*Artigo
de Fernando Félix,
Jornalista
‘O Azerbaijão é
pouco mais pequeno do que Portugal e a sua população também é ligeiramente
menor : 9,5 milhões de habitantes. Situa-se na região do Cáucaso, no cruzamento
entre o Leste Europeu e o Sudoeste Asiático, sendo, por isso, um país
transcontinental. Este ano, celebra os 25 anos da proclamação da independência
da ex-União Soviética.
A Constituição do
Azerbaijão não declara qualquer religião oficial, mas 95 % da população é
muçulmana xiita. As principais forças políticas no país são seculares, mas há movimentos
e partidos da oposição ligados ao xiismo.
A comunidade
católica azerbaijana é formada por cerca de 500 fiéis, tem apenas uma paróquia,
confiada aos Salesianos, uma igreja e uma capela. Nela existem apenas sete
sacerdotes, três religiosos, sete religiosas, dois missionários leigos e quatro
catequistas. Os seminaristas são 14. Com os demais cristãos – da Igreja
Ortodoxa Russa, Igreja Ortodoxa Georgiana e Igreja Apostólica Arménia – formam
uma comunidade com perto de 150 mil discípulos de Cristo.
Cristãos em tempos de
perseguição religiosa
O Catolicismo
recente no Azerbaijão data de 1912. Oito anos depois, com a chegada dos
bolcheviques, o território foi incorporado na União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (ex-URSS) e a Igreja Católica foi suprimida. Na década de 1930, a
perseguição teve o seu pico com a destruição da única igreja, na capital, Bacu,
e o assassínio do seu pároco.
Em 1991, o
Azerbaijão proclamou-se independente da ex-URSS. No ano seguinte, quando
representantes da Igreja Católica romana chegaram ao país, restava apenas uma
dúzia de fiéis idosos dos que, em tempos, tinham sido 10 000 católicos.
O país, em 1997,
proibiu por decreto toda a atividade de missionários estrangeiros. Todavia,
acolheu dois papas em viagem apostólica : São João Paulo II, em 2002, e
Francisco, em outubro passado.
Depois da visita
de São João Paulo II, foi enviado o primeiro padre católico para o país. Ao
mesmo tempo, o Governo decidiu compensar os cristãos, oferecendo-lhes um
terreno para a edificação de um novo templo. E é nesta nova igreja, dedicada à
Imaculada Conceição, que, todos os domingos, são celebradas três missas e são
cada vez mais as crianças que frequentam a catequese.
Em 29 de Maio
passado, foi ordenado diácono, em São Petersburgo (Rússia), o futuro primeiro
sacerdote do Azerbaijão. Esta é uma notícia muito boa para a comunidade
católica azerbaijana. Este pode ser considerado um dos primeiros frutos da
presença discreta, mas verdadeiramente missionária, dos católicos.
Presença caridosa num
país laico
No Azerbaijão, são
mais fortes os costumes sociais e culturais do que os credos. Entre a maioria
muçulmana, os costumes religiosos não são levados muito a sério, e a identidade
muçulmana tende a basear-se mais na etnia e na cultura do que na religião.
O país vive tempos
de prosperidade que parece pôr em segundo plano a fé. O petróleo e o gás
natural fazem do Azerbaijão um país muito rico. «Tão rico que, quando as Irmãs da Madre Teresa de Calcutá decidiram
abrir uma casa na capital, Bacu, em 2005, lhes disseram que podiam ir embora,
que o seu trabalho não seria necessário pois não havia pobres no Azerbaijão»,
anota a Fundação Ajuda à Igreja que
Sofre. As Missionárias da Caridade não deram ouvidos àquelas palavras
desmotivadoras e cumpriram um dos desejos de Santa Teresa de Calcutá : abrir
pelo menos uma casa, uma comunidade, em cada uma das antigas repúblicas
socialistas soviéticas. Hoje, cinco irmãs desta congregação cuidam dos
sem-abrigo, dos que perderam a família, dos que não têm como se sustentar, dos
que permanecem à margem, estendidos nas ruas, quase invisíveis aos olhos de
quem passa.
Os gestos
inter-religiosos do Papa Francisco
A breve visita do
Papa Francisco ao Azerbaijão – concentrada num domingo – teve um forte caráter
inter-religioso. O ponto alto foi o encontro na Mesquita H. Aliyev, de Bacu,
reunindo o xeque dos muçulmanos do Cáucaso, Allahshukur Pashazadeh, e
representantes de comunidades cristãs e judias no país.
Ao iniciar o seu
discurso, Francisco salientou o grande sinal que era o encontro, realizado em
fraterna amizade naquele local de oração : «Um
sinal que manifesta aquela harmonia que as religiões, em conjunto, podem
construir, a partir das relações pessoais e da boa vontade dos responsáveis»,
frisou, e da qual o Azerbaijão se beneficia, pois «é a colaboração e não a
contraposição que ajudam a construir sociedades melhores».
Este encontro,
como recordou o papa, saúda, encoraja e está em continuidade com os numerosos
encontros que se realizam em Bacu para promover o diálogo e a
multiculturalidade.
«A fraternidade e a partilha que desejamos
incrementar não serão apreciadas por aqueles que querem salientar divisões,
reacender tensões e enriquecer à custa de conflitos e contrastes; mas são
imploradas e esperadas por quem deseja o bem comum, e sobretudo são agradáveis
a Deus, Compassivo e Misericordioso, que quer os filhos e filhas da única
família humana unidos e sempre em diálogo entre si», sublinhou o pontífice.
Disse ainda o Papa
Francisco, demonstrando como a harmonia entre as religiões é o melhor para o
mundo : «Abrir-se aos outros não
empobrece, mas enriquece, porque nos ajuda a ser mais humanos, a reconhecer-se
parte ativa de um todo maior e a interpretar a vida como um dom para os outros;
a ter como alvo não os próprios interesses, mas o bem da humanidade; a agir sem
idealismos nem intervencionismos, sem realizar interferências prejudiciais nem
ações forçadas, mas sempre no respeito das dinâmicas históricas, das culturas e
das tradições religiosas.»’
Fonte :
* Artigo na http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuZlkyuplFXrXvmfDk
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