‘Qaraqosh, norte
do Iraque - Não obstante a alegria pela ofensiva do exército iraquiano para
libertar Mossul e os povoados da Planície do Nínive do Estado Islâmico, o
caminho dos cristãos locais para retornar às suas habitações e às suas terras
ainda é longo e cheio de obstáculos.
Em Qaraqosh, a
maior cidade cristã da Planície do Nínive, 90% das habitações foram destruídas
pelo Estado Islâmico. O perigo representado pelas minas terrestres ainda é
elevado. Mas não basta derrotar o Estado
Islâmico a campo, ‘é necessário enfrentar também a mentalidade ainda difusa em
muitas pessoas, em tantos habitantes de Mossul que o apoiaram, e com os quais
agora se deverá, de uma forma ou outra, dialogar para evitar vinganças cruéis’. É o que adverte
o sacerdote sírio-católico da Diocese de Mossul, Padre George Jahola.
A alegria, os
cantos e as danças para festejar o início da ofensiva iraquiana para libertar
Mossul, a antiga Nínive e os povoados da Planície, não duraram muito. Para os
cristãos chegados em Erbil (capital do Curdistão iraquiano) após o avanço dos
milicianos do Estado Islâmico em 2014, ainda não é tempo de retornar às suas
casas e povoados.
Não obstante a
ameaça do Isis pareça mais distante, ainda não há motivos para uma maior
tranquilidade e confiança. São graves os problemas que agora devem enfrentar,
como testemunha o sacerdote sírio-católico da Diocese de Mossul, Padre George
Jahola.
‘É difícil pensar em um retorno veloz dos
cristãos aos seus povoados. Somente na cidade cristã de Qaraqosh, ao norte de
Mossul, a maior da Planície do Nínive, onde até junho de 2014 ali viviam mais
de 60 mil pessoas, 90% das habitações foram destruídas ou queimadas’.
O sacerdote fala
com conhecimento de causa. À pedido do Arcebispo sírio-católico de Mossul,
Kirkuk e de todo o Curdistão, Dom Petros Mouché, ele é o responsável por
redigir um inventário de casas, locais de culto, igrejas e cemitérios cristãos
destruídos pelo Daesh nestes dois anos de ocupação.
‘Estamos trabalhando com alguns jovens
voluntários na elaboração desta lista. Atualmente, podemos dizer que mais de 6
mil habitações foram demolidas e devem ser reconstruídas do zero. Esperávamos
encontrar casas saqueadas, danificadas, mas não queimadas e destruídas’,
afirmou. Uma situação que leva o sacerdote a afirmar que, o que foi feito pelo Estado
Islâmico, ‘é um verdadeiro genocídio,
diante do qual a comunidade internacional não pode calar’. ‘Não se pode cancelar do Iraque a histórica
presença das minorias’, defende.
Um dos riscos
atuais para as minorias presentes no país, é serem atingidas pelo ‘fogo amigo’, ou seja, pelas próprias
Instituições iraquianas. Às tensões sectárias, que estão tendo um peso também
na ofensiva contra Mossul, somam-se algumas leis aprovadas recentemente pelo
Parlamento que impõe diversas proibições ao comércio de bebidas alcoólicas,
publicação de artigos e também no modo de se vestir na Universidade, num claro
sintoma da restrição das liberdades pessoais.
Os testemunhos que
chegam de Qaraqosh, falam de uma cidade desabitada e perigosa. Na retirada, o
Daesh plantou minas no terreno e dispôs franco-atiradores em locais
estratégicos. ‘Colocar a cidade em
segurança é fundamental - defende o sacerdote - para depois pensar em
reconstruir a infraestrutura e devolver assim o fôlego à comunidade local
extremada’.
Os cristãos da
Planície do Nínive tiveram um duplo sofrimento : despojados de seus bens,
privados de tudo e expulsos de suas casas, entre junho e agosto de 2014, foram
obrigados a suportar a profanação de suas igrejas, destruídas, transformadas em
locais de tiro e em locais de treinamento militar. A Catedral da Imaculada
Conceição, a Igreja de Mar Yuhanna e de Mar Zena foram incendiadas.
Significativa,
assim, a celebração presidida em 30 de outubro por Dom Petros Mouché na
Catedral da Imaculada Conceição, em Qaraqosh. ‘Um gesto de reparação - explica o sacerdote sírio-católico - pela
profanação sofrida pelo local sacro, a primeira missa desde a queda da cidade e
a fuga de seus habitantes. A Liturgia desenvolveu-se entre as paredes
escurecidas pelas fumaça, entre os escombros do teto desabado parcialmente,
entre os restos de bancos usados como lenha e as siglas do Isis pintadas nas
paredes’.
Os hinos cantados
em aramaico, a língua de Jesus, voltaram a ecoar nas naves da Catedral, na
tentativa de apagar o ódio manifestado ali dentro nestes dois anos. Os votos do
Padre Jahola é que depois de tanto sofrimento para os cristãos iraquianos,
abram-se as portas para uma verdadeira cidadania, de estabilidade e de
segurança. Que ao tempo da exclusão, siga-se um tempo de inclusão.’
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