*Artigo
de Felipe Magalhães Francisco,
Mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.
Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações,
da Arquidiocese de Belo Horizonte.
‘Sem dúvidas,
Pedro é uma das personagens mais interessantes dos evangelhos. Figura muito
ambígua, assume um papel muito importante de continuidade evangélica, liderando
os depois-de-Jesus. A ambiguidade dessa personagem nos leva a pensar na clareza
das comunidades primitivas, compreendendo, tão logo, que elas não eram
compostas por perfeitos, mas por aqueles que cresciam e amadureciam enquanto
estavam no Caminho. Pedro é o maior sinal disso.
Não é estranho
pensar que os evangelhos nos convidem a ser como Pedro. É certo que percebemos
o mundo a partir do lugar onde estamos. Ainda que bastante criticável,
avaliamos o mundo, ‘assumindo-nos’
como fiel da balança. O nosso ponto de partida para o mundo é o nosso próprio
umbigo. Percebe-se, assim, a importância simbólica que esse carrega. Toda essa
visão de mundo e da realidade, nascida a partir de nós, perfeitamente lógica e
compreensível, tende a ser sempre aperfeiçoada, afinal nosso ponto de vista é
sempre limitado. Precisamos, então, assumirmo-nos Pedro.
Tão logo o início
do ministério público de Jesus se deu, Pedro foi seduzido-interpelado ao
seguimento. Chegando próximo a Jesus, esse olha para aquele, conhecendo-o pelo
nome e já lhe confere uma transformação : ‘‘Tu
és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas!’ (que quer dizer Pedro)’ (Jo
1,42). O nome conferido a ele, por Jesus, revela uma missão, que só ficaria
clara após a morte-ressurreição do Senhor, quando o Espírito Santo viria
inaugurar um novo tempo na vida dos seguidores e seguidoras do Cristo. Jesus o
chama pedra. Como não pensar, imediatamente, em firmeza? Que firmeza, então,
teria o abrupto Pedro, se tudo parece revelar o contrário?
O mesmo Pedro que
está sempre pronto a professar sua fé (cf. Lc 9,20), é aquele que não
compreende bem, de imediato, o que significa depositar sua confiança naquele
que reconhece como Cristo, e age de maneira impulsiva e inconsequente. Mas essa
impulsividade e inconsequência são movidas por amor a seu Mestre : é por amor a
Jesus, que Pedro não aceita a ideia de seu Messias ser morto, fazendo-o a agir
como Satanás, ao tentar fazer com que o Cristo não assuma sua missão (cf. Mt
16,23); é por reconhecer a autoridade de Jesus, como enviado do Pai, que ele
não aceita ter seus pés lavados pelo Senhor, mas, após se esclarecido por
Jesus, deseja ser lavado por inteiro, para ter parte com o Cristo (cf. Jo 13,8-9); e é por buscar proteger seu
Senhor e Messias, que ele arranca a espada da bainha, e corta a orelha daquele que queria tomar-lhe o
Mestre (cf. Jo 8,10). Mesmo amando a Jesus a tal ponto, Pedro ainda é capaz de
negá-lo três vezes (cf. Mt 26,69-75).
A única firmeza de
Pedro é seu amor. Aqui, reside um paradoxo : a firmeza do amor está em suas
contradições, pois ele é feito de tentativas, de ‘sins’ cotidianos. Quem ama não está pronto, mas vai superando seus
desamores. É própria do amor a fragilidade, mas, ao mesmo tempo, a busca pela
maturidade, pela completeza. Em Pedro, temos essa figura que deve nos inspirar
em nosso próprio amor pelo Senhor. É porque amava o Senhor que, na terceira vez
perguntado por Jesus se o amava, Pedro se entristeceu : ‘Pedro ficou triste, porque lhe perguntou pela terceira vez se o amava.
E respondeu : ‘Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo’’ (Jo 21,17). E é
porque amou o Senhor, que Pedro pôde ouvir, pela segunda vez, um ‘Segue-me’ (Jo 21,19). Agora, não apenas
pelos caminhos da Galileia, mas na inteireza da vida doada. Sejamos Pedro :
reconheçamos nossas fragilidades, mas, por amor, deixemo-nos, cotidianamente,
fazer uma opção : ‘A quem iremos, Senhor?
Tu tens palavra de vida eterna’ (Jo 6,68).’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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