*Artigo
de Dom Reginaldo Andrietta,
Bispo de Jales
‘Poucos dias após
a canonização da Madre Teresa de Calcutá, o Papa Francisco, em uma audiência
concedida a 153 novos bispos de todo o mundo, reunidos em Roma para um Curso de
Formação, no qual estive presente, expressou a importância de seguirmos o
exemplo dessa querida ‘mãe dos pobres’,
recomendando que nossa vida expresse também a misericórdia de Deus.
O Papa nos
convidou a tornar a misericórdia pastoralmente concreta, solidarizando-nos com
os que sofrem, seguindo o exemplo do Bom Samaritano, do Evangelho de Lucas : ele toca as feridas e cuida do homem roubado e
violentado no caminho de Jericó. Nessa parábola, Jesus também denuncia a lógica
da indiferença, manifestada, paradoxalmente, por duas pessoas religiosas.
Madre Teresa podia
ter sido muito religiosa e indiferente, mas, não quis ser incoerente. Ela
assumiu crianças abandonadas, moradores de rua, doentes e moribundos, os que a
sociedade marginaliza, como seus amigos preferidos, porque são amados, em
primeiro lugar por Deus. Diante desses e de outros que a sociedade explora e
descarta, diferentemente dela, muitos mantêm seus olhos fechados e seus
corações endurecidos.
A violência e a
indiferença, presentes no mundo, nos fazem pensar sobre algumas palavras que o
Papa dirigiu aos novos Bispos : ‘O
caminho de Jericó não está distante de nós’; ele pode estar até mesmo em
nossos lares; e reafirmou o que já havia expressado na Exortação Apostólica
Alegria do Amor : ‘deem uma atenção
especial a todas as famílias’; ‘acompanhem
sobretudo as mais feridas’.
A misericórdia foi
tão enfatizada no Curso para Novos Bispos, que o Cardeal Marc Ouellet, do
Canadá, prefeito da Congregação Pontifícia para os Bispos, ao concluir o Curso,
ressaltou que, embora a misericórdia tenha sido evidenciada neste Ano Santo, os
Bispos devem expressar o perfil de pastores misericordiosos, sempre, porque
este é o perfil de Cristo e da Igreja.
Logo encerraremos
o Ano Santo da Misericórdia, certamente mais comprometidos em obras de
misericórdia, que tornam a fé viva, conforme salienta o apóstolo Tiago : ‘De que aproveitará a alguém dizer que tem fé
se não tiver obras. Acaso a fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou a uma irmã
faltarem roupas e o alimento cotidiano, e alguém lhe disser ide em paz, sem
dar-lhe o necessário para o corpo, de que lhe aproveitará? Assim também a fé:
se não tiver obras é morta’.
Os novos Bispos, ouvimos
com insistência em Roma, que devemos ser apóstolos da misericórdia, expressão
real de Cristo, Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas. Os membros de
nossas comunidades não podem, portanto, estranhar que nosso testemunho e nossos
ensinamentos, sejam focados na espiritualidade e na ética da solidariedade, da
misericórdia e da justiça, tão necessárias e urgentes na sociedade atual,
extremamente dividida entre ricos e pobres, poderosos e explorados.
Se isso parecer
estranho, entendamos, conforme diz o Papa, que Santa Teresa de Calcutá também
fez ‘sua voz chegar aos poderosos da
terra para que reconheçam sua culpa perante os crimes de pobreza criados por
eles mesmos’. Que esta ‘incansável
trabalhadora da misericórdia’ nos inspire a compreender o que o apóstolo
João expressou sobre o que aprendeu de Jesus a respeito da misericórdia : em lugar de palavras,
obras (1 João 3,18).’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.domtotal.com/noticia/1079994/2016/09/misericordia-em-lugar-de-palavras-obras/
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