Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘A revista do Vaticano para o público feminino, a Women Church
World, expôs, na sua edição de Março, a forma servil como são tratadas algumas
freiras pelos cardeais e bispos da Igreja Católica, para quem trabalham e
cozinham a troco de quase nada.
O artigo central da revista publicada pelo Osservatore Romano,
intitulado ‘O trabalho (quase) gratuito
das freiras’, é assinado pela jornalista francesa Marie-Lucile Kubacki, a
correspondente em Roma da revista La Vie, do grupo Le Monde. A editora da
revista é Lucetta Scaraffia, professora de História da Universidade La
Sapienza, em Roma. ‘Até agora ninguém
teve a coragem de denunciar estas coisas’ publicamente, disse à AP.
Scaraffia contou à AP que o Papa Francisco lhe disse que lê e gosta da revista.
‘Algumas deles servem nas
casas de bispos e cardeais, outras trabalham nas cozinhas das instituições
católicas ou ensinam. Há quem, para servir os homens da Igreja, se levante de
manhã para fazer o pequeno-almoço e só se deite quando estiver tudo limpo, a
roupa lavada e engomada’, diz a irmã Maria, nome fictício. Acrescentou que
as freiras servem o clero mas ‘raramente
são convidadas a sentar-se nas mesas que servem’.
A falta de salário digno para o trabalho desempenhado não é
novidade na Igreja Católica, mas a Women Church World foi pioneira na forma
como o abordou. No artigo principal, expõe-se a falta de contratos das mulheres
que vão para os prelados. Quando adoecem, as trabalhadoras são enviadas de novo
para a congregação e rapidamente substituídas por outras.
A editora diz querer dar voz a estas irmãs, mas conta-se entre
as exploradas da Igreja Católica : afinal de contas, os redatores e os editores
da revista trabalham gratuitamente. A revista foi fundada com dinheiro dos
correios italianos e paga aos seus colaboradores pelos artigos, mas sai todos
os meses devido ao esforço gratuito dos editores.
Há freiras com intelectos brilhantes que prosseguem estudos, mas
não podem pô-los em prática, uma vez que o avanço em termos pessoais é
desencorajado, explicou a irmã Paule (nome fictício) à revista. ‘Por detrás está sempre a ideia infeliz de
que as mulheres valem menos do que os homens, e de que os padres são tudo na
igreja e de que as irmãs não são nada’, acrescentou.
A razão para o silêncio de muitas freiras é o fato de virem de
longe, dos continentes africano, asiático ou sul-americano, fazerem os seus
estudos religiosos no Vaticano pagos pelas congregações. Sentem-se em dívida e
por isso não se querem queixar do trabalho que desempenham : ‘Elas sentem-se em dívida, amarradas, e por
isso mantém-se caladas’, disse a irmã Maria, que também foi de África para
Roma para prosseguir os estudos.
A revista tem feito opções editoriais que não agradaram a todos
na Igreja Católica. O número de Março de 2016, sobre o tema Mulheres que
Pregam, tinha um artigo em que se defendia que as freiras deviam poder dar
homilias. A autora do artigo teve de se defender publicamente e dizer que não
queria sugerir uma mudança nem na doutrina nem na prática. O número de Dezembro
de 2017 explorou o tema O Poder Simbólico do Corpo Feminino e a violação
enquanto forma de tortura.
A edição deste mês explora temas como as diferenças salariais de
gênero e a falta de mulheres em posições de chefia. O movimento sul-americano
Ni Una Menos, contra o femicídio e a violência contra as mulheres, também teve
espaço nesta edição da Women Church World.
O Papa Francisco não é alheio a estes temas – na visita ao Peru
denunciou o femicídio e a violência contra as mulheres, comum na América do
Sul, onde nasceu. Também tem pedido, frequentemente, que se dignifique o
trabalho feminino e o salário.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1238147/2018/03/freiras-queixam-se-do-salario-e-da-forma-como-sao-tratadas/
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