*Artigo
de Fabrício Veliq,
protestante,
é mestre e doutorando em
teologia
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando
em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado
em matemática e graduando em filosofia pela UFMG
‘A pergunta pode
parecer um pouco estranha. Afinal, a reposta mais rápida que encontramos se a
fazemos a qualquer pessoa cristã é : ora, busco Jesus, o Filho de Deus. No
entanto, se olharmos a questão um pouco mais de perto, podemos nos surpreender
e a pergunta se tornará menos óbvia e, talvez, mais instigante. Nesse sentido,
gostaria de propor somente três imagens (dentre várias possíveis) de Jesus que
vemos ser buscadas hoje em dia.
A primeira imagem
é o do Jesus histórico. Entre nós, há os que buscam freneticamente pelo Jesus
histórico e tem a sua fé ou falta dela baseada nas conclusões a que cientistas
e historiadores chegam a cada nova semana a respeito desse tema. Não é de surpreender
que o afã que acomete a milhares de pessoas ao sair um novo livro sobre a
história de Jesus, ou alguma revista postar um novo artigo sobre essa questão.
Se são cristãs e o artigo fala a respeito de algo que comprova a narrativa
cristã, a chance de falar que a Bíblia tinha razão em tudo que relata e que a
ciência comprova o que a Bíblia diz são enormes. Se não são cristãs e essas
mesmas pesquisas mostram divergências com relação àquilo que a narrativa
bíblica mostra, a chance de considerar os cristãos como bando de supersticiosos
também é enorme.
O que é
interessante perceber é que, nos dois grupos, o caráter da comprovação
histórica se torna papel fundamental para a crença ou descrença a respeito da
pessoa de Jesus. A busca por um Jesus comprovado historicamente, mesmo que já
tenha sido descartada por Albert Schweitzer em 1901, em seu livro A busca do
Jesus histórico, ainda continua sendo o parâmetro para crença e não crença de
muitos. Isso não quer dizer que não se deva pesquisar a história de Jesus. As
pesquisas a respeito do Jesus histórico segue desde 1748 e tem trazido bons
frutos na explicação da vida e da narrativa dos evangelhos. Contudo, basear a
fé em comprovações desse gênero é que se mostra complicado se nos dizemos
cristãos.
A segunda imagem é
a do Jesus dogmático. Esse Jesus dogmático é aquele do qual os documentos
oficiais falam. Não nos surpreende que se tem crescido uma ala
ultraconservadora tanto em meios evangélicos como em meios católicos. A esses,
o Jesus da qual os documentos da Igreja e as confissões falam é mais importante
do que qualquer outro discurso a respeito dele. Assim, aqueles e aquelas que
não falam e não agem de acordo com os documentos e declarações, esses não
encontraram ainda a fé verdadeira e devem, portanto, ser excluídos da comunhão,
das atividades e dos ministérios, uma vez que estão em pecado contra a Igreja.
Para os que buscam o Jesus dogmático, somente há certo e errado de acordo com a
letra e é essa que determina os que conhecem ou não conhecem o mestre e isso é
muito perigoso. Assim como a pesquisa histórica da qual falamos, os dogmas e as
declarações católicas e protestantes precisam ser conhecidas e é bom que se
conheça para que se tenha um embasamento maior e saiba defender a fé que se tem
de uma maneira racional, caso seja necessário.
A terceira imagem
é a do Jesus crucificado. Ao que tudo indica, e se observarmos a situação de
nossa igreja atual, essa é a menos buscada em nossos dias. O motivo disso, a
meu ver, se encontra no fato de que buscar o Jesus Crucificado como padrão de
vida é estar disposto à autonegação, ao sofrimento em prol do outro e a um
compromisso de engajamento com o mundo que poucos de nós temos coragem e
disposição de assumirmos. Diante de uma lógica de mercado que tem se instalado
em diversos seguimentos cristãos, em que Deus somente é Deus se retribui de
alguma forma aquilo que fazemos, autodoação e autosacrifício em amor não parece
ser a palavra da vez.
Se atentarmos para
nós mesmos, bem como para cristãos e cristãs que estão ao nosso lado em nosso
dia a dia, muitas vezes perceberemos que se tem buscado uma segurança histórica
ou dogmática na tentativa de servir a Deus, esquecendo que a fé que professamos
se baseia, justamente, em um lançar-se no escuro, como diria Kierkegaard, ou em
apoiar-se em uma tábua fina no meio do oceano, como diria Ratzinger.
Das três imagens,
somente a terceira nos conclama a uma fé realmente cristã que crê em esperança
de que assim como o Crucificado foi ressuscitado, nós também o somos por meio
Dele.’
Fonte :
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