*Artigo
de Aldo Reis,
palestrante, empresário e escritor.
‘Sempre que
buscamos algo sobre o humano em direção (relação) ao sagrado, nos deparamos com
conceitos já estabelecidos e sabemos qual será a conclusão da reflexão, antes
mesmo de terminá-la. Contudo, esse não é o nosso intuito.
O homem, como ser
inquieto e inacabado, está em constante procura por aquilo que não possui.
Tanto na dimensão material, humana, afetiva e profissional, quanto na espiritual.
Essa busca
incessante está para alguns pensadores como uma experiência transcendental.
Trata-se de uma busca orientada pelas experiências obtidas por meio do fenômeno
religioso e suas práticas tradicionais. Entretanto, a sociedade contemporânea
tem provocado uma nova configuração no comportamento humano; um novo modo de se
relacionar e buscar aquilo que ‘lhe falta’;
uma nova forma de abrir-se à experiência transcendental, diferentemente
daquelas ‘velhas’ certezas protegidas
pelas instituições e asseguradas pelo modo doutrinário de administrar a
experiência subjetiva de cada um.
Para falarmos do
que é sagrado, faz-se necessário, também, sabermos sobre seu oposto : o
profano. Os estudiosos das religiões costumeiramente dividem o fenômeno
religioso em sagrado e profano, prevalecendo, assim, uma visão dualista de
oposição e exclusão automática.
Como as ‘velhas certezas’ religiosas afirmam, o
sagrado só pode estar para o humano enquanto sua concepção se dá mediante uma
manifestação diferente da realidade natural em algo quase que sobrenatural,
esplendoroso e cheio de anormalidades. E, segundo esse raciocínio, o profano é,
então, um mero fato natural, biológico, ‘normal’
e quase que autoexplicativo.
O sagrado é, desse
modo, um arcabouço de elaborações metafísicas e conceitos irrefutáveis com o
intuito de afirmar a plena manifestação de uma entidade divina em uma bela
hierofania.
Mas, e o homem?
Onde se encaixa o humano diante de tanta conceituação e normatização daquilo
que está ‘além’ de suas experiências ‘horizontais’?
Há transcendência,
ou melhor, a transcendência é algo que induz a experiência humana a buscar
sempre aquilo que ainda lhe falta. Entretanto, entre o sagrado e o humano
costumam existir barreiras e pontes de ligação. Tais barreiras e pontes podemos
chamar de religião.
O humano, como ser
incompleto e inacabado, sempre estará em busca de algo, mesmo que já esteja nos
mais elevados graus religiosos e até mesmo se houver vivenciado inúmeras
experiências promovidas por manifestações sagradas dentro das tradicionais
formas e expressões. Essa busca insaciável, quando não encontra o mínimo de uma
experiência autêntica, leva o homem a sacralizar inúmeras ‘coisas’, pessoas,
experiências e situações. Mas isso não o torna completamente equivocado.
Como a experiência
de busca, encontro e relação com o sagrado é algo essencialmente subjetivo,
intransferível e inesgotável, não podemos permitir que a conceituação e
sistematização produza uma padronização dessa experiência pessoal.
Podemos afirmar
que há diferenças imensas entre sagrado e religião. Nos é necessário, pois,
admitir que o sentimento religioso está completamente imbuído de um sentido de
reverência, solenidade, adoração, veneração, desprezo de si e máximo respeito
diante do Outro Absoluto. Já na vivência autêntica do sagrado, o humano
desmonta essas certezas de outrora e vivencia genuinamente tal experiência
transcendental. Como todo empreendimento humano visa certa satisfação e busca,
no que tange ao seu estado diante do sagrado, a satisfação dessa necessidade de
ser não se contenta com o que satisfaz os sentidos meramente imanentes. O
desejo se desenvolve, a busca pela plenitude aumenta e a imaginação orienta
todos os sentimentos para aquilo que está ‘além’.
Tudo isso é
fundamentalmente necessário para o melhor desenvolvimento humano diante da
sociedade, dos outros e de si mesmo, pois, a necessidade de relacionar-se com
algo ‘além-de-si’ o torna, cada vez
mais, um ser de busca constante, destruidor de barreiras e construtor de pontes
de ligação para este sagrado que considera como início, meio e fim.
Assim, o contrário
seria a perda do sentido de diversos aspectos fundamentais para o
desenvolvimento de seu ser e, inclusive, levando à coisificação de suas
estruturas humanas e perda da capacidade de relação e criação.
O humano diante do
sagrado promove um certo intercambio entre sujeito e sociedade cultural por
meio da possibilidade de elaboração de diversos símbolos que o remetem àquela
busca de sempre, levando-o à experiência transcendental e, assim, alcançando,
para si, a possibilidade de viver ‘além’ das possibilidades horizontais.
Desta forma,
podemos concluir que, em se tratando de uma relação direta com o sagrado, o
humano é um ser de construção e vivência, que se faz e refaz em cada gesto,
cada símbolo e palavra; que debruça tudo em ritos e mitos; que promove o elo de
encontro entre si e aquilo que busca e subjetivamente considera sagrado. É um
ser de constante metamorfose e por isso mesmo desenvolve variações de sua
própria expressão religiosa de vida. Assim, na mais profunda e autêntica
experiência, vivencia a mais plena expressão do sagrado que busca : o próprio
homem.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.domtotal.com/noticia/1117952/2017/01/o-humano-diante-do-sagrado-uma-experiencia-de-busca/
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