quinta-feira, 30 de junho de 2016

Olhar positivo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘Com a viagem à Armênia o Pontífice realizou outra visita do coração, nascida já na Argentina do costume e da amizade com os filhos exilados de uma terra áspera como as suas pedras e doce como as melodias dos seus cânticos. E de modo análogo a imagem do seu povo é «uma vida de pedra e uma ternura de mãe» sintetizou o Papa Francisco, abrindo a longa conferência de imprensa no voo de regresso a Roma com a recordação daqueles dias : «tinha tantos contactos com os armênios, ia muitas vezes às suas missas», e também «uma coisa que normalmente não me agrada fazer» como os jantares, «e vós fazeis jantares pesados!», acrescentou sorrindo.

Na visita e na conversa com os jornalistas enlaçaram-se a dimensão ecumênica e a política, mas no sentido traçado por Paulo VI numa reflexão que remonta às primeiras semanas de pontificado, nas quais precisamente a «política papal» é definida «iniciativa sempre vigilante pelo bem do alheio». Hóspede de Karekin II, em quase todos os momentos da visita, o Pontífice foi acompanhado pelo «supremo patriarca e católicos de todos os armênios». E a viagem foi selada com a assinatura de uma declaração, mais um passo num «caminho comum já muito progredido» rumo à unidade. Que, como disse o Papa, não é «uma vantagem estratégica», e muito menos submissão ou absorção, mas adesão à vontade de Cristo para oferecer ao mundo o testemunho do Evangelho.

E é a história que ensina que ao longo dos séculos o testemunho cristão dos armênios atravessou provações tremendas, até aos massacres de há um século, «trágico mistério de iniquidade» que o Papa Francisco não hesitou em definir «genocídio». Sem intenções ofensivas ou reivindicativas, mas para repetir que as atrocidades infligidas então são «os sofrimentos dos membros do corpo místico de Cristo», como escreveu João Paulo II, e por conseguinte «nos pertencem», repetiu o seu sucessor, frisando que «recordar não só é oportuno», mas é «um dever». Como explica uma frase que o Pontífice escreveu de seu punho depois de ter prestado homenagem às vítimas no memorial de Tzitzernakaberd : a memória é «fonte de paz e de futuro».

O olhar positivo do Papa Francisco, reafirmado com tranquila determinação na longa conversa com os jornalistas, funda-se sobre a fé e sabe precisamente que a memória assim purificada se torna «capaz de se encaminhar por sendas novas e surpreendentes». E foram as veredas do encontro e da reconciliação que o Pontífice pediu que os jovens percorram, enquanto na declaração comum a oração se eleva «por uma mudança do coração» de quem persegue os cristãos e as outras minorias étnicas e religiosas no Médio Oriente.

Olhar positivo que na conferência de imprensa o Papa confirmou acima de tudo : falando do papel da mulher na Igreja, do reconhecimento das culpas dos cristãos pelas faltas que se acumularam ao longo da história, do concílio Ortodoxo de Creta, do diálogo ecuménico com os protestantes e da situação da União europeia depois do referendo britânico. Amparado pelo seu predecessor que se prepara para festejar o sexagésimo quinto aniversário de ordenação sacerdotal, definido com afeto «o homem que me guarda os ombros e as costas com a sua oração».’


Fonte :
* Artigo na íntegra


segunda-feira, 27 de junho de 2016

Pedro, a pedra capaz de amar

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Felipe Magalhães Francisco, 
Mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. 
Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, 
da Arquidiocese de Belo Horizonte. 


‘Sem dúvidas, Pedro é uma das personagens mais interessantes dos evangelhos. Figura muito ambígua, assume um papel muito importante de continuidade evangélica, liderando os depois-de-Jesus. A ambiguidade dessa personagem nos leva a pensar na clareza das comunidades primitivas, compreendendo, tão logo, que elas não eram compostas por perfeitos, mas por aqueles que cresciam e amadureciam enquanto estavam no Caminho. Pedro é o maior sinal disso.

Não é estranho pensar que os evangelhos nos convidem a ser como Pedro. É certo que percebemos o mundo a partir do lugar onde estamos. Ainda que bastante criticável, avaliamos o mundo, ‘assumindo-nos’ como fiel da balança. O nosso ponto de partida para o mundo é o nosso próprio umbigo. Percebe-se, assim, a importância simbólica que esse carrega. Toda essa visão de mundo e da realidade, nascida a partir de nós, perfeitamente lógica e compreensível, tende a ser sempre aperfeiçoada, afinal nosso ponto de vista é sempre limitado. Precisamos, então, assumirmo-nos Pedro.

Tão logo o início do ministério público de Jesus se deu, Pedro foi seduzido-interpelado ao seguimento. Chegando próximo a Jesus, esse olha para aquele, conhecendo-o pelo nome e já lhe confere uma transformação : ‘‘Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas!’ (que quer dizer Pedro)’ (Jo 1,42). O nome conferido a ele, por Jesus, revela uma missão, que só ficaria clara após a morte-ressurreição do Senhor, quando o Espírito Santo viria inaugurar um novo tempo na vida dos seguidores e seguidoras do Cristo. Jesus o chama pedra. Como não pensar, imediatamente, em firmeza? Que firmeza, então, teria o abrupto Pedro, se tudo parece revelar o contrário?

O mesmo Pedro que está sempre pronto a professar sua fé (cf. Lc 9,20), é aquele que não compreende bem, de imediato, o que significa depositar sua confiança naquele que reconhece como Cristo, e age de maneira impulsiva e inconsequente. Mas essa impulsividade e inconsequência são movidas por amor a seu Mestre : é por amor a Jesus, que Pedro não aceita a ideia de seu Messias ser morto, fazendo-o a agir como Satanás, ao tentar fazer com que o Cristo não assuma sua missão (cf. Mt 16,23); é por reconhecer a autoridade de Jesus, como enviado do Pai, que ele não aceita ter seus pés lavados pelo Senhor, mas, após se esclarecido por Jesus, deseja ser lavado por inteiro, para ter parte com o Cristo  (cf. Jo 13,8-9); e é por buscar proteger seu Senhor e Messias, que ele arranca a espada da bainha, e  corta a orelha daquele que queria tomar-lhe o Mestre (cf. Jo 8,10). Mesmo amando a Jesus a tal ponto, Pedro ainda é capaz de negá-lo três vezes (cf. Mt 26,69-75).

A única firmeza de Pedro é seu amor. Aqui, reside um paradoxo : a firmeza do amor está em suas contradições, pois ele é feito de tentativas, de ‘sins’ cotidianos. Quem ama não está pronto, mas vai superando seus desamores. É própria do amor a fragilidade, mas, ao mesmo tempo, a busca pela maturidade, pela completeza. Em Pedro, temos essa figura que deve nos inspirar em nosso próprio amor pelo Senhor. É porque amava o Senhor que, na terceira vez perguntado por Jesus se o amava, Pedro se entristeceu : ‘Pedro ficou triste, porque lhe perguntou pela terceira vez se o amava. E respondeu : ‘Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo’’ (Jo 21,17). E é porque amou o Senhor, que Pedro pôde ouvir, pela segunda vez, um ‘Segue-me’ (Jo 21,19). Agora, não apenas pelos caminhos da Galileia, mas na inteireza da vida doada. Sejamos Pedro : reconheçamos nossas fragilidades, mas, por amor, deixemo-nos, cotidianamente, fazer uma opção : ‘A quem iremos, Senhor? Tu tens palavra de vida eterna’ (Jo 6,68).’


Fonte : 
* Artigo na íntegra


sexta-feira, 24 de junho de 2016

Maus-tratos : Mundo cruel

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Carlos Reis,
Jornalista

O recurso à tortura, agressão, escravidão e outras formas de tratamento cruel, desumano ou degradante persiste por países de todo o mundo. Crianças e adultos são vítimas de violência física e psicológica e os seus direitos postos de parte por Estados, organizações e ‘protetores’.


‘Graves violações de direitos humanos e um ataque generalizado às liberdades e aos direitos fundamentais registam-se em todo o mundo, com mais de 122 países a realizarem torturas ou maus-tratos. A denúncia da Amnistia Internacional (AI) refere-se ao tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante entendidos como atos duros ou negligentes com a intenção de causar dor física ou mental, sofrimento ou humilhação às vítimas. Já a tortura constitui a forma agravada e deliberada.

Estes maus-tratos podem ser cometidos em postos de polícia, prisões, centros de detenção, hospitais ou instituições para doentes mentais e até ser infligidos em casa das vítimas. O manual Monitoring and Investigating Torture or CID Treatment aponta que alguns dos atos ou omissões incluem o «encerramento em celas escuras, punições, uso de correntes, assim como tratamento negligente como a privação de alimentos, água, higiene ou tratamento médico», especifica o documento da AI.

Compete aos Estados assegurar que todos os atos de tortura são ofensas abrangidas pela lei criminal, mas nem todas as constituições ou leis nacionais proíbem o uso de tortura. Muitos países argumentam que são incapazes de modificar as condições prisionais degradadas devido aos problemas económicos. Contudo, «muitas das ações tomadas pelos governos para restringir os direitos humanos são elas próprias bastante caras», ressalva o Codesria, conselho africano de pesquisa em ciências sociais.

As vítimas são os mais desfavorecidos, prisioneiros comuns e políticos, detidos, manifestantes, familiares de ativistas ou membros de grupos étnicos ou religiosos.


Estado dos direitos

Além da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada pelas Nações Unidas, a Declaração Islâmica Universal dos Direitos Humanos reprova a utilização da tortura. Também a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, convencionada pela União Africana, declara o direito à integridade física e moral.

Na África, depois de a União Africana ter declarado 2016 como o Ano dos Direitos Humanos, registam-se avanços positivos em diversos países. Na Mauritânia, uma nova lei baniu a detenção secreta e na Suazilândia presos políticos foram libertados.

Ainda assim, ao longo de 2015, «muitos governos responderam às ameaças à segurança com desrespeito ao direito internacional humanitário», denuncia a AI no relatório Report 2015/16. Operações de segurança na Nigéria, Camarões, Níger e Chade foram marcadas por prisões arbitrárias, detenções em regime incomunicável, execuções extrajudiciais e tortura.

Na América do Sul, a tortura e outros maus-tratos continuaram generalizados em 2015, com as autoridades a não processarem os responsáveis. «Os tratamentos cruéis, desumanos e degradantes são habituais nas penitenciárias e no momento da prisão», aponta a AI. Na Argentina, Bolívia e México, as denúncias de tortura não são investigadas e as forças de segurança mantêm-se impunes. Os maus-tratos são endêmicos nas prisões do Brasil.

Na Ásia, a tortura e outros maus-tratos durante a detenção são generalizados na China. Na Índia, mortes por tortura obrigaram à instalação de circuitos fechados de televisão nas prisões. A violência sexual entre detidos é denunciada no Sri Lanka e no Irão os tribunais continuam a impor punições como a flagelação e amputações.

Em Portugal, «pessoas das comunidades ciganas e de ascendência africana continuam a sofrer discriminação. Ocorrem novas denúncias de uso excessivo da força pela polícia e as condições prisionais continuam a ser inadequadas», de acordo com a AI.

A tortura permanece generalizada em todo o mundo. É alarmante que alguns dos responsáveis por estes atos criminosos considerem que nada têm de que se envergonhar.


Fonte :
* Artigo na íntegra

Comunicar Boas Notícias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Dom Rodolfo Luís Weber,
Arcebispo de Passo Fundo, RS


‘A celebração do nascimento de São João tem a marca da alegria. A liturgia da Igreja recorda que João é um dom gratuito de Deus. O nome João significa ‘Deus se mostrou misericordioso’. Isto se mostra de diversas maneiras : a idade avançada de seus pais, ninguém na família tinha este nome e seu pai volta a falar quando dá o nome ao filho. Mais tarde, São João irá preparar e anunciar a presença de Jesus Cristo no meio de nós, uma presença que marca a história da humanidade. Além da festa religiosa, temos muitas festas juninas inspiradas em São João, cuja tônica é a simplicidade, a alegria e o humor.

A festa de São João provoca uma reflexão sobre o modo como se olha e se avalia a vida e o mundo. Cotidianamente, ocupa-se muito tempo para comentar as notícias de violência, corrupção, injustiças, polêmicas. Isto está presente na boca das pessoas e nos meios de comunicação. Isto é notícia e desperta interesse. Numa análise mais profunda da realidade e da vida percebe-se que esta é uma parte da verdade. Ver, julgar, criticar o que está errado é necessário. O profetismo de São João foi marcado por denúncias e um forte apelo à conversão. Foi um profeta incômodo e por isso foi martirizado.

Mas também foi o profeta que apontou em meio às realidades que denunciava uma luz ainda desconhecida, uma boa notícia, Jesus Cristo. Aquele que se preocupa com os pobres, que traz liberdade aos oprimidos, anuncia a graça, vive na verdade, prega a justiça, o amor e a paz. Convoca as pessoas a viverem fraternalmente e se amarem.

É só olhar ao nosso redor e perceberemos uma quantidade de gestos de amor, de atenção, de carinho. Nem é preciso fazer muito esforço. Uma infinidade de gestos individuais e institucionais de cuidado com a vida das pessoas, do meio ambiente, dos animais, acontecem permanentemente. Estas ações não requerem, nem necessitam de publicidade. Olhando na perspectiva cristã, vale a recomendação de Cristo, que a tua mão esquerda não saiba o bem que fez a mão direita.

Ver o bem existente é uma questão de justiça para com as pessoas e as instituições. O reconhecimento gera gratidão, gera emoção por saber que uma pessoa fez uma boa ação, um auxílio, um favor a alguém. Gratidão é uma espécie de dívida, é querer agradecer a outra pessoa por ter feito algo muito benéfico para alguém.

Ver e reconhecer o bem gera otimismo que é necessário para vivermos com as imperfeições nossas, dos outros e das instituições. O otimismo estimula à ação. É um remédio contra o azedume que contamina as relações humanas e pinta o mundo com cores falsas.

Se as notícias do mal são replicadas e amplificadas, com muito mais razão as notícias do bem devem ser comunicadas, repetidas e amplificadas.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Coreia do Norte : Cristãos perseguidos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Jorge Ferreira e Félix Lungu, 
Jornalistas


A Coreia do Norte lidera, há 14 anos consecutivos, a lista dos 50 países onde seguir a Cristo pode custar a vida. Professar o Cristianismo pode ter como consequências a discriminação, a prisão, o desaparecimento, a tortura e a execução pública.


‘O Cristianismo chegou à Coreia em finais do século XVII, mas só no começo do século XX houve um crescimento significativo, a ponto de a capital, Pionguiangue, passar a ser conhecida como a Jerusalém do Oriente.

A derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial significou o fim de 35 anos de domínio nipônico na península coreana (1910-1945). Kim Il-Sung, líder guerrilheiro que os Japoneses temiam e que se tornou popular entre os seus concidadãos, chegou ao poder e impôs um regime de ideologia comunista, apoiado pela ex-União Soviética.

De 1950 a 1953, a Guerra da Coreia foi uma tentativa da Coreia do Norte de invadir e dominar a Coreia do Sul. Neste período, muitos cristãos tiveram de fugir. Se antes da guerra o país contava com 500 mil discípulos de Jesus Cristo, dez anos mais tarde, a presença da Igreja era pouco visível, pois milhares tinham sido mortos, presos ou levados para áreas remotas. Desde então, a Igreja tem vivido na clandestinidade.


Perseguição religiosa

Na Coreia do Norte, atualmente liderada por Kim Jong-un, filho de Kim Il-Sung, a pressão sobre os cristãos acontece num nível muito elevado em todas as esferas da vida. O Governo não tolera qualquer atividade religiosa que seja considerada ‘ameaçadora’ à supremacia do Estado, nem quaisquer missionários. Por isso, neste país asiático é necessário manter a fé cristã como um segredo bem guardado, não só das autoridades, mas também de amigos, vizinhos e até mesmo da família. As razões para essa atitude são muito evidentes : quem for descoberto corre o risco de ser torturado e levado para a prisão ou campo de trabalho forçado, separado ou juntamente com a família. Muitos pais, pelo medo de serem descobertos, temem dizer até mesmo aos seus filhos que são cristãos.

Estima-se que haja mais de cinquenta mil cristãos presos em campos de trabalhos forçados na Coreia do Norte. Muitos outros milhares procuraram refúgio em países vizinhos, Coreia do Sul, China, Mongólia e Rússia.

Há quatro Igrejas controladas pelo Governo em Pionguiangue – duas protestantes, uma católica e outra ortodoxa. São usadas pelo regime para mostrar que há liberdade de religião, mas elas não funcionam como comunidades cristãs. Por não terem liberdade alguma, são proibidas de produzir ou importar materiais cristãos, por exemplo, ou de realizar qualquer atividade com jovens ou líderes. As Igrejas não registadas não podem, simplesmente, existir no país.


Igreja clandestina

O regime da Coreia do Norte é controlador. É a nação mais fechada do mundo, encabeçando, há 14 anos, a lista da Classificação da Perseguição Religiosa, elaborada anualmente pela organização cristã internacional Open Doors (Portas Abertas).

Em inquéritos realizados junto de refugiados que conseguiram escapar do país, há indícios de que, na região fronteiriça com a China, há uma Igreja clandestina. O culto acontece por meio de encontros ‘casuais’ de dois ou três cristãos em algum lugar público. Ali, oram discretamente e trocam palavras de encorajamento.

O povo coreano não abandona as suas raízes cristãs, apesar da tenebrosa perseguição de que é alvo. Um relatório recente do Governo dos EUA dá conta da existência de «inúmeros casos de membros de Igrejas clandestinas presos, maltratados, torturados ou mortos devido às suas crenças religiosas».

Desconhece-se quantos cristãos estão presos na Coreia do Norte. Considerados ‘inimigos’ do Estado, eles não podem, em momento algum, revelar qualquer prática religiosa, sob risco de poderem ser presos de imediato. A descoberta de um simples exemplar da Bíblia em casa é suficiente para que toda a família seja deportada para um campo de concentração.

Sabe-se da prisão do missionário sul-coreano Kim Jeong-wook, condenado em Outubro de 2013 a trabalhos forçados quando procurava dar abrigo e alimentos a norte-coreanos que tentavam abandonar o país pela fronteira com a China. Nos últimos meses foram detidos mais cristãos : Kim Dong Chul, um norte-americano, e pelo menos dois cidadãos sul-coreanos, presos sob a acusação de espionagem. Um deles, Kim Kuk-gi, de 60 anos, foi detido por «espalhar propaganda religiosa em igreja clandestina».


O preso 036

Natural do Canadá, Hyeon Soo Lim foi preso na Coreia do Norte quando desenvolvia trabalho humanitário. Acusado de conspirar contra o regime, foi condenado a prisão perpétua com trabalhos forçados. Isolado de todos, nem a Bíblia pode ler.

No início de 2015, a família perdeu o contato com ele, depois de Soo Lim ter iniciado mais uma viagem até à Coreia do Norte, onde desenvolvia regularmente trabalho humanitário em nome da Igreja Presbiteriana da Coreia. Hyeon estava detido. Mas porquê? Este cristão, de 60 anos, nascido na Coreia do Sul mas com cidadania canadense, ia com alguma frequência ao mais hermético país do mundo onde a sua Igreja era responsável pela construção de um orfanato e de lares para idosos. Acusado de ‘atos contra o Estado’, foi condenado a prisão perpétua com trabalhos forçados.

Agora, sabe-se, o preso 036 é obrigado a abrir buracos nos terrenos do campo de concentração onde se encontra, durante oito horas por dia.

No entanto, ele não tem dúvidas de que no mundo inteiro há milhares de pessoas a rezar por ele. E pelos norte-coreanos que arriscam a vida só por se manterem fiéis a Cristo.’


Fonte :
* Artigo na íntegra

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Naturalização da miséria

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


‘O Papa Francisco voltou a ser ‘a voz dos últimos’ nesta semana quando chamou a atenção para o paradoxo da existência de obstáculos, sejam econômicos, sejam políticos nas ajudas para lutar contra a fome, enquanto as armas circulam livremente. A ocasião para esta dura crítica do Pontífice foi a sua primeira visita à sede em Roma do Programa Mundial Alimentar, PMA, organismo das Nações Unidas que se encarrega de distribuir ajudas alimentares.

No seu denso discurso diante dos representantes dos Estados que fazem parte do Conselho Executivo do PMA, Francisco fez notar um fenômeno estranho e paradoxal : ‘enquanto as ajudas e os planos de desenvolvimento se veem obstaculizados por intrincadas e incompreensíveis decisões políticas, por tendenciosas visões ideológicas ou por insuperáveis barreiras alfandegárias, as armas não; não importa a sua origem, circulam com uma liberdade jactanciosa e quase absoluta em muitas partes do mundo. E assim nutrem-se as guerras, não as pessoas. Em alguns casos, usa-se a própria fome como arma de guerra’.

As vítimas se multiplicam – observou o Pontífice – porque ao número de pessoas que morrem de fome e desnutrição se acrescenta a de combatentes que morrem no campo de batalha e de muitos civis que caem nos conflitos e nos atentados. Estamos plenamente conscientes disso, porém deixamos que a nossa consciência se anestesie.

E assim, as populações mais fracas não somente sofrem os conflitos bélicos mas também, por sua vez, sofrem com a falta de ajudas, que são bloqueadas. É urgente, - disse Francisco -, desburocratizar tudo aquilo que impede que os planos de ajuda humanitária cumpram seus objetivos. Nesta desburocratização da fome o Papa citou o papel fundamental do PMA.

Em outra parte do discurso o olhar de Francisco tocou a excessiva informação de hoje. Sim, ‘o excesso de informação de que dispomos gera gradualmente a habituação à miséria; ou seja, pouco a pouco tornamo-nos imunes às tragédias dos outros, considerando-as como qualquer coisa de ‘natural’; em nós gera-se a ‘naturalização’ da miséria’. E uma dura constatação de Francisco : ‘são tantas as imagens que nos invadem onde vemos o sofrimento, mas não o tocamos; ouvimos o pranto, mas não o consolamos; vemos a sede, mas não a saciamos. Assim, muitas vidas entram a fazer parte de uma notícia que, em pouco tempo, acabará substituída por outra. E, enquanto mudam as notícias, o sofrimento, a fome e a sede não mudam, permanecem’.

O Santo Padre voltou a levantar a sua voz para deixar claro que a falta de alimentos ‘não é algo natural, não é um dado óbvio nem evidente’. E destacou que em pleno século XXI, onde muitas pessoas sofrem deste flagelo, tudo se deve a uma egoísta e má distribuição dos recursos, a uma ‘mercantilização’ dos alimentos.

Francisco lamentou como o acesso aos alimentos se ‘transformou em privilégio de uns poucos’ e que o consumismo nos induziu a nos a acostumarmos ao supérfluo e ao desperdício cotidiano de comida. O Santo Padre não perdeu a oportunidade para recordar que o alimento que se desperdiça é como se fosse roubado da mesa do pobre, ‘de quem tem fome’ e exortou a identificar caminhos e modos que, afrontando seriamente tal problemática, sejam veículos de solidariedade e de partilha para com os mais necessitados.

Dirigindo a sua atenção ao PMA Francisco fez um apelo para que os Estados membros incrementem decisivamente sua real vontade de cooperar com essa finalidade para que o PMA, não somente possa responder às urgências, mas também possa realizar projetos sólidos e consistentes.

Aos funcionários do PMA, um pensamento ‘que brotou do coração’. Falando de improviso animou-os a seguirem avante. A não se deixarem vencer pelo cansaço, e a não permitam que a dificuldades os desencorajem. ‘Necessitamos sonhar e necessitamos de sonhadores’, disse Francisco.

Fiel à sua missão, a Igreja Católica quer trabalhar com todas as iniciativas que visam a salvaguarda da dignidade das pessoas. Para se tornar realidade esta prioridade urgente da ‘fome zero’, o Papa assegurou todo o apoio e sustentação.

Fazemos nossas as palavras do Observador da Santa Sé junto à agência humanitária das Nações Unidas, Mons. Fernando Chica Arellano, que através da Rádio Vaticano fez um convite, para que seja lido todo o discurso do Santo Padre, porque se trata de um texto verdadeiramente programático que ajuda todos. O Papa disse que não podemos considerar a fome um problema a mais, não podemos habituar-nos com o fato de existir famintos no mundo. Ou seja, os famintos devem realmente mexer com a nossa consciência e será a única maneira de realmente se fazer alguma coisa, não confiar somente nas palavras, mas começar a agir. ‘A fome deve pertencer aos museus, isto é, ao passado.’.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


domingo, 19 de junho de 2016

O desafio de ser cristão nas Arábias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Padre Olmes Milani,
Missionário Scalabriniano

‘É importante não generalizar conceitos ou preconceitos a respeito da presença do Islã, seja no Oriente Médio ou nos países do Extremo Oriente da Ásia.

Obviamente, as ações dos grupos radicais, no Iraque e Síria alimentam as notícias das redes da grande mídia internacional, dando a impressão de que o islamismo é igual em todos os lugares.

Expatriados de muitos países que trabalham e moram nos Emirados Árabes Unidos, Omã, Kuwait, Barhein, Qatar e Jordânia, respiram ares bastante diferentes.

Certamente a experiência de praticar religiões que não sejam o Islã é muito diferente, se fizermos comparações com países de tradição e cultura cristãs.

Nos Emirados Árabes Unidos, a presença islâmica é avassaladora. São 5.251 mesquitas espalhadas sobre um território, relativamente pequeno, de 83.600 quilômetros quadrados.

Salas de oração, em centros e edifícios comerciais e parques, reforçam ainda mais a atmosfera islâmica do país. Em qualquer parte da cidade, é possível ouvir os chamados para a oração, cinco vezes por dia, emitidos pelos poderosos sistemas de amplificação.

De acordo com o Research Center's Religion & Public Life Project : United Arab Emirates de 2010, dos quase 10 milhões de habitantes, 77% são islâmicos, 10% católicos, 4% hinduístas, 2% budistas e 7% outras religiões ou nenhuma.

Uma das preocupações comuns de quem vem morar por esses lados, e não é muçulmano, refere-se à prática de sua religião.

Será que é proibido seguir outra religião?’. ‘Será que existem igrejas cristãs?’. ‘Como será a vida de um cristão em um país muçulmano?’. Estas são as perguntas mais frequentes.

Os governantes dos Emirados Árabes Unidos e a mídia, sempre que uma ocasião se apresenta, manifestam seu orgulho de serem considerados um país aberto e tolerante com as outras religiões.

 As igrejas cristãs e templos no país são construídos em terras generosamente doadas pelos governantes de cada Emirado.

Atualmente, em todo o país, são 8 os locais destinados às igrejas e templos. Todas as atividades relacionadas com o culto e doutrinação devem ser realizadas, nas dependências das instituições religiosas.

As igrejas não têm permissão para exibir cruzes ou colocar sinos acima do teto. As construções devem ser baixas sem a opulência das igrejas cristãs de outros países.

Quase todas a igrejas católicas estão funcionando no limite de sua capacidade.

Além de usar todos os espaços internos dos edifícios, algumas delas levantaram grandes tendas para abrigar os frequentadores do sol, sob as quais participam das funções religiosas, transmitidas por telões.

Por ser um país islâmico cujo feriado semanal é a sexta-feira, as atividades religiosas dos cristãos e outras religiões sucedem neste dia em vez do domingo.

Para atender o maior número de participantes, são celebradas até 15 missas, numa sexta-feira, em 9 ou mais línguas. A curiosidade é que a liturgia dominical é celebrada nos três dias, sexta, sábado e domingo.

A Igrejas Anglicanas, além de edificarem seus lugares de culto, multiplicaram salas para acolher grupos cristãos que não possuem estrutura própria.

Aos estrangeiros e cidadãos locais, respeitar o Islã é tido como obrigatório. Blasfemar ou cometer sacrilégio contra qualquer religião é profundamente ofensivo.

O descumprimento dessas regras pode resultar em prisão ou deportação, previstas pela Constituição do país. O proselitismo com a intenção de converter muçulmanos é proibido, mesmo que seja praticado de maneira inconsciente.

O ensino de qualquer religião que não seja o Islamismo não é permitido, em escolas públicas. Por causa dessas questões, é importante ficar atento às manifestações de fé em público; por exemplo, colocar terços ou adesivos de cunho religioso no carro e usar vestimentas ou acessórios que ‘denunciem’ a sua crença, como as camisetas com imagens de santos e crucifixos. Isso é considerado como proselitismo.

Os muçulmanos têm muita dificuldade de aceitar qualquer ideia religiosa que não seja estritamente monoteísta. Embora não concordem com a definição de Deus Uno e Trino, os cristãos são bem vistos, por serem considerados ‘do Livro’, uma forma que se refere aos cristãos e judeus, por serem monoteístas.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


quinta-feira, 16 de junho de 2016

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  Sociedade dos Amigos Fraternos de Thomas Merton convida a todos para a 
exibição gratuita do filme Homens e Deuses
em memória dos 20 anos transcorridos 
do sequestro e martírio dos monges trapistas 
do Mosteiro  de Nossa Senhora do Monte Atlas,  
em Tibhirine, na Argélia :

Dia 18 de junho, sábado, às 10:30h
na Reserva Cultural, sala 04 (antigo cine Gazetinha), 
Avenida Paulista, 900. 
  
Para maiores detalhes, acesse : 
  
Amalia Ruth Borges Schmidt
Coordenadora GLPTM-BR
11 3082-3552 / 11 96905-8106