*Artigo
de Fabrício Veliq,
protestante,
é mestre e doutorando em teologia
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando
em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado
em matemática e graduando em filosofia pela UFMG
‘É comum no mundo
atual ter-se um discurso desassociado da prática. E isso não é só de hoje.
Jesus, desde seu tempo, já criticava isso na postura dos fariseus.
Porém, aquilo que
era condenado em Jesus nessas pessoas não era sua classe na sociedade, embora
muitos pensem que Jesus criticava os fariseus por eles serem fariseus, antes
suas hipocrisias ao exigirem do povo algo que nem eles estavam dispostos a
fazer.
Na igreja atual,
não são poucos os que criticam os fariseus colocando-os como escória da
sociedade da época e coisas do tipo, o que só revela um não conhecimento de
quem esses eram.
Os fariseus tinham
uma qualidade acerca do conhecimento a respeito de Deus : eles conheciam aquilo
que a Torá falava sobre Ele. Os fariseus foram os responsáveis pela manutenção
dos ensinamentos da Torá no período de silêncio entre Malaquias e Mateus.
Durante o período
inter-testamentário, os fariseus foram aqueles que lutaram para a manutenção
dos costumes do povo de Israel, bem como foram os grandes responsáveis pela
volta ao culto monoteísta na comunidade de Israel o que sem dúvida, preparou
terreno para a vinda do Cristo.
No entanto, hoje
percebemos um movimento diferente ao qual chamarei de neo-farisaísmo. Os
neo-fariseus são os que falam sem saber sobre o deus que se fala e ainda são
hipócritas, tendo suas práticas desvencilhadas dos discursos que pregam.
Não sei nem se
podemos falar que são fariseus, uma vez que falta uma das características
principais destes que é o conhecimento com relação ao deus que se prega. Diante
disso, optei por chamá-los de neo-fariseus.
Esses, muito
presentes em nossos dias, são aqueles que não conhecem o que a bíblia fala
sobre Deus, têm um discurso aprendido somente pelos programas de televisões ou
via rádios, e ainda assim, não mantêm uma prática condizente com o discurso que
afirmam. Pregam a muitos coisas erradas sobre Deus sob um pretexto de certa
revelação divina. Revelações essas que partem mais de experiências pessoais e
que muitas vezes vão contra os princípios bíblicos. Assim, penso que esses
ainda são piores do que aqueles condenados por Jesus na época em que esteve
entre nós. Os que eram criticados por Jesus eram condenados pela hipocrisia e
não pela falta de conhecimento. Aos de hoje, porém, aliado com a hipocrisia, há
a falta de conhecimento, ensinando mentiras como se fossem verdades.
Quanto aos
fariseus hipócritas propriamente ditos, esses também ainda existem entre nós,
ou seja, pessoas que conhecem o que a bíblia diz sobre Deus, falam sobre ele
com propriedade não vivendo segundo Ele. Esses são os mais sutis, uma vez que
conseguem justificar suas práticas com embasamento bíblico bem fundamentados.
São como os fariseus da época de Jesus devido ao fato de não atentarem aos
princípios da lei e sim à sua forma, causando opressão aos que os seguem e 'se apoderando da chave do conhecimento, não entram e impedem os que
querem entrar'.
No entanto, ainda
há os fariseus verdadeiros : aqueles que conhecem o que se diz sobre Deus,
entenderam os princípios do reino e vivem de acordo com o que conhecem, lutando
para que aquilo que se entende como sendo a palavra de Deus seja pregada
sempre.
Em nossos dias,
aparentemente, são os neo-fariseus os que mais estão presentes. Infelizmente,
na maioria das vezes, são esses que estão à frente das instituições, fazendo de
pessoas simples massas de manobra de seus devaneios.
Algo que
precisamos ter em mente é que se falamos de Deus sem vivê-lo e sem fazer
diferença no meio em que estamos inseridos, temos que rever urgentemente se é a
Deus mesmo que estamos seguindo e se é realmente o evangelho das boas novas que
temos pregado.
Uma das críticas
de Jesus era que os fariseus negligenciavam a misericórdia e a justiça,
preocupando-se somente na obediência às formas da lei e não aos seus
princípios.
Infelizmente, há
muito disso em nossos dias. Intolerância com os que pensam diferente, pretensão
de conhecimento das verdades absolutas e negação da justiça para satisfazer
instituições.
Nossa tarefa
enquanto cristãos é, então, testemunhar que a aceitação de Jesus e a inclusão
que Jesus promoveu àqueles e àquelas que eram excluídos da sociedade do seu
tempo ainda continua verdade através de nosso viver no mundo. E assim,
conhecendo a Palavra de Deus e o Evangelho, e vivendo de acordo com eles,
zelando pelo seu cumprimento, quem sabe também não possamos ser contados entre
os fariseus verdadeiros sem a hipocrisia que os condenavam.’
Fonte :
Nenhum comentário:
Postar um comentário