quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Neo-Fariseus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Neo-fariseus ensinam mentiras como se fossem verdades.
*Artigo de Fabrício Veliq,
protestante, é mestre e doutorando em teologia 
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG


‘É comum no mundo atual ter-se um discurso desassociado da prática. E isso não é só de hoje. Jesus, desde seu tempo, já criticava isso na postura dos fariseus.

Porém, aquilo que era condenado em Jesus nessas pessoas não era sua classe na sociedade, embora muitos pensem que Jesus criticava os fariseus por eles serem fariseus, antes suas hipocrisias ao exigirem do povo algo que nem eles estavam dispostos a fazer.

Na igreja atual, não são poucos os que criticam os fariseus colocando-os como escória da sociedade da época e coisas do tipo, o que só revela um não conhecimento de quem esses eram.

Os fariseus tinham uma qualidade acerca do conhecimento a respeito de Deus : eles conheciam aquilo que a Torá falava sobre Ele. Os fariseus foram os responsáveis pela manutenção dos ensinamentos da Torá no período de silêncio entre Malaquias e Mateus.

Durante o período inter-testamentário, os fariseus foram aqueles que lutaram para a manutenção dos costumes do povo de Israel, bem como foram os grandes responsáveis pela volta ao culto monoteísta na comunidade de Israel o que sem dúvida, preparou terreno para a vinda do Cristo.

No entanto, hoje percebemos um movimento diferente ao qual chamarei de neo-farisaísmo. Os neo-fariseus são os que falam sem saber sobre o deus que se fala e ainda são hipócritas, tendo suas práticas desvencilhadas dos discursos que pregam.

Não sei nem se podemos falar que são fariseus, uma vez que falta uma das características principais destes que é o conhecimento com relação ao deus que se prega. Diante disso, optei por chamá-los de neo-fariseus.

Esses, muito presentes em nossos dias, são aqueles que não conhecem o que a bíblia fala sobre Deus, têm um discurso aprendido somente pelos programas de televisões ou via rádios, e ainda assim, não mantêm uma prática condizente com o discurso que afirmam. Pregam a muitos coisas erradas sobre Deus sob um pretexto de certa revelação divina. Revelações essas que partem mais de experiências pessoais e que muitas vezes vão contra os princípios bíblicos. Assim, penso que esses ainda são piores do que aqueles condenados por Jesus na época em que esteve entre nós. Os que eram criticados por Jesus eram condenados pela hipocrisia e não pela falta de conhecimento. Aos de hoje, porém, aliado com a hipocrisia, há a falta de conhecimento, ensinando mentiras como se fossem verdades.

Quanto aos fariseus hipócritas propriamente ditos, esses também ainda existem entre nós, ou seja, pessoas que conhecem o que a bíblia diz sobre Deus, falam sobre ele com propriedade não vivendo segundo Ele. Esses são os mais sutis, uma vez que conseguem justificar suas práticas com embasamento bíblico bem fundamentados. São como os fariseus da época de Jesus devido ao fato de não atentarem aos princípios da lei e sim à sua forma, causando opressão aos que os seguem e 'se apoderando da chave do conhecimento, não entram e impedem os que querem entrar'.

No entanto, ainda há os fariseus verdadeiros : aqueles que conhecem o que se diz sobre Deus, entenderam os princípios do reino e vivem de acordo com o que conhecem, lutando para que aquilo que se entende como sendo a palavra de Deus seja pregada sempre.

Em nossos dias, aparentemente, são os neo-fariseus os que mais estão presentes. Infelizmente, na maioria das vezes, são esses que estão à frente das instituições, fazendo de pessoas simples massas de manobra de seus devaneios.

Algo que precisamos ter em mente é que se falamos de Deus sem vivê-lo e sem fazer diferença no meio em que estamos inseridos, temos que rever urgentemente se é a Deus mesmo que estamos seguindo e se é realmente o evangelho das boas novas que temos pregado.

Uma das críticas de Jesus era que os fariseus negligenciavam a misericórdia e a justiça, preocupando-se somente na obediência às formas da lei e não aos seus princípios.

Infelizmente, há muito disso em nossos dias. Intolerância com os que pensam diferente, pretensão de conhecimento das verdades absolutas e negação da justiça para satisfazer instituições.

Nossa tarefa enquanto cristãos é, então, testemunhar que a aceitação de Jesus e a inclusão que Jesus promoveu àqueles e àquelas que eram excluídos da sociedade do seu tempo ainda continua verdade através de nosso viver no mundo. E assim, conhecendo a Palavra de Deus e o Evangelho, e vivendo de acordo com eles, zelando pelo seu cumprimento, quem sabe também não possamos ser contados entre os fariseus verdadeiros sem a hipocrisia que os condenavam.’


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