*Artigo
de Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘Era sempre a
última, na fila da comunhão.
Naquela semana,
calhava-me ir celebrar a missa todos os dias, de manhã bem cedo, à casa das
irmãs, que ficava ali perto da nossa igreja; quinze minutos a pé, pelas ruelas
do bairro-de-lata onde elas moravam. Era ali que um bom grupo de jovens se
preparavam para dedicarem a vida, como ela, ao serviço dos mais pobres entre os
pobres.
Passaram uns anos
bons, mas ficou-me bem gravada na memória aquela figura de mulher pequenina,
com a cara onde não cabia nem mais uma ruga. Madre Teresa, vestida com o seu
sari branco com bordo azul, sentava-se no chão, ao fundo da capela, do lado
direito da porta. Na altura da comunhão, ela era sempre a última na fila.
A celebração era
de manhã cedo, mas antes de eu começar a missa, já elas tinham feito uma hora
de adoração. Depois, algumas delas dedicavam-se aos órfãos, doentes e velhinhos
abandonados que cuidavam ali mesmo em casa; outras saíam a visitar os pobres e
os doentes nas barracas daquela zona.
Quando um dia
perguntei a um grupo daquelas jovens se não era um pouco exagerado tanto tempo
de oração todos os dias, logo de manhã, responderam-me com uma frase que a
Madre Teresa gostava de dizer : «Para
sabermos reconhecer Jesus nos pobres da rua, precisamos de encontrá-Lo antes,
na oração.»
Gostei que o Papa
Francisco decidisse canonizar a Madre Teresa na Praça de São Pedro, em Roma,
com grande solenidade. Na manhã do domingo, 5 de Setembro, uma multidão imensa
enchia por completo a praça e ainda ficou muita gente a assistir de fora. Havia
delegações e grupos vindos de todo o mundo. Teresa, a última da fila, tornou-se
agora modelo para todos os cristãos que queiram viver com autenticidade a
misericórdia de Deus, e partilhá-la com os outros.
Quando, um dia,
alguém lhe disse que ela estava a tornar-se uma pessoa importante, respondeu : «Sou apenas um lápis nas mãos de Deus, Ele que escreva o que
quiser.»
Não foi um caminho
fácil. Não lhe faltaram problemas e situações terríveis a enfrentar. Mas
impressiona saber que Teresa viveu muitos anos na «noite escura» (uma expressão
de São João da Cruz). Trata-se, penso eu, da experiência de quem viveu
tempos de grande entusiasmo espiritual onde a «comunicação com Jesus» é clara, abundante, cheia de alegria, e depois
toda essa relação com Deus mergulha nas trevas, como se a pessoa entrasse numa
«noite escura» : a presença de Deus acredita-se, mas não se sente, no
diálogo, parece que Deus ficou mudo, e aquele entusiasmo que dava tanta alegria
e que motivava tanto parece que secou. Uma experiência muito dura para quem faz
do encontro com Deus o centro da própria vida. A Madre Teresa contou que viveu
assim a maior parte da sua vida!
De onde lhe vinha
a força e aquela alegria que irradiava sempre? É que ela não vivia para receber
algo de Deus, mas apenas para ser aquele pequeno lápis nas Suas mãos.
Pelo visto Deus
escreveu muito! E continua a escrever.’
Fonte :
* Artigo na http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuZVVZyAkFEPuEEYSf
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