Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Ir. João Antônio Johas,
‘São Paulo tinha
um discípulo, Timóteo, que apesar de ser jovem, foi colocado como encarregado
de várias situações delicadas, como pregar para pessoas que tinham o coração
duro, corrigir erros e proteger as pessoas de falsos mestres. Como foi que
Timóteo, tão jovem, já se encontrava maduro o suficiente para tais tarefas que
o apóstolo lhe encomendava? A própria escritura parece nos sugerir : ‘alimentado com as palavras da fé e da boa
doutrina que tão diligentemente tens seguido’ (1Tm 4,6). Essas palavras que
se fazem vida. De onde vieram? Talvez aqui encontremos uma resposta
para o problema de porque as crianças de hoje parecem ainda menos interessadas
em rezar que as de outras gerações.
No começo da
segunda carta que São Paulo dirige ao seu discípulo, o apóstolo lembra da fé de
Timóteo e lembra que essa fé ‘se
encontrava já na tua avó Lóide e na tua mãe Eunice’ (2Tm 1,5). Não estaria
aqui o motivo do esmorecimento da fé de muitos? Seja porque os
antepassados já não possuam essa fé viva ou porque os jovens já não descobrem
nos mais velhos nenhum tipo de valor, de sabedoria de vida, o fato é que a fé,
que se transmite de geração em geração, pode se perder nesse salto de gerações.
Um elemento que
pode contribuir para essa ‘falta de
comunicação geracional’ é a avassaladora velocidade com que a tecnologia
entra em nossas casas e toma conda das nossas vidas. Uma criança já está tão
familiarizada com todos os apetrechos tecnológicos que muitas vezes seus avós e
os próprios pais não conseguem acompanhar. Não se trata de dizer que a
tecnologia é boa ou má, mas de evidenciar que muitas vezes ela toma uma
dimensão em nossas famílias que não controlamos. Não se sabe o acesso
que as crianças têm a conteúdos na palma da mão. E todo esse fenômeno tem uma
força, que pode facilmente dificultar as relações pessoas reais (Porque
virtualmente todos se ‘encontram’). E
a fé, no meio de tudo isso, passa a um plano muito distante, mesmo que pelo
WhatsApp recebamos várias mensagens bonitas que falem de Deus.
A fé é uma
resposta que se dá a um anúncio de uma Palavra que vem de Deus. Essa Palavra é
Jesus Cristo encarnado. Presente na Eucaristia e na vida concreta da
vó, da mãe, do pai. Essa fé só se transmite se esse anúncio, uma vez recebido,
for passado adiante. E isso parece exigir o contato físico, como diz São Paulo
novamente, mas agora aos romanos : ‘a
fé vem pelo ouvir as boas novas’ (Rom 10,17). A Palavra de Deus se fez
carne, pessoa, e anunciou essas boas novas. Hoje em dia podemos escutar
a Bíblia pelo celular, mas não parece ser a mesma coisa. Se essa Palavra não
está encarnada, como estava na mãe e na vó de Timóteo, ela não pode dar frutos
porque ‘não caiu na terra e morreu’.
Todos esses aparatos tecnológicos podem ajudar para que essa semente da palavra
que foi plantada (realmente, fisicamente, pessoalmente) cresça, mas não pode
substituir o contato real com outros ‘Cristos
encarnados’ em nossos parentes e pessoas próximas.
Não tratamos
especificamente das crianças, mas com o que foi dito parece evidente que se
as crianças não sabem mais rezar direito é porque todo esse processo de
encarnação de Cristo, anúncio da boa nova, escuta e fé tem tido seus problemas
atualmente por conta da virtualização do mundo real. Assim, nos colocamos ao
lado do Papa Francisco que costuma pedir, sempre que tem a oportunidade, que os
jovens se sentem aos pés de seus avós, que os escutem, que descubram a riqueza
de suas vidas e os valores perenes que eles encarnam. Isso tem muito
mais valor do que qualquer texto que se possa ler ou curso de formação na fé que
se possa fazer.’
Fonte :
Nenhum comentário:
Postar um comentário