*Artigo
de Dom Demétrio Valentini,
Bispo de Jales
‘A
impressionante onda de migrantes, tentando entrar na Europa, está mostrando o
seu lado trágico, e a complexidade de suas causas.
A
situação tomou proporções assustadoras nestas últimas semanas, quando multidões
humanas, fugindo sobretudo da guerra na Síria, começaram a forçar as fronteiras
dos países da Europa Oriental, em demanda da Europa Ocidental.
O
sonho da maioria é entrar nos países mais ricos da Europa, na esperança de lá
encontrar sua sobrevivência, que nos seus países de origem está ameaçada.
Ao
mesmo tempo, continua o fluxo dos que se aventuram a atravessar o mar
Mediterrâneo, provenientes dos países pobres do norte da África, como a Líbia,
a Tunísia, a Argélia, o Marrocos.
São
muitos os ângulos que podem ser tomados como referência para entender esta
complexa situação e esta tragédia humana.
Uma
primeira constatação volta a mostrar sua evidência : é insustentável manter desigualdades tão
gritantes entre os países. Com a globalização, todos os países se
tornaram próximos. O mundo precisa se dar conta que, ou fazemos a globalização
da solidariedade, ou transformamos o mundo em cenário permanente de guerra.
Outra
constatação intriga agora a consciência coletiva da Europa. Durante séculos, os
países europeus, no regime do colonialismo, submeteram os países africanos à
dominação política e à exploração de suas riquezas naturais. Depois os
abandonaram à própria sorte.
Agora
todos se dão conta que teria sido muito melhor buscar em conjunto um
desenvolvimento sustentável de todos os países africanos. Se assim tivesse sido feito, não
estaria agora a Europa com o pesadelo de perder suas riquezas.
Outra
constatação é necessário fazer, referente ao Oriente Médio. O
Ocidente sempre apoiou os regimes ditatoriais daquela complexa região. Agora se
colhem os frutos amargos. Não
existem lideranças que possam administrar a complexa realidade daquela região
do mundo. As estruturas estatais são precárias, e o vazio político permite o
surgimento de aberrações inesperadas, que tomam forma de ‘Estado Islâmico’ ou de outras ditaduras que precisam ser
sustentadas pela ameaça constante à liberdade e à segurança.
Por
sua vez, a rica Europa começa a se dar conta que seus povos estão perdendo
vitalidade. São populações que vão envelhecendo, sem ânimo para se renovarem.
De acordo com projeções deduzidas de dados objetivos, se continuar esta
tendência de envelhecimento e de cansaço vital, a Europa precisará, não só
abrir as portas para que venham os migrantes, mas ir ao seu encontro,
suplicando que tragam sua energia vital, que sustente os empreendimentos
econômicos, e garanta a renovação da população.
Na
dinâmica atual, em quarenta anos a população da Alemanha baixará dos 81 milhões
atuais, para 70 milhões de habitantes. Talvez seja esta previsão que está
levando o governo alemão a estar mais disposto a acolher até quinhentos mil
migrantes por ano.
A
história mostra que os migrantes são portadores de vida nova. De 1890 a 1910,
os Estados Unidos receberam 17 milhões de migrantes. O país não seria o que é
hoje, sem a expressiva colaboração dos migrantes, em sua grande maioria
europeus. Eles querem viver.
Eles
podem ser bem vindos, se entendermos as lições da história.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.news.va/pt/news/artigo-tragedia-migrante
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