todos filhos de Deus-Pai, somos chamados a viver a
fraternidade de irmãos (cf. Mt 23,8), repartindo o pão entre todos e vivendo
relações de perdão e misericórdia para com o nosso próximo. Pois esquecer
o outro ou fazer-se indiferente ao rosto que fala é ‘aprisionar a glória de Deus’
(cf. Rm 1, 18-20). Como afirma Dietrich Bonhoeffer, ‘a minha fome é uma questão biológica, a fome do outro é uma questão
teológica. É um apelo de Deus, tenho que encontrar Deus saciando a fome do
outro’.
Os discípulos pedem a Jesus que os ensine a orar, mas o
Pai-Nosso é mais do que uma oração, é, na verdade, o modo de viver e agir como
seguidores de Jesus. Como nos recorda um antigo adágio da Igreja ‘lex
orandi, lex credendi e a lex agendi’, isto é, agimos conforme oramos e
cremos. Quando rezamos mal, nossa fé e nossa ação no mundo também ficam
fragilizadas. Por isso precisamos pedir sempre ao Senhor que nos ensine a orar.
Porque, com o individualismo que invadiu as igrejas, nossas orações se
transformaram num intimismo egoísta, perdendo a centralidade do Pai e do seu
Reino. Nossa oração parece ter deixado de ser uma busca pela realização da
vontade de Deus para que Ele faça a nossa vontade. Ao invés de perguntarmo s: ‘Senhor, o que Tu queres que eu te faça?’,
nós pedimos : ‘Senhor, o que Tu podes
fazer por mim?’ Com isso, a nossa oração deixou ser para nós norma
da fé e do agir no mundo, transformando-se num
devocionismo vazio e descomprometido.
Faz-se necessário voltarmos a aprender dos lábios de Jesus como
nos dirigir a Deus, a fim de que a nossa oração seja sempre mais esse encontro
amoroso e gratuito com o Pai, e, estando na presença de Deus na oração, abramos
nossos olhos para perceber o sofrimento e a dor dos nossos irmãos e irmãs. Pois
‘seremos tanto mais filhos do Pai quanto
mais formos irmãos dos nossos irmãos, dividindo e repartindo com eles o nosso
pão e perdoando-lhes as ofensas’ (Antônio Batista Vieira).
Que o Pai nosso que estás no céu nos livre da tentação de uma
oração descomprometida com a vida dos pobres e dos sofredores e nos ajude a
viver na comunhão com Deus e com os irmãos, repartindo o pão de cada dia e
perdoando-nos uns aos outros assim como somos perdoados pelo nosso Pai
misericordioso.’
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