quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Consenso entre ortodoxos e católicos sobre sinodalidade e primado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘A Comissão Mista Internacional para o diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, cuja plenária concluiu-se em Chieti esta quinta-feira (22/09), chegou a um acordo sobre a adoção do documento intitulado ‘Rumo a uma comum compreensão da sinodalidade e do primado a serviço da unidade da Igreja’.

É o que informa o Departamento Sinodal para as Relações Eclesiásticas Externas do Patriarcado de Moscou, que em um comunicado em seu site, sublinhou também os desafios para o futuro. Para Moscou, ‘será difícil avançar no diálogo, se permanecer sem solução a questão das consequências eclesiológicas e canônicas do uniatismo’ (termo usado para designar os greco-católicos ucranianos com rito oriental, mas fieis ao Papa).


Oposição da Igreja Ortodoxa da Geórgia não obstaculiza a aprovação

A redação do documento foi iniciada no decorrer da precedente Sessão Plenária da Comissão - realizada em Amã, Jordânia, em 2014 – e concluída pelo Comitê de Coordenação da Comissão durante a reunião de 2015, em Roma.

Em Chieti – havia explicado uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé – os membros da Comissão serão chamados a avaliar se tal esboço espelha em maneira adequada o consenso atualmente existente sobre a delicada questão da relação teológica e eclesiológica entre Primado e Sinodalidade na vida da Igreja ou se será necessário continuar a aprofundar a temática’.


Consenso alcançado

Segundo o Patriarcado de Moscou, o consenso foi alcançado, mesmo que a Igreja Ortodoxa georgiana ‘tenha expresso desacordo com alguns parágrafos’ do documento. A declaração dos georgianos está contida em uma nota no comunicado final adotado pela Sessão Plenária. Uma ulterior mensagem sobre este tema será inserida também no documento conjunto, que será publicado em breve pela Comissão.

Trata-se de uma decisão encorajadora – sublinharam alguns analistas – visto que os ortodoxos não permitiram que o desacordo da Igreja georgiana impedisse a adoção do documento. Os georgianos ortodoxos estão demonstrando uma certa propensão em seguir pelo próprio caminho, também em relação a este tema. Nos trabalhos precedentes, o Concílio Pan-Ortodoxo de Creta, por exemplo, foram os únicos a oporem-se ao matrimônio entre ortodoxos e não-ortodoxos.


Uniatismo e o tema da próxima Plenária

Em Chieti, sede do atual encontro, não chegou-se a um acordo sobre o tema da próxima Sessão Plenária, que o Patriarcado de Moscou auspicia que possa debater a questão do uniatismo. Foi decidido que a escolha do tema será feita na reunião do Comitê de Coordenação da Comissão Mista, que terá lugar no decorrer de 2017.

Na Plenária de Chieti, o Chefe da delegação ortodoxa-russa, Metropolita Hilarion, advertiu que a ação da Igreja Greco-católica na Ucrânia é ‘inaceitável do ponto de vista da ética cristã’. O dedo é apontado diretamente contra o Arcebispo Mor de Kiev, Sviatoslav Shevchuk, cujas declarações anti-russas – segundo Moscou – ‘estão em contraste com o nosso diálogo e semeiam desconfiança entre ortodoxos e católicos’. Devemos estar conscientes de que dentro de nossas Igrejas existem pessoas que obstaculizam o nosso caminho e devemos recordar disto quando pensamos no futuro de nosso diálogo’.

Outro membro da delegação ortodoxa russa, o Arquimandrita Irineu, sublinhou que ‘será difícil avançar no diálogo católico-ortodoxo, se esta questão das consequências eclesiológicas e canônicas do uniatismo permanecer sem solução’. ‘O objetivo de nosso diálogo é o de chegar a um acordo sobre questões em que já estamos de acordo, mas devemos discutir também os problemas que nos dividem. E o tema do uniatismo é um problema extremamente atual, um daqueles centrais no segundo milênio’.

Nos trabalhos da Comissão Mista – presididos pelo Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e pelo Arcebispo de Telmessos Iob (Getcha), do Patriarcado Ecumênico – participaram dois representantes de cada uma das 14 Igrejas Ortodoxas autocéfalas, além de representantes católicos.’


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