Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Fabrício Veliq,
protestante,
é mestre e doutorando em
teologia
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando
em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado
em matemática e graduando em filosofia pela UFMG
‘A teologia do medo, da qual falamos na semana passada, tem diversas consequências
para aqueles e aquelas que a ela se submetem. Uma delas é o medo do diálogo, ou
seja, o de ouvir o que pode ser diferente daquilo que se está acostumado. Uma
vez que a teologia do medo sempre vem com um corpo de doutrinas incontestáveis
e que devem ser obedecidas de qualquer maneira, tudo que soa diferente deve,
então, ser rechaçado e deixado de lado, no intuito de manter a tão sonhada santidade.
Um desses diálogos
tabus acontece com a questão das outras religiões. Uma teologia que se baseia
no medo, na maioria das vezes, é uma teologia que foge da interpelação de
outras matrizes religiosas que não se coadunam com o pensamento cristão. Até
mesmo o ecumenismo é visto com desconfiança, por acreditar que ele pode
desvirtuar o/a fiel da sã doutrina. Por causa disso, não dificilmente, ainda se
vê rixas entre católicos e protestantes mesmo depois dos diversos documentos,
dos dois lados, incluindo o Vaticano II, pregarem a ecumenicidade nessas
relações.
Se até no diálogo
ecumênico, ou seja, aquele que acontece entre as confissões cristãs, há
ressalvas por parte da teologia do medo, imagine se não o haverá ao se tratar
com religiões não cristãs. Diante dessas, geralmente, a postura se dá, de
maneira ‘tolerante’ no discurso e ‘proselitista’, na prática. (Claramente,
aqui, também poderíamos incluir aqueles e aquelas que são intolerantes e que
possuem uma postura totalmente belicosa, não aceitando nada que seja diferente
àquilo que se acredita. Como esses discursos são facilmente reconhecidos, falar
sobre os discursos fechados disfarçados de abertos se torna mais interessante).
Tolerante no
discurso porque, diante de um mundo globalizado, a fala de que se devem
respeitar todas as religiões é bastante difundida, sendo até considerado ‘feio’ não o fazer. Dessa forma, ainda
que as outras religiões sejam vistas como ‘erradas’
por grande parte dos membros de uma teologia do medo, na hora de falar sobre
elas todos e todas dizem que as respeitam e que elas devem ser consideradas sob
o ponto de vista ético e moral, mesmo que nelas não se encontrem nenhum tipo de
manifestação de Deus, sendo somente filosofias que não alcançaram um
conhecimento verdadeiro a respeito Dele.
Com isso em mente,
entra a segunda postura, ou seja, a proselitista. Essa vem porque se considera
que todas as outras religiões não cristãs e, em alguns casos, até mesmo algumas
cristãs, não são verdadeiras e não possuem a salvação. Por esses motivos, há os
que as consideram dentro de um vasto espectro que vai desde ser uma ‘interpretação errônea a respeito de Deus’
até ao de serem ‘enviadas pelo diabo para
confundir as pessoas’. Nesse cenário, é tarefa daquele/a que foi
alcançado/a tentar converter os membros dessas outras religiões para a única
religião verdadeira e perfeita que, logicamente, é aquela a qual o/a
proselitista pertence. No caso específico de que estamos
falando, o Cristianismo.
Essas posturas,
claramente, evitam uma aproximação dialogal com os/as que pensam diferente,
fazendo com que os/as adeptos/as de uma teologia do medo vivam sempre em suas
redomas de pensamento, o que, sem dúvida, se mostra como prato cheio para
charlatães da fé que, a cada dia, crescem nos diversos meios religiosos.
Um pequeno passo
para se sair de uma teologia do medo, então, é se abrir para o diálogo com os
pensamentos que são divergentes, sejam numa postura ecumênica, seja numa
postura inter-religiosa. Ao fazer isso, é possível se admirar com as obras realizadas
por Deus nas outras tradições e religiões e engrossar a voz daqueles que, ainda
hoje, cantam o hino paulino : ‘Oh
profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus’.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1240167/2018/03/tolerancia-no-discurso-e-proselitismo-na-pratica-consequencias-de-uma-teologia-do-medo/
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