*Artigo de Dom Demétrio Valentini,
Bispo de Jales
‘Neste domingo, 04 de outubro, dia
de São Francisco, começa em Roma o aguardado sínodo sobre a família. Ele se
prolongará até o dia 25 deste mês. Será seguido de perto, não só pela Igreja
Católica, mas por muita gente que intuiu que este sínodo não se limitará a
aprofundar um assunto, mas servirá de referência para a definição do
pontificado do Papa Francisco.
De fato, vai ficando cada vez mais
clara a estratégia do Papa. Com a realização de dois sínodos, um em seguida ao
outro, as atenções são direcionadas para um assunto que em si mesmo é
importante, mas que sobretudo serve de termômetro para medir a verdadeira
postura da Igreja diante dos problemas que a humanidade vive hoje.
Neste sentido, a família é a
realidade mais consistente que simboliza a humanidade inteira. Isto permite a
afirmação mais categórica e mais abrangente do mistério salvífico que somos chamados
a professar.
Se a realidade da família
representa bem a complexa existência humana, podemos fazer a grande afirmação
que resume nossa convicção cristã, e nos coloca numa perspectiva ampla e
inesgotável : Deus se compadeceu da família humana, e resolveu redimi-la,
enviando-nos o seu Filho Único, que desencadeou sua ação salvadora começando
por assumir uma família, e se inserindo através dela no contexto concreto da
humanidade.
Assim, se buscássemos uma realidade
representativa de toda a humanidade, não precisaríamos titubear : olhemos para
a família, e nela iremos encontrar os desafios que a trajetória humana nos
apresenta.
Esta prioridade que o Papa
Francisco vai dando à família, não é aleatória. Vai emergindo hoje, em toda a
sociedade, uma salutar preocupação pela situação da família. Talvez por ver
quanto se tornou adverso hoje o ambiente para uma vivência familiar das
pessoas, e quantos atropelos a família precisa enfrentar no contexto social e
cultural de hoje.
Em todo o caso, concordamos facilmente
que é dever do Papa sair em defesa da família, como ele fazendo de maneira
exímia.
O que nem todos concordam é com a
postura que o Papa Francisco propõe para uma ação concreta em defesa das
famílias. Pois a insistência do Papa em abordar a questão familiar, tem por
finalidade encontrar ações concretas que possam servir de apoio à família em
meio dos problemas que hoje ela enfrenta. Sua preocupação, portanto, é de ordem
pastoral. Consiste em encontrar meios concretos de apoiar as famílias, para
fortalecer uma verdadeira ‘pastoral
familiar’.
Neste breve tempo de pontificado,
com seus gestos e suas palavras, o Papa Francisco conseguiu assinalar com muita
clareza uma insistência que já se constituiu na marca definitiva do seu
pontificado. Ele propõe a misericórdia como fonte inspiradora de toda a atitude
da Igreja diante da família, e como inspiração do relacionamento cotidiano com
as pessoas.
Neste sentido, é muito
significativa a decisão do Papa em convocar um ‘jubileu extraordinário da misericórdia’, a se iniciar justo no dia
em que a Igreja conclui a celebração dos 50 anos do encerramento do Concílio,
no dia 08 de dezembro. Como a dizer que, agora, o caminho concreto para colocar
em prática a renovação eclesial proposta pelo Concílio, será a atitude de misericórdia,
pela qual se torna possível superar os impasses existenciais do convívio
humano.
O Pontificado do Papa Francisco
ficará na história com a marca registrada da misericórdia.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.news.va/pt/news/artigo-um-sinodo-um-pontificado
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