segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Os países europeus ainda divididos acerca do acolhimento - Inércia e miopia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  

‘«Se os países europeus tivessem procurado soluções sérias para conflitos como o da Síria e se tivessem dedicado tempo e recursos suficientes à assistência humanitária no estrangeiro, a Europa não se encontraria na atual situação». As palavras de Lina Kathib, durante um período chefe do Carnegie Middle East Center, um think tank com base em Beirute que procura favorecer o desenvolvimento político e econômico da região, são divulgadas pelo «International New York Times» de domingo 6 de Setembro. Elas fornecem um original ponto de vista sobre a emergência que nestes dias está a atravessar o velho continente, porque documentam como a questão dos refugiados e do seu acolhimento é considerada na sua região de proveniência. Região que, vale a pena recordar, já faz um enorme esforço em apoio das pessoas em fuga da guerra na Síria.

Com efeito, mais de quatro milhões de sírios são refugiados nos países vizinhos, distribuídos entre Turquia (que sozinha hospeda quase metade), Líbano, Jordânia, Egito e Iraque. Segundo fontes acreditadas, os refugiados sírios que apresentaram pedido de asilo em território europeu representam apenas seis por cento do total. É sobre esta percentagem, deveras mínima, que a Europa continua a estar dividida. E o fato, tendo sempre presente um ponto de vista médio-oriental, parece bastante surreal. Precisamente porque os países que atualmente hospedam o maior número de refugiados certamente não podem considerar-se ricos como os europeus, nem igualmente estáveis. É suficiente pensar no fragilíssimo Líbano, a braços com uma longuíssima crise político-institucional que ainda o priva de um chefe de Estado, ou no paupérrimo Iraque, que já conta três milhões de desalojados internos.

O que impede então, poderia perguntar um observador do Médio Oriente, que a Europa concorde uma política comum? Não é fácil dar uma resposta a esta pergunta nem sequer a um observador europeu. Nestes dias foram usados rios de tinta para procurar interpretar as diversas posições. O resultado foi um quadro de cores muito contrastantes, dividido entre a solidária e louvável abertura de países como a Alemanha e a Áustria – sem esquecer a Itália que em todos estes meses esteve deveras na primeira linha na salvação de milhares de vidas humanas – e o egoístico fechamento de outras Nações, que até há pouco puderam contar com a ajuda dos seus vizinhos. Evidentemente tem-se dificuldade de aprender a lição da história. Eis então a construção de barreiras, a militarização das fronteiras e o repetir-se de aclamações baseadas em demagógicas avaliações eleitorais.

Na realidade, a Europa que se contende sobre algumas dezenas de milhares de pessoas que devem ser acolhidas pecou sobretudo por inércia e agora peca por miopia, pelo menos naquela parte que se obstina ao fechamento.

Inércia porque o que está a acontecer era amplamente previsível, mas foi feito deveras muito pouco para evitar a tragédia do povo sírio. Há anos que o responsável das operações humanitárias da Onu na Síria, Yacoub El Hillo, adverte que a crise devida ao conflito teria inevitavelmente levado ao colapso do sistema internacional de ajudas, obrigando a população à fuga. «A falência do sistema de socorro é uma consequência do impasse estratégico» declarou El Hillo. Um impasse para o qual a Europa contribuiu em parte, ao aceitar um papel subordinado numa região, como o Mediterrâneo, que ao contrário deveria constituir um interesse primário. A Europa desprovida de uma política externa séria não soube esconjurar o prolongar-se de sanguinolentas guerras e o afirmar-se do novo modelo de terrorismo transnacional do chamado Estado islâmico.

Míopes são ao contrário quantos pensam que a emergência dos refugiados – como a questão mais ampla das migrações – se possa resolver fechando as portas. Como já foi relevado, a pressão destina-se a aumentar, sobretudo da África, continente do qual milhões de pessoas fogem para se salvar da fome e da guerra. Jamais barreira alguma impedirá quem espera num futuro melhor para si e para a própria família. Assim como nenhuma mãe, a não ser que seja obrigada, exporia os seus filhos aos riscos de uma viagem arriscada no mar. Uma resposta poderiam ser políticas verdadeiras de parceria destinadas sobretudo aos países africanos. Políticas muito invocadas, mas muito pouco concretizadas.’


Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.news.va/pt/news/os-paises-europeus-ainda-divididos-acerca-do-acolh

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