*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
O papel fundamental dos leigos, além da caridade, está na
evangelização pelo testemunho da vida quotidiana.
‘O que é a Igreja? Qual é o pensamento
que nos vem de imediato à mente, sempre que ouvimos a palavra «Igreja»? Todos chegamos à mesma
conclusão : o papa, os bispos e os padres... Por vezes acrescentamos os
consagrados. Mas todo o batizado não é Igreja?
Recordo as minhas aulas de Direito Canônico
e recorro à minha apostila onde leio o Decreto de Graciano, do século XII : «Existem duas espécies de cristãos. Aqueles
que se ocupam com a liturgia e a oração e que se dedicam à contemplação : a
esses pede-se que estejam longe da confusão das coisas temporais. Estes são os
clérigos. Klêros quer dizer parte escolhida […] Existe outra espécie de
cristãos : os leigos. Laos quer dizer povo. Estes podem possuir bens temporais,
podem casar, cultivar a terra, ocupar-se da justiça civil, fazer ofertas e
pagar as décimas: e assim poderão salvar-se, fazendo o bem e evitando o mal.»
O Concílio Vaticano II procurou
destruir esta ideia, por isso referimo-nos a ele como o Concílio dos Leigos.
Porém, dos textos promulgados não emerge um desenho completo e orgânico do
papel destes na doutrina e na pastoral. Não era essa a intenção dos padres
conciliares. No entanto, o uso de conceitos como «Povo de Deus» ou «Comunhão»,
procuram esse ideal : a Igreja, graças ao Batismo, como participação de todo o
corpo eclesial.
Ao acompanhar o Papa Francisco nos seus
gestos e nas suas palavras, esta forma de Igreja entra em ruína... O apelo que
faz, respeitando os ministérios de cada um, destrói esta dualidade. A atenção
que dá aos pobres e a quem com eles trabalha é uma das suas marcas de água. Se
acompanharmos as homilias das celebrações em Santa Marta, vemos o cuidado com
que se refere aos leigos e a luta contra as «zonas de conforto» em que a hierarquia pode «cair em tentação».
A valorização inegável dos leigos está,
sobretudo, na ativa participação no ministério da Igreja, enquanto catequistas,
animadores litúrgicos, colaboradores na assistência aos pobres e doentes... Mas
se ficarmos apenas por esta colaboração, caímos, de novo, no clericalismo... Se
os vemos apenas como colaboradores ou como suplemento da ação do sacerdote,
favorecemos e perpetuamos esta dualidade e pomos em risco a construção de uma
verdadeira comunidade de batizados. Surge
assim, como necessária, uma formação mais profunda do que é ser Igreja, na
palavra e na ação.
Creio que o papel fundamental dos
leigos, além da caridade, está na evangelização pelo testemunho da vida
quotidiana. O Evangelho será melhor anunciado, quanto melhor for narrado por
cristãos adultos na fé no confronto com os outros adultos. Sem dúvida que o
clero, seja na condição de serviço à Igreja universal ou particular, terá
sempre a responsabilidade desse primeiro anúncio à comunidade humana. Mas é
impensável que seja o único. A Igreja precisa de pessoas comprometidas e
empenhadas em evangelizar o mundo.
Os leigos anunciam o Evangelho onde
vivem, por palavras e obras; vivem de várias formas o múnus profético, real e
sacerdotal recebido pelo Batismo; contribuem, através da sua especificidade,
para a compreensão do Evangelho na Igreja e do «nós» na vida eclesial.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuuEElVVAVLFGJQpFg
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