*Artigo
de Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de
São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
‘Domingo passado encerramos a 380ª Festa da Penha. Uma antiga e sempre nova
tradição dessa maravilhosa cidade. Como tempo de reavivamento, o Santuário da
Penha desempenhou sua missão importante neste Ano da Esperança, que tem como
gesto concreto a missão nas paróquias, bem condizente com o mês que vivemos, e
indicou os caminhos para iniciarmos o Ano do Jubileu da Misericórdia.
Ao concluir uma atividade intensa como esta, o olhar se volta para as
consequências : supõe-se que as pessoas ainda mais motivadas retomem com
renovado ardor suas vidas, com participação ainda melhor em suas comunidades
paroquias e movimentos. É como se saíssemos de um grande retiro espiritual e
nos relançássemos no caminho da missão de discípulos de Jesus Cristo, que O
querem anunciar cada vez mais na grande cidade.
Todo Santuário Arquidiocesano é aberto a todos para ali fazerem uma
experiência de Fé. Nestes tempos tão difíceis, necessitamos de lugares de
oração e peregrinação que nos coloquem – no silêncio do coração – bem mais
perto de Deus. Maria tem essa missão : além de rezar por nós e estar próxima de
nós, nos ajuda a ouvir a voz do Senhor, como também ela o fez quando o anjo lhe
anunciou que seria a mãe do Salvador.
Por isso a importância dos Santuários, e em especial desse nosso, que é
histórico e de antiga tradição.
O Santuário da Penha é um símbolo que marca a nossa cidade maravilhosa,
pois lá inúmeras pessoas vão para pedir e agradecer a tão Querida Mãe de Deus e
Nossa. Posso dizer que ao me fazer presente por várias vezes ao Santuário, pude
perceber como o povo bem participa das orações e das Santas Missas. Além de
fazer parte do patrimônio religioso, o Santuário da Penha também faz parte do
patrimônio cultural do Rio de Janeiro, pois, quem ao passar próximo, já logo
avista aquela bela Igreja construída no topo de uma pedra. Anualmente, o
Santuário realiza os festejos da padroeira no mês de outubro, como agora
estamos encerrando, promovendo a celebração de missas de hora em hora aos
domingos, shows religiosos, procissões luminosas, missas campais, apresentação
de grupos folclóricos, apresentação de corais e a festa na ladeira de subida ao
Santuário, com as tradicionais barracas de comidas típicas, doces diversos e
música ambiente.
Temos várias versões da origem da devoção. Além da explicação local do
milagre ocorrido no alto do Penhasco do Rio de Janeiro, uma versão (que não é a
única) vem de Portuga l: ali o culto de Nossa Senhora da Penha teria se
iniciado após a batalha na qual o rei Dom Sebastião morreu (na época os
portugueses não acreditavam que o rei havia morrido). Entre os portugueses que
conseguiram escapar da escravidão muçulmana, encontrava-se um escultor chamado
Antônio Simões, o qual prometeu à Virgem Santíssima fazer sete imagens se ela o
conduzisse novamente à sua pátria. Alcançando a graça solicitada, iniciou o
trabalho esculpindo as imagens e dando-lhes títulos por ele conhecidos de Nossa
Senhora. Ao chegar à sétima imagem e não sabendo que invocação dar-lhe, foi
aconselhado por um padre jesuíta a fazer a imagem de Nossa Senhora da Penha,
cujos milagres estavam sendo muito comentados. Executada a obra, colocou-a
ermida de Vitória, mas, algum tempo depois, edificou uma igreja próxima a
Lisboa, que se tornou conhecida como ‘Penha
de França’. Esta é uma das versões da devoção. Existem muitas outras, que
se perdem nos tempos da história.
No Brasil, a devoção a Nossa Senhora da Penha veio com os portugueses, e,
entres as várias ermidas, é conhecida como a primeira igreja em sua honra. Foi
erguida em Vila Velha, Espírito Santo, por volta de 1570. A segunda foi
edificada no Rio de Janeiro, após a fundação da Fazenda Grande ou Fazenda de
Nossa Senhora da Ajuda, na freguesia de Irajá. Tudo começou no início do século
XVII, por volta de 1635, quando o Capitão Baltazar de Abreu Cardoso subindo o
penhasco (a grande pedra) para ver as suas plantações, uma vez que era
proprietário de toda a área ao redor do atual Santuário, foi atacado por uma
venenosa serpente. Ele, que era devoto da Virgem Maria, quando se viu incapaz
de se defender, pediu socorro à Mãe de Deus, gritando : ‘Minha Nossa Senhora, valei-me!’. Nesse preciso momento surgiu um
lagarto, que é inimigo das serpentes, e aconteceu uma luta mortífera entre os
dois animais. Baltazar não perdeu tempo e fugiu.
Edificado à entrada da cidade, com o sorriso de Nossa Mãe Santíssima aos
que chegam quer pela Avenida Brasil ou Linha Vermelha, quer pela ponte
Rio-Niterói ou mesmo pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Santuário de
Nossa Senhora da Penha é, por excelência, o trono que Maria, Mãe de Deus,
escolheu no Rio de Janeiro para ser o centro de sua devoção entre nós. A este
Santuário acorrem milhares de peregrinos vindos de todo o Brasil e do exterior,
para lhe agradecer as preciosas graças alcançadas ou pedir a sua poderosa
intercessão junto ao Senhor. À medida que subimos a colina sagrada, sentimos
que o ambiente se torna mais místico, com as inúmeras e variadas demonstrações
de fé e amor, de uma profunda confiança na Virgem e em nosso Deus. São
incontáveis as pessoas que sobem a escadaria rezando, algumas ajoelhadas, e,
sobretudo, murmurando as orações do Rosário.
O Santuário da Penha é um espaço de amor, devoção e fé que está presente na
vida dos cariocas há 380 anos (numa cidade que completa neste ano 450). No ano de 1819, o Santuário da Penha ganhou
sua famosa escadaria, com 365 degraus – um para cada dia do ano. Um tempo
depois, vieram mais dezessete degraus, totalizando 382. Ao longo desse tempo,
milhares e milhares de fiéis sobem a escadaria para pagar promessas, agradecer
as graças recebidas por nossa Senhora da Penha e fazer novos pedidos.
Atualmente, também é possível subir o Santuário usando um plano inclinado em 3
estágios desde o Largo da Penha.
Queremos neste título de Maria, Nossa Senhora da Penha, pedir a Virgem que
sempre nos ilumine e nunca nos faça perder a esperança. Esperança de uma
cidade, país e mundo melhor e, sobretudo, uma vida melhor e com mais alegria.
Maria é a mãe da esperança, o ícone mais expressivo da esperança cristã. Toda a
sua vida é um conjunto de atitudes de esperança, a partir do ‘sim’ proferido no momento da Anunciação.
Maria não sabia como poderia tornar-Se Mãe, mas confiou-Se totalmente ao
mistério que estava para se cumprir, e tornou-Se a Mulher da esperança.
Depois desses momentos de reavivamento, o nosso desejo é que todos
retomemos com maior ardor nossa vida na caminhada cristã como presença
transformadora nessa cidade. Ao concluir o mês de Nossa Senhora da Penha dentro
do mês Missionário e do Rosário, confio a Maria toda a nossa busca de semearmos
esperança e misericórdia. E agradeço a Deus por este sinal colocado no alto do
monte como indicador que aponta para cima para todos os que passam por nossa
região.
Nossa Senhora da Penha, rogai por nós!’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/artigo-nossa-senhora-da-penha
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