*Artigo
de Bernardino Frutuoso,
Jornalista
‘A dramática
guerra da Síria, com constante cobertura midiática, já faz parte do nosso
quotidiano. O país sofre dilúvios contínuos de fogo como resultado dos
bombardeamentos. A cifra dos mortos – sem ser exata – supera os 312 mil, os
deslocamentos são em massa, os refugiados somam quase cinco milhões. A
indiferença globalizada, o cinismo das superpotências, os interesses econômicos,
o terrorismo, o tráfico e o negócio de armas – em 2016 as despesas militares no
mundo aumentaram e alcançaram a cifra de 1570 mil milhões de dólares –, são
algumas das razões que favorecem os conflitos armados no planeta : Sudão do
Sul, República Centro-Africana, Iémen, Iraque... Neste contexto, a reflexão de
Francisco – A não-violência : estilo de uma política para a Paz –, que o papa
escreveu para o 50.º Dia Mundial da Paz, a celebrar a 1 de Janeiro, ecoa como
voz esperançada e apresenta-se como um roteiro na construção da paz.
O mundo
contemporâneo, sublinha o sociólogo Zygmunt Bauman, «não vive uma guerra orgânica, mas fragmentada. Guerras de interesses,
por dinheiro, pelos recursos, para governar sobre as nações». Na mesma
linha, o Santo Padre tem denunciado com veemência que vivemos uma «terrível guerra mundial aos bocados» : «guerras em diferentes países e continentes;
terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos
pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental». O
papa reafirma que «a violência não é o
remédio para o nosso mundo dilacerado», pois «responder à violência com a violência leva, na melhor das hipóteses, a
migrações forçadas e a sofrimentos atrozes». Com uma saudável utopia
evangélica, o pontífice lança um apelo a favor do desarmamento, a proliferação
e a abolição das armas nucleares, sublinhando que «há que inverter a lógica do equilíbrio do terror, não é ele que vai
propor a verdadeira paz». Os recursos usados na corrida armamentista
poderiam ser despendidos para satisfazer necessidades e o desenvolvimento da
população mundial.
O papa propõe –
com base na práxis e na proposta de Jesus no Sermão da Montanha – a revolução
da não-violência como o caminho que permite resolver as atuais crises
político-militares e, simultaneamente, evitar que outras situações degenerem em
conflitos armados, ao fazer primar a diplomacia sobre o fragor das armas e ao
reconhecer a força do direito em vez do direito da força. Só com a negociação
se construirá «a paz sem vencedor e sem
vencidos», como escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen num dos seus
belos poemas.
A não-violência
cultiva-se no coração de cada ser humano e floresce nas opções e ações
quotidianas – pessoais, familiares e políticas – em favor da paz. Como meta a
alcançar, assume-se como o «estilo
característico das nossas decisões, dos nossos relacionamentos, das nossas ações,
da política em todas as suas formas». Alicerçada na ética da fraternidade e
da coexistência pacífica, «praticada com
decisão e coerência, produz resultados impressionantes», como o
testemunharam, por exemplo, Mahatma Gandhi na libertação da Índia, Luther King
na luta contra a discriminação racial nos EUA e Leymah Gbowee nos protestos
contra a guerra na Libéria.
A não-violência ativa
e criativa constitui-se, para todas as pessoas de boa vontade, num modo de ser
e agir; faz-nos artesãos da cultura da paz, esse novo paradigma civilizacional
em que se coloca a paz como princípio regente de todas as relações humanas e
sociais.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EulFyplEFZVkrFUEdV
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