‘«Se os países europeus tivessem procurado
soluções sérias para conflitos como o da Síria e se tivessem dedicado tempo e
recursos suficientes à assistência humanitária no estrangeiro, a Europa não se
encontraria na atual situação». As palavras de Lina Kathib, durante um
período chefe do Carnegie Middle East
Center, um think tank com base em
Beirute que procura favorecer o desenvolvimento político e econômico da região,
são divulgadas pelo «International New
York Times» de domingo 6 de Setembro. Elas fornecem um original ponto de
vista sobre a emergência que nestes dias está a atravessar o velho continente,
porque documentam como a questão dos refugiados e do seu acolhimento é
considerada na sua região de proveniência. Região que, vale a pena recordar, já
faz um enorme esforço em apoio das pessoas em fuga da guerra na Síria.
Com
efeito, mais de
quatro milhões de sírios são
refugiados nos países vizinhos, distribuídos entre Turquia (que sozinha hospeda
quase metade), Líbano, Jordânia, Egito e Iraque. Segundo fontes acreditadas, os
refugiados sírios que apresentaram pedido de asilo em território europeu
representam apenas seis por cento do total. É sobre esta percentagem, deveras
mínima, que a Europa continua a estar dividida. E o fato, tendo sempre presente
um ponto de vista médio-oriental, parece bastante surreal. Precisamente porque
os países que atualmente hospedam o maior número de refugiados certamente não
podem considerar-se ricos como os europeus, nem igualmente estáveis. É
suficiente pensar no fragilíssimo Líbano, a braços com uma longuíssima crise
político-institucional que ainda o priva de um chefe de Estado, ou no
paupérrimo Iraque, que já conta três milhões de desalojados internos.
O
que impede então, poderia perguntar um observador do Médio Oriente, que a
Europa concorde uma política comum? Não é fácil dar uma resposta a esta
pergunta nem sequer a um observador europeu. Nestes dias foram usados rios de
tinta para procurar interpretar as diversas posições. O resultado foi um quadro
de cores muito contrastantes, dividido entre a solidária e louvável abertura de
países como a Alemanha e a Áustria – sem esquecer a Itália que em todos estes
meses esteve deveras na primeira linha na salvação de milhares de vidas humanas
– e o egoístico fechamento de outras Nações, que até há pouco puderam contar
com a ajuda dos seus vizinhos. Evidentemente tem-se dificuldade de aprender a
lição da história. Eis então a construção de barreiras, a militarização das
fronteiras e o repetir-se de aclamações baseadas em demagógicas avaliações
eleitorais.
Na
realidade, a Europa que se contende sobre algumas dezenas de milhares de
pessoas que devem ser acolhidas pecou sobretudo por inércia e agora peca por
miopia, pelo menos naquela parte que se obstina ao fechamento.
Inércia
porque o que está a acontecer era amplamente previsível, mas foi feito deveras
muito pouco para evitar a tragédia do povo sírio. Há anos que o responsável das
operações humanitárias da Onu na Síria, Yacoub El Hillo, adverte que a crise
devida ao conflito teria inevitavelmente levado ao colapso do sistema
internacional de ajudas, obrigando a população à fuga. «A falência do sistema de socorro é uma consequência do impasse
estratégico» declarou El Hillo. Um impasse para o qual a Europa contribuiu
em parte, ao aceitar um papel subordinado numa região, como o Mediterrâneo, que
ao contrário deveria constituir um interesse primário. A Europa desprovida de
uma política externa séria não soube esconjurar o prolongar-se de
sanguinolentas guerras e o afirmar-se do novo modelo de terrorismo
transnacional do chamado Estado islâmico.
Míopes
são ao contrário quantos pensam que a emergência dos refugiados – como a
questão mais ampla das migrações – se possa resolver fechando as portas. Como
já foi relevado, a pressão destina-se a aumentar, sobretudo da África,
continente do qual milhões de pessoas fogem para se salvar da fome e da guerra.
Jamais barreira alguma impedirá quem espera num futuro melhor para si e para a
própria família. Assim como nenhuma mãe, a não ser que seja obrigada, exporia
os seus filhos aos riscos de uma viagem arriscada no mar. Uma resposta poderiam
ser políticas verdadeiras de parceria destinadas sobretudo aos países
africanos. Políticas muito invocadas, mas muito pouco concretizadas.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.news.va/pt/news/os-paises-europeus-ainda-divididos-acerca-do-acolh
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