‘O Papa Francisco
voltou a ser ‘a voz dos últimos’
nesta semana quando chamou a atenção para o paradoxo da existência de
obstáculos, sejam econômicos, sejam políticos nas ajudas para lutar contra a
fome, enquanto as armas circulam livremente. A ocasião para esta dura crítica
do Pontífice foi a sua primeira visita à sede em Roma do Programa Mundial
Alimentar, PMA, organismo das Nações Unidas que se encarrega de distribuir
ajudas alimentares.
No seu denso
discurso diante dos representantes dos Estados que fazem parte do Conselho
Executivo do PMA, Francisco fez notar um fenômeno estranho e paradoxal : ‘enquanto as ajudas e os planos de
desenvolvimento se veem obstaculizados por intrincadas e incompreensíveis
decisões políticas, por tendenciosas visões ideológicas ou por insuperáveis
barreiras alfandegárias, as armas não; não importa a sua origem, circulam com
uma liberdade jactanciosa e quase absoluta em muitas partes do mundo. E assim
nutrem-se as guerras, não as pessoas. Em alguns casos, usa-se a própria fome
como arma de guerra’.
As vítimas se
multiplicam – observou o Pontífice – porque ao número de pessoas que morrem de
fome e desnutrição se acrescenta a de combatentes que morrem no campo de
batalha e de muitos civis que caem nos conflitos e nos atentados. Estamos
plenamente conscientes disso, porém deixamos que a nossa consciência se
anestesie.
E assim, as
populações mais fracas não somente sofrem os conflitos bélicos mas também, por
sua vez, sofrem com a falta de ajudas, que são bloqueadas. É urgente, - disse
Francisco -, desburocratizar tudo aquilo que impede que os planos de ajuda
humanitária cumpram seus objetivos. Nesta desburocratização da fome o Papa
citou o papel fundamental do PMA.
Em outra parte do
discurso o olhar de Francisco tocou a excessiva informação de hoje. Sim, ‘o excesso de informação de que dispomos gera
gradualmente a habituação à miséria; ou seja, pouco a pouco tornamo-nos imunes
às tragédias dos outros, considerando-as como qualquer coisa de ‘natural’; em
nós gera-se a ‘naturalização’ da miséria’. E uma dura constatação de
Francisco : ‘são tantas as imagens que
nos invadem onde vemos o sofrimento, mas não o tocamos; ouvimos o pranto, mas
não o consolamos; vemos a sede, mas não a saciamos. Assim, muitas vidas entram
a fazer parte de uma notícia que, em pouco tempo, acabará substituída por
outra. E, enquanto mudam as notícias, o sofrimento, a fome e a sede não mudam,
permanecem’.
O Santo Padre
voltou a levantar a sua voz para deixar claro que a falta de alimentos ‘não é algo natural, não é um dado óbvio nem
evidente’. E destacou que em pleno século XXI, onde muitas pessoas sofrem
deste flagelo, tudo se deve a uma egoísta e má distribuição dos recursos, a uma
‘mercantilização’ dos alimentos.
Francisco lamentou
como o acesso aos alimentos se ‘transformou
em privilégio de uns poucos’ e que o consumismo nos induziu a nos a
acostumarmos ao supérfluo e ao desperdício cotidiano de comida. O Santo Padre
não perdeu a oportunidade para recordar que o alimento que se desperdiça é como
se fosse roubado da mesa do pobre, ‘de
quem tem fome’ e exortou a identificar caminhos e modos que, afrontando
seriamente tal problemática, sejam veículos de solidariedade e de partilha para
com os mais necessitados.
Dirigindo a sua
atenção ao PMA Francisco fez um apelo para que os Estados membros incrementem
decisivamente sua real vontade de cooperar com essa finalidade para que o PMA,
não somente possa responder às urgências, mas também possa realizar projetos
sólidos e consistentes.
Aos funcionários
do PMA, um pensamento ‘que brotou do
coração’. Falando de improviso animou-os a seguirem avante. A não se
deixarem vencer pelo cansaço, e a não permitam que a dificuldades os
desencorajem. ‘Necessitamos sonhar e
necessitamos de sonhadores’, disse Francisco.
Fiel à sua missão,
a Igreja Católica quer trabalhar com todas as iniciativas que visam a
salvaguarda da dignidade das pessoas. Para se tornar realidade esta prioridade
urgente da ‘fome zero’, o Papa
assegurou todo o apoio e sustentação.
Fazemos nossas as
palavras do Observador da Santa Sé junto à agência humanitária das Nações
Unidas, Mons. Fernando Chica Arellano, que através da Rádio Vaticano fez um
convite, para que seja lido todo o discurso do Santo Padre, porque se trata de
um texto verdadeiramente programático que ajuda todos. O Papa disse que não
podemos considerar a fome um problema a mais, não podemos habituar-nos com o
fato de existir famintos no mundo. Ou seja, os famintos devem realmente mexer
com a nossa consciência e será a única maneira de realmente se fazer alguma
coisa, não confiar somente nas palavras, mas começar a agir. ‘A fome deve pertencer aos museus, isto é, ao
passado.’.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
http://br.radiovaticana.va/news/2016/06/18/editorial_naturaliza%C3%A7%C3%A3o_da_mis%C3%A9ria/1238085
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