*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘O desenvolvimento
integral de uma sociedade depende, significativamente, de sua capacidade para
valorizar e cuidar do seu patrimônio, que inclui personagens e acontecimentos
da sua história. São eles que tecem a cultura - alicerce do progresso, do
desenvolvimento, do sentido de respeito. Por isso, os mineiros têm que
aproveitar a ‘oportunidade de ouro’
que marca este novo ano e, assim, impulsionar crescimentos, consolidar a força
do Estado de Minas Gerais, nos mais diferentes cenários. Esse momento especial
é a celebração do Ano Jubilar - os 250 anos do povo peregrinando na fé ao
Santuário Nossa Senhora da Piedade - a Padroeira de Minas Gerais.
A vivência deste
tempo é uma convocação que remete todos os mineiros à Serra da Piedade, tesouro
de inestimável valor ambiental e ecológico. Ali está um milagre da natureza,
obra do Criador, com riquíssima fauna que é referência para pesquisas
científicas de diferentes centros acadêmicos. Esse singular jardim botânico
congrega, harmoniosamente, a Mata Atlântica, o Cerrado e os Campos Rupestres.
Um território com mais de um milhão de metros quadrados, assentado sobre uma
rocha de ferro, minas de ouro e aquífero exuberante, patrimônio que jamais será
presa do desarvoro do lucro e da ambição desmedida. Este Ano Jubilar é,
justamente, tempo propício para se firmar - a partir de legislações, gestos
concretos de solidariedade e atitudes cidadãs - conforme se reza na oração de
consagração a Nossa Senhora da Piedade - Padroeira de Minas Gerais: esse
patrimônio é herança nossa que vamos sempre preservar e defender.
A proteção desse
bem significa o rompimento com as dinâmicas que deixam ‘heranças nefastas’, verdadeiras ofensas: as graves feridas na casa
comum, os buracos e as devastações que nunca serão apagados da história em
razão dos pesos e das desolações que provocam. Por tudo isso, a defesa do
Santuário Ecológico dedicado a Nossa Senhora da Piedade é compromisso da
Igreja, mas também de todos os segmentos da sociedade, que precisam trabalhar
juntos, em cooperação, a partir dessa missão. Não há espaço nem tempo para
irracionalidades - a exemplo do desejo de se mostrar poder com a imposição de
entraves burocráticos aos projetos reconhecidamente necessários para a
preservação do meio ambiente e do patrimônio histórico. Essas obstruções, de órgãos governamentais ou
de outras instâncias, impedem a efetivação de iniciativas capazes de
impulsionar o desenvolvimento de Minas. Ações com força para amalgamar as
muitas Minas, superando dispersões regionais, para consolidar uma ‘consciência mineira’. A retomada do
crescimento e do desenvolvimento do Estado depende dessa consciência que nasce
da valorização do próprio patrimônio e da cultura. Um olhar valorativo sobre o
que se é e o que se tem.
Esse olhar permite
reconhecer também os tesouros da religiosidade, um legado de riqueza
inestimável desse estado diamante. O Ano Jubilar celebrado em 2017 exalta,
precisamente, a fé católica mineira - 250 anos de peregrinações ao Santuário da
Padroeira de Minas Gerais. O ponto de partida é conversão de Antônio da Silva
Bracarena, em 1767. Esse português veio para o Brasil com o objetivo de ganhar
dinheiro, trabalhando na construção da Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso, em
Caeté, exemplar precioso da arte barroca. Convertido, Bracarena colocou no
horizonte de sua vida - no lugar de uma busca egoísta pelo acúmulo de bens - a
espiritualidade e a devoção. Passou a viver no alto da Serra da Piedade, como
eremita e, após receber autorização da Igreja, começou a construir a Ermida da
Padroeira de Minas, ainda em 1767.
Tempos depois a
história do Santuário da Padroeira de Minas Gerais é enriquecida com um dom
alcançado graças ao trabalho do Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta,
que integrou o clero da Arquidiocese de Belo Horizonte. A partir da atuação
desse mineiro ilustre, que foi colaborador do Monsenhor Domingos Evangelista
Pinheiro - o Evangelista da Piedade -
admirável guardião desse território sagrado, um capítulo importante foi
escrito na história de Minas : o Papa São João XXIII concedeu ao Santuário
Nossa Senhora da Piedade o título de Santuário da Padroeira de Minas
Gerais. Firma-se, assim e cada vez mais,
esse território como grande centro de espiritualidade, força indispensável que
conduz a sociedade mineira rumo a avanços, a partir da fé, do compromisso com a
justiça e com o bem de todos.
O Santuário Nossa Senhora da Piedade é o
coração de Minas Gerais e este Ano Jubilar deve ser vivido sobre os trilhos da
oração e do trabalho. Nos trilhos da oração, todos são convidados a peregrinar
- em grupos, com as comunidades de fé e famílias, para viver os momentos que
reúnem celebrações e a oportunidade de se reconciliar com Deus. Momentos
propícios para deixar-se tocar pela força restauradora do silêncio da montanha
sagrada, por sua aragem que limpa o coração, fecundando-o com a densidade
espiritual da presença inspiradora de Maria, discípula exemplar. Esse Ano
Jubilar, que precisa ser vivido também nos trilhos do trabalho, é convocação
para que todos, em parceria e colaboração com os que integram a Faço Parte -
Campanha dos Devotos de Nossa Senhora da Piedade -, instâncias governamentais e
segmentos diversos, se comprometam com a realização de obras fundamentais : a
edificação da Via do Peregrino, do Museu Maria Regina Mundi, a conclusão e
restauração da Igreja Nova das Romarias, que pode tornar-se Basílica da
Padroeira de Minas.
Essas e tantas
outras iniciativas buscam fortalecer, cada vez mais, o Santuário e,
consequentemente, as batidas do Coração de Minas, que é esse território
sagrado. Peregrinar ao Santuário e
receber a graça de uma nova etapa na vida - abrindo um novo ciclo familiar,
pessoal e social, de vida cidadã e religiosa -, além de assumir a tarefa de
divulgar que Nossa Senhora da Piedade é a Padroeira de Minas Gerais. Um
compromisso de todos, ato de fé e de religiosidade, de cidadania e de apreço
pelo dom de ser do Estado de Minas Gerais.
Agora é a hora dos mineiros e de seu Santuário.’
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