*Artigo
de Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘Domingo à tarde.
Entrei na igreja para me sentar a rezar e descansar um pouco, longe das
reuniões, trabalhos a programar, coisas a fazer... Lá à frente estava alguém
sentado com um terço na mão, óculos grossos, cabelo branco. Já de longe, a impressão de já o ter visto em algum lado.
Aproximei-me e reconheci um velho amigo que não via havia pelo menos treze
anos. Tínhamos trabalhado no mesmo bairro-de-lata durante vários anos. Quantas
lutas enfrentadas juntos, algumas desilusões e a alegria de ver as nossas comunidades
cristãs a crescer naquele canto da África.
Depois da primeira
surpresa, ele explicou : a idade, e uma doença que já não lhe permitia
continuar lá. E agora?, perguntei. Foi-me confiado um novo trabalho, disse, e
mostrando o terço que tinha na mão, ajuntou : este!
Para ele, era
mesmo um trabalho sério, exigente, e tão necessário como os muitos outros
trabalhos que tinha conseguido realizar quando as forças físicas lhe permitiam.
Nos dias a seguir
àquele encontro, fui pensando no que aquele velho amigo me tinha dito, um
trabalho importante! Mas para que serve, realmente?
Algumas respostas
foram-me vindo, mesmo se me parecem ainda muito incompletas. Pensando nele e em
outras pessoas desse gênero que tenho encontrado, parece-me que com aquela
oração que fazem, muito mais abundante do que nós que continuamos num «trabalho normal», eles conseguem
descobrir uma dimensão mais profunda em tudo. Até nos «cantos mais difíceis» da vida que vivem, eles conseguem ver uma
graça de Deus. Descobrem sempre mais razões para dizer obrigado a Deus. A tal
ponto que lhes começa a faltar tempo para se lamentarem. Têm sempre pessoas por
quem rezar, amigos, conhecidos, gente de quem sabem notícias pela TV ou pela
rádio, e que tanto precisam de um apoio espiritual, mesmo de muito longe...
Uma destas pessoas
disse-me aqui há tempos : escrevi o teu nome numa das minhas listas, tenho uma
para cada dia da semana!
Pessoas que
assumem este «novo trabalho», com o
tempo que passa, vão mudando as coisas que pedem a Deus : ao princípio pedem
coisas pequenas : Deus, ajuda aquele rapaz a passar o exame!, faz passar a dor
de cabeça àquele doente... Depois vão pedindo coisas mais importantes :
ajuda-me a perdoar a mim mesmo o meu passado, e a encontrar a paz de coração,
reforça a generosidade de quem se dedica aos que sofrem, converte o coração dos
violentos, ilumina e dá força a quem trabalha pela paz no mundo...
Uma coisa que me impressiona sempre nestes rezadores é a certeza
absoluta que eles têm de que não andam a perder tempo : a certeza de que as
orações que oferecem a Deus com insistência e grande abundância vão certamente
produzir frutos. Será quando e como Deus quiser, mas os frutos vão chegar com
toda a certeza.
Há mesmo quem reze
sem intenções particulares. Como me dizia uma destas pessoas : «Eu rezo e basta : Deus sabe melhor do que eu
quem é que precisa da ajuda das minhas orações!»
Ao princípio, este
«novo trabalho» não deve ser nada
fácil, sobretudo para pessoas que sempre tiveram uma vida muito ativa e
realizaram obras grandes. Penso naquele meu velho amigo missionário que
encontrei com o terço na mão. Mas depois de algum tempo, é lindo ver estas
pessoas que irradiam alegria e serenidade, com a certeza de que continuam a ter
muito que dar a todos nós e ao nosso mundo.’
Fonte :
* Artigo na http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuZlkyllFpAhpjatyK
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