*Artigo
de Padre António Rego,
Jornalista
‘Sair. Uma palavra
de ordem do Papa Francisco que não entendemos à primeira, apesar de ter sido
dita logo no início do seu pontificado : sair. Sim, para os que estão
indiferentes, surdos, desiludidos com a Igreja, alheios à fé. Para que neles
desperte a nostalgia de Deus, estejam perto ou longe da nossa porta. Mesmo os
que passam pela igreja, pelas casas mortuárias, pelo cartório a pedir o batismo
ou o casamento para si ou para um filho, ou a unção para um moribundo. Não
querem encontrar mais uma repartição de serviço que lhes forneça um horário,
uma agenda e uma tabela. Precisam de uma boa notícia de Deus, como Pai, amigo e
irmão, um afeto do olhar de Jesus que vê, escuta, perdoa, abraça. Que não veio
para condenar, mas para transbordar misericórdia para todos os que se sentem
órfãos de Deus, ou estão caídos na estrada e são socorridos com o gesto do
samaritano, ou os que, como a mulher adúltera, vêm abandonar os que a queriam
apedrejar porque chegou Jesus e não a condenou. Ou como Zaqueu, que foi visto
no sicômoro e nessa noite recebeu Jesus em sua casa. E não esquecer os muitos
milhares que vão a peregrinações, procissões e romarias, os três milhões que
por ano visitam os Jerónimos, mas não captam a força espiritual e os símbolos
que esses elementos comportam. É um mundo muitas vezes arredado da Igreja e dos
seus rituais porque não sabe rezar com eles nem percebe o que é a Igreja.
Poderíamos enumerar uma longa lista de periferias que supera os que estão no «centro». Muitos têm «a sua fé», andaram na catequese e
receberam sacramentos, mas partiram para outro planeta que nem eles próprios
sabem definir. Todos procuram algo e a Igreja a todos tem de procurar e não
apenas aguardar. É a sua missão.
Missão. E os que a
milhares de quilômetros vivem a miséria humana e espiritual, sem pão para o
corpo ou para a alma, sem ter quem lhes fale da vida, da família, da escola, da
saúde, da sua dignidade, da fé cristã, da comunidade celebrante, da
responsabilidade de construir a cidade – quem os procura, escuta e responde?
Quem lhes fala de Jesus Cristo?
A Igreja está
neste momento complexo da História a sair ou a encolher-se no seu conforto de
ar condicionado, sem asas nem coragem para atravessar mares e fazer aquilo que
tão bem soube fazer em tantos anos e lugares de missão?
É de perguntar :
onde estão os jovens? Que fazem do seu sonho, da sua coragem, da aventura, da
vontade de encontro e até daquele desejo profundo de celebrar e partilhar a fé
com outras culturas e religiões para contar a originalidade de Jesus Cristo?
Como se encontra esse vulcão de generosidade que há em cada jovem : extinto,
sufocado, coberto pelas cinzas? Fecharam-se em casa a acariciar, noite e dia,
os seus smartphones, de portas trancadas, sem tentarem uma única vez sair ao
encontro dos outros, sem rede, na periferia?
Sair. Palavra com
significados sempre novos. Mas o partir, gesto decisivo do missionário, merece
cada vez mais um amor transferido para o outro lado da fronteira. Em missão. Lá
longe ou rente à nossa porta.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EulFyEVEZVmnIVruqz
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