domingo, 15 de janeiro de 2017

Artesãos da paz

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Bernardino Frutuoso,
Jornalista


‘A dramática guerra da Síria, com constante cobertura midiática, já faz parte do nosso quotidiano. O país sofre dilúvios contínuos de fogo como resultado dos bombardeamentos. A cifra dos mortos – sem ser exata – supera os 312 mil, os deslocamentos são em massa, os refugiados somam quase cinco milhões. A indiferença globalizada, o cinismo das superpotências, os interesses econômicos, o terrorismo, o tráfico e o negócio de armas – em 2016 as despesas militares no mundo aumentaram e alcançaram a cifra de 1570 mil milhões de dólares –, são algumas das razões que favorecem os conflitos armados no planeta : Sudão do Sul, República Centro-Africana, Iémen, Iraque... Neste contexto, a reflexão de Francisco – A não-violência : estilo de uma política para a Paz –, que o papa escreveu para o 50.º Dia Mundial da Paz, a celebrar a 1 de Janeiro, ecoa como voz esperançada e apresenta-se como um roteiro na construção da paz.

O mundo contemporâneo, sublinha o sociólogo Zygmunt Bauman, «não vive uma guerra orgânica, mas fragmentada. Guerras de interesses, por dinheiro, pelos recursos, para governar sobre as nações». Na mesma linha, o Santo Padre tem denunciado com veemência que vivemos uma «terrível guerra mundial aos bocados» : «guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental». O papa reafirma que «a violência não é o remédio para o nosso mundo dilacerado», pois «responder à violência com a violência leva, na melhor das hipóteses, a migrações forçadas e a sofrimentos atrozes». Com uma saudável utopia evangélica, o pontífice lança um apelo a favor do desarmamento, a proliferação e a abolição das armas nucleares, sublinhando que «há que inverter a lógica do equilíbrio do terror, não é ele que vai propor a verdadeira paz». Os recursos usados na corrida armamentista poderiam ser despendidos para satisfazer necessidades e o desenvolvimento da população mundial.

O papa propõe – com base na práxis e na proposta de Jesus no Sermão da Montanha – a revolução da não-violência como o caminho que permite resolver as atuais crises político-militares e, simultaneamente, evitar que outras situações degenerem em conflitos armados, ao fazer primar a diplomacia sobre o fragor das armas e ao reconhecer a força do direito em vez do direito da força. Só com a negociação se construirá «a paz sem vencedor e sem vencidos», como escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen num dos seus belos poemas.

A não-violência cultiva-se no coração de cada ser humano e floresce nas opções e ações quotidianas – pessoais, familiares e políticas – em favor da paz. Como meta a alcançar, assume-se como o «estilo característico das nossas decisões, dos nossos relacionamentos, das nossas ações, da política em todas as suas formas». Alicerçada na ética da fraternidade e da coexistência pacífica, «praticada com decisão e coerência, produz resultados impressionantes», como o testemunharam, por exemplo, Mahatma Gandhi na libertação da Índia, Luther King na luta contra a discriminação racial nos EUA e Leymah Gbowee nos protestos contra a guerra na Libéria.

A não-violência ativa e criativa constitui-se, para todas as pessoas de boa vontade, num modo de ser e agir; faz-nos artesãos da cultura da paz, esse novo paradigma civilizacional em que se coloca a paz como princípio regente de todas as relações humanas e sociais.’


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