Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Fabrício Veliq,
protestante,
é mestre e doutorando em
teologia
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando
em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado
em matemática e graduando em filosofia pela UFMG
‘Diante do cenário em que vivemos, são diversas as teologias que
se dizem cristãs capazes de surgir sem que tenham o menor compromisso com as
Escrituras, ou com as tradições que vieram antes delas. Uma dessas teologias é
a que costumo chamar da teologia do medo. Essa, como o próprio nome deixa bem
claro, tem o medo como seu lugar privilegiado de discussão e fundamentação,
sendo, portanto, também o lugar para onde todas suas considerações convergem.
Pode parecer estranho pensar em uma teologia que tem o medo como
base, contudo, se olharmos atentamente, os discursos trazidos por ela são
conhecidos e até mesmo fomentados por diversos cristãos e cristãs dentro de
suas igrejas. Quem nunca ouviu um/a pastor/a ou um padre dizendo a alguém, ou
até a nós mesmos que se fizéssemos determinadas coisas o Inferno seria nosso
destino, na expectativa de que esse alguém ou nós parássemos de fazer o que
ele/ela considerava errado? Quem nunca viu alguém ou até mesmo se colocou como
aquele/a que opta por uma pregação que afirmava que os outros irão
experimentar a ira de Deus se determinada coisa for dita, ou ainda se algum
comportamento não mudar? Mais ainda, quem nunca deixou de fazer alguma coisa
porque pensava que Deus, que a tudo vê, estaria de olho e contabilizando o bem
e o mal que se faz aqui na Terra?
Esses pequenos exemplos mostram que não é tão difícil
sustentarmos uma teologia do medo. Não seria de espantar se em alguma pesquisa
fosse constatado que a maioria cristã pensa em um Deus pronto para punir, mais
do que um Deus pronto para amar e perdoar.
Claramente, uma teologia do medo tem grande poder e pode ser
muito útil para líderes que querem manter os fiéis sob sua tutela. O caminho é
muito simples : uma vez que esse/a líder é visto/a como porta-voz de Deus,
então é muito fácil convencer às pessoas de que tudo que ele/a diz deve ser
considerado como sendo de origem divina. Ao se alcançar isso, basta adicionar
que desobedecê-lo/a é a mesma coisa que desobedecer a Deus e se tem claramente
como que o discurso dessa teologia do medo pode ser usado para levar pessoas a
não pensarem nas estruturas de dominação disfarçadas de cristianismo que
permeiam diversas igrejas pelo mundo.
A teologia do medo parte do princípio de que Deus deve ser
temido. Por esse motivo, faz-se necessário que Ele seja visto como aquele que
possui a balança da lei em sua mão e mede os atos com precisão milimétrica,
tendo prazer na condenação dos infiéis, uma vez que, por ser santo, não pode
ver a injustiça. Ainda que possa causar espanto e não ter nada a ver com a
proposta da Jesus que chamava Deus de Pai, basta observar os discursos
moralizantes e das ‘pessoas de bem’
da atualidade para perceber como que essa imagem de Deus se mostra mais real do
que nunca. Porém, é importante termos claro que quando a moralidade toma o
lugar do amor, então já não é mais o Deus Pai que estamos seguindo.
O adágio ‘diga-me como é o
seu Deus e eu te direi a pessoa que você é’ se mostra, então, muito
pertinente. Se virmos Deus como o juiz terrível que tem ânsia de condenar a todos
e todas os/as devassos/as, prostitutos/as, desocupados/as, não cristãos etc
para instaurar a comunidade das ‘pessoas
de bem’ e santas na Terra, então a teologia do medo é uma boa candidata
para ancorar nossa pregação, nossas relações e nossas obras no mundo.
Se, contudo, virmos Deus como o Pai de Jesus Cristo, que
ama a todos e todas, que faz chover sobre maus e bons, que se coloca ao lado
dos pobres, marginalizados/as, prostitutas e miseráveis, concedendo a eles
primazia no Reino que há de vir, então não é difícil de perceber que no lugar
de uma teologia do medo entrará em cena uma teologia do amor.’
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