O dramático testemunho do
arcebispo caldeu de Aleppo, que acusa a Turquia, em particular, de subsidiar os
terroristas. E aos cristãos sírios diz : ‘Não abandonem o país’
‘‘A Europa não pode se contentar em fornecer
ou proclamar acolhida aos refugiados, porque a maior parte deles quer
permanecer na própria terra’. Palavras que Alessandro Monteduro, diretor de
Ajuda a Igreja que Sofre Itália,
pronunciou na manhã de ontem abrindo a conferência ‘Cristãos da Síria : ajudem-nos a permanecer’, organizada pela AIS
na Associação de Imprensa Estrangeira. Palavras que resumem a mensagem deixada
por monsenhor Antoine Audo, arcebispo caldeu de Aleppo, convidado a contar a
situação que se vive no seu País devastado pela guerra.
Era
o ano de 2011, quando os primeiros sinais deste devastador conflito sugeriam
aos cristãos sírios uma premonição terrível : ‘Esperemos que não acabemos como os cristãos do Iraque (que fugiram em
massa de seu país após a guerra de 2003, ndr)’. Hoje, quatro anos depois,
aqueles pensamentos parecem estar acontecendo. Aleppo, que antes da guerra
tinha 150 mil cristãos, hoje, embora seja impossível reunir estimativas
precisas, tem cerca de 50 mil.
Essa
situação de Aleppo tornou-se extremamente difícil dada as dificuldades que
ocorrem durante algum tempo. ‘Por mais de
um mês ou dois, estamos sem água e sem eletricidade, em uma cidade de 2 milhões
e meio de habitantes’, explica monsenhor Audo, e acrescenta : ‘Especialmente com o grande calor deste
verão, vemos dia e noite jovens e crianças pelas ruas com garrafas vazias na
mão, tentando encontrar um pouco de água’.
Pior
ainda é quando os jovens são vistos em torno da cidade com metralhadoras na
mão. Existem muitas gangues armadas. O arcebispo caldeu explica que Aleppo,
hoje, está dividida em duas partes : uma nas mãos do exército regular e outra,
a parte mais antiga, ‘sob o domínio dos
terroristas’, que são dificilmente identificáveis, mas, segundo monsenhor
Audo, trata-se mais provavelmente do al-Nusra do que do Isis.
São ‘pelo menos cinco os pontos’ da cidade do
qual partem os ataques contra os cristãos, acrescenta o arcebispo. Que não
poupa acusações específicas contra países estrangeiros. Ele identifica a razão
do drama que vive Aleppo na vizinhança na fronteira com a Turquia, porque ‘todos os ataques vêm da Turquia, que acolhe,
treina e reabastece de armas grupos armados que estão destruindo a nossa região’.
Grupos
armados que participam de uma jihad em solo sírio, mas que vêm de outros
lugares. Além disso, acrescenta monsenhor Audo, ‘na tradição profunda da Síria não há perseguição religiosa’, porque
desde sempre o pluralismo
confessional é
uma particularidade deste ‘belo país,
onde tem de tudo para se viver’ Ou, pelo menos, no qual reinava a paz até
que foi inteiramente governado pelo regime de Bashar al-Assad. Os cristãos têm
saudades daqueles tempos. ‘Não existem
dois cristãos que possam afirmar o contrário...’, explica o arcebispo.
Questionado
por ZENIT sobre o quanto pesa nessa crise o embargo imposto ao governo sírio
pelos países ocidentais, monsenhor Audo afirma que ‘esta guerra tem o objetivo de destruir e depois dividir a Síria por
interesses regionais e internacionais’. Trata-se – explica o arcebispo – ‘do comércio de armas e de interesses
estratégicos’. Aqueles mesmos interesses estratégicos que levaram ‘à destruição do Iraque e da Líbia no passado
e do Yemen nos dias de hoje’.
E,
para completar a ruína de um País, o êxodo
em massa de seus habitantes se torna funcional. É por isso que Monsenhor Audo fala
sobre o seu compromisso, como pastor, de convencer os cristãos a não
abandonarem a Síria : ‘Como
bispo caldeu, conheço a experiência dos imigrantes cristãos que vieram do
Iraque para a Síria. É uma experiência
de morte, é uma experiência do fim da presença cristã. Portanto, hoje, faço
de tudo para convencer as pessoas a permanecerem, mas compreendo quem foge
porque não vê diante de si outra escolha...’. A falta de confiança no futuro –
acrescenta o prelado – é devido às responsabilidades da comunidade
internacional, que, há cinco anos, abdica de uma solução política e em vez
disso mostra - reitera Monsenhor Audo - ‘determinação’
para continuar a guerra ‘até a destruição
da Síria’.
Neste
cenário, a mídia desempenha um papel importante, recordou, no final da
conferência, Alfredo Mantovano, presidente de Ajuda a Igreja que Sofre Itália : ‘Parece, vendo as notícias, que só existe um problema na fronteira entre
a Sérvia e a Hungria. Mas aquele problema existe ali porque, uma multidão,
referindo-se só à Síria, mais de 10 milhões de pessoas não têm mais casa e
foram obrigadas a fugir do próprio País’. As causas desta diáspora foram
explicadas por monsenhor Audo.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.zenit.org/pt/articles/dom-audo-interesses-internacionais-por-tras-da-destruicao-da-siria
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