*Artigo
de Dom Paulo Mendes Peixoto,
Arcebispo de Uberaba
‘Creio que podemos
sintetizar a expressão ‘o bom senso’
nas seguintes virtudes humanas : modéstia, gratuidade, mansidão e humildade. O bom senso faz
parte da sabedoria popular, que ajuda muito no relacionamento entre as pessoas,
porque cada indivíduo é valorizado na sua própria identidade. É também
capacidade natural para reconhecer a diversidade no modo de agir de cada
pessoa.
A pessoa modesta
sabe se colocar na sociedade e reconhece seus limites, mas também põe seus dons
a serviço do irmão. Sabe ainda que suas forças e possibilidades veem de Deus e
se expõe como instrumento do bem comum. Age com simplicidade e não por
ingenuidade, porque tem consciência de sua responsabilidade como também
construtor de uma sociedade pautada pela coerência.
A gratuidade tem
uma dimensão muito bonita. Conforme o dicionário é a ‘condição ou estado do que é oferecido de graça’, ou, a ‘condição do que é espontâneo ou
injustificado’. Às vezes recebemos muito e doamos pouco, quase significando
a realidade de injustiça. A vida, e toda a dimensão de sua existência, é um
verdadeiro dom gratuito, que precisa ser preservado, inclusive com gestos
concretos de agradecimento.
O bom senso supõe
também a mansidão, que é uma capacidade interior de autodomínio, para não
perder o equilíbrio nos possíveis relacionamentos conflituosos. É a brandura de
gênio ou de índole; brandura na maneira de expressar-se; na doçura, na meiguice
e na suavidade. Isso se revela inclusive no confronto com as pessoas que agem
com maneiras mais agressivas, evitando levantar a voz de forma ruidosa e
provocativa.
Por fim, o bom
senso passa por um trajeto enraizado na força da humildade. Ela é uma virtude
caracterizada pela consciência das próprias limitações, mas também pela
modéstia e pela simplicidade. É realidade que contrasta profundamente com a
cultura do poder, do domínio e da primazia do dinheiro. Portanto, saber receber
e dar de graça, superando todo tipo de auto-suficiência.
Para que o bom senso seja bem entendido, a humildade
não pode ser prudência de quem é tímido, nem medo de se expor e nem expressão
de egoísmo. É só olhar para o jeito simples
de Jesus agir, principalmente em relação aos pobres, sem desprezar ninguém, mas
atento aos mais humildes. Ele teve preferência pelos sem nome na sociedade,
usando de bom senso para com todos.’
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