Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Cardeal Dom Orani João Tempesta, O.
Cist.,
Arcebispo Metropolitano de
São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
‘Uma breve carta dirigida aos bispos, aprovada pelo Papa
Francisco aos 16 de fevereiro de 2018, oriunda da Sessão Plenária da
Congregação da Doutrina da Fé no dia 24 de janeiro de 2018, e, assinada na Sede
da Congregação aos 22 de fevereiro de 2018, publicada nesta quinta-feira, dia
1º de março de 2018, contendo sete laudas que subdividida em seis tópicos, com
15 parágrafos numéricos, incluindo a Introdução; O impacto das transformações
culturais de hoje sobre o significado da salvação cristã; O desejo humano de
salvação; Cristo, Salvador e Salvação; a salvação na Igreja, corpo de Cristo e
concluindo com o Comunicar a fé, esperando o Salvador.
A Carta retoma o início da Dei Verbum ratificando
o caminho da salvação em Cristo que deve ser sempre aprofundado e que na
realidade hodierna torna-se de difícil compreensão diante das transformações
culturais.
No segundo tópico, com três parágrafos, a realidade se apresenta
por meio do «individualismo centrado no
sujeito autônomo», cuja a figura de Cristo corresponde a um modelo para
prática da generosidade em gestos e palavras, mas não da transformação da
condição humana, configurada na Trindade. Também apresenta uma salvação apenas
interior e não de relações com os demais e com o mundo criado. Assim a
Encarnação do Verbo se torna algo cada vez menos compreensível, distanciando-se
da família humana e da história.
No Magistério Ordinário do Papa Francisco menciona duas
tendências ou desvios, semelhando-se, em linhas gerais comuns, a heresias
antigas : pelagianismo e gnosticismo . Espelhando um neo-pelagianismo o homem
atual, autônomo, salva-se sozinho, independente de Deus e dos demais, tudo
depende de suas forças individuais e cegando «novidade do Espírito de Deus». Já o neo-gnosticismo oferece uma
salvação subjetiva, «com o intelecto para
além da carne de Jesus rumo aos mistérios da divindade desconhecida».
Libertando, pois, a pessoa do corpo e do mundo material. Esses
erros antigos têm algo de familiar com os atuais movimentos, apesar das
diferenças do contexto histórico. As duas tendências — o individualismo
neo-pelagiano e o desprezo neo-gnóstico do corpo — desconfiguram a fé em Cristo.
A salvação é a nossa união com Cristo Encarnado, Irmão Maior, que viveu,
sofreu, morreu e ressuscitou, proporcionando nova ordem relacional com o Pai e
entre os homens e mulheres, levando-nos ao dom de seu Espírito.
O homem, na ânsia de saber quem é, pois existe, busca a
felicidade utilizando-se de meios diversos para alcança-la. No entanto, a
felicidade se mescla com a esperança da saúde física, com o bem-estar
financeiro, de uma paz interior e convivência pacífica com o outro. A par
disso, o desejo de salvação torna-se um compromisso frente um bem maior,
marcado pela resistência e superação da dor, levando-nos a lutar pelo bem, defendendo-nos
do mal.
«A vocação última de todos
os homens é realmente uma só, a divina». A plenitude da Salvação é o
rejeitar a autossuficiência humana, pensando que coisas e bens materiais lhe
proporcionaram a autorrealização. A revelação é algo mais, pois «Se a redenção, ao contrário, devesse ser
julgada ou medida pela necessidade existencial dos seres humanos, como
poderíamos evitar a suspeita de termos simplesmente criado um Deus-Redentor à
imagem de nossas próprias necessidades?».
O mundo todo é bom, biblicamente falando! O mal nasce no coração
do homem que se fecha em si mesmo, separando-se da fonte de comunhão e vida que
é Deus. A fé nos leva a uma salvação do homem todo, da pessoa humana inteira
que é chamada a ter vida e vida plena.
Deus nunca desiste do homem e na história da salvação vemos
desde Adão esta fidelidade e o insistir terno de uma aliança que nós rompemos
constantemente. O homem cai, Deus vem e o ajuda a levantar uma, duas, três e
quantas vezes, for necessário. Deus não desistindo de nós, na plenitude dos
tempos, nos envia Jesus que anuncia o Reino e ao acolhê-l’O, acolhemos a
Salvação.
Tradicionalmente a Salvação sempre se dá por iniciativa e dom de
Deus, ou seja, de forma descendente. Com Jesus, dar-se-á numa dinâmica inversa,
de forma ascendente. O agir não será de uma maneira individualista, mas sempre
em comunhão, uma vez que agir humano e agir divino se coadunam para um único
fim : a salvação. Assemelhando-nos a Cristo, impulsionados pelo Espírito Santo,
realizamos as obras do Criador.
Em Jesus Encarnado, O Filho nos faz filhos e irmãos uns dos
outros, tornando-nos uma só família humana numa nova relação com Deus.
Porquanto, Jesus Encarnado possibilita a mediação concreta da salvação de Deus
com os filhos de Adão.
Enfim, nem reducionismo individualista da tendência pelagiana e
nem reducionismo neo-gnóstico que promete uma libertação interior, respondem a
salvação, uma vez que Jesus é Salvador e Salvação, e «em certo modo, o princípio de toda graça segundo a humanidade».
Igreja é o local da salvação trazida por Jesus. A Igreja é
mediadora da salvação, «sacramento
universal de salvação», garantindo que a realização se dá na comunhão de
pessoas em comunhão com a Trindade. Através do Batismo entramos na vereda da
Salvação. Podendo crescer sempre mais com a Eucaristia, fonte e cume do amor. E
mesmo caindo podemos ser regenerados e reconciliados com o Pai e os irmãos, por
meio do sacramento da Penitência.
Esta economia soteriológica dos sacramentos compreende o corpo
humano, que longe de ser peso, torna-se linguagem sacramental. Na encanação de
Jesus e no mistério pascal perpetua-se a obra de misericórdia do Pai para com
os filhos, compadecendo dos sofrimentos destes.
«A salvação integral, da
alma e do corpo, é o destino final ao qual Deus chama todos os homens».
Conscientes da vida plena somos impulsionados e nos comprometemos a proclamar a
todos com alegria e luz a Boa-Nova : o Evangelho! Para tanto é mister uma
relação dialógica, construtiva com as demais religiões, pois Deus opera em
todos, de boa vontade, mesmo que veladamente. O último inimigo a ser vencido é
a morte. Com as virtudes teologais – fé, esperança e caridade – e o exemplo de
Maria e das Testemunhas cremos que somos cidadãos dos céus e gozaremos da
glória eterna.
Vamos aprofundar o texto, deixar que ele ilumine a nossa
realidade de hoje e consequentemente colocar em prática esta importante carta
da Congregação para a Doutrina da Fé e que, mesmo diante das mudanças sociais,
a salvação seja sempre anunciada e oferecida para que muitas pessoas continuem
enamoradas pelo Divino Redentor.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1237118/2018/03/dom-orani-joao-tempesta-comenta-a-carta-placuit-deo/
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