*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
Os religiosos e missionários são chamados a estar nas
fronteiras da Igreja e do mundo e ser um sinal de amor e esperança, sobretudo
para quem mais precisa.
‘Em Abril, houve um congresso em Roma
para formadores de todo o mundo no âmbito do Ano da Vida Consagrada. O evento
contou com a presença de 1200 participantes. Ao dirigir-se-lhes, o Papa
Francisco disse : ‘Vendo-vos assim
numerosos, não se diria que há crise vocacional, mas na realidade há, sem
dúvida, uma diminuição quantitativa. Com a escassez de vocações que existe, são
mais os formadores que os formandos. Isso é um problema.’
O papa falou de crise da Vida
Consagrada. Há quem prefira falar apenas de ‘encruzilhada’. Mas o número elevado das desistências parece apontar
para uma crise na linha do sentir do papa. Senão vejamos : a Igreja Católica
conta com cerca de um milhão de religiosos (irmãos, irmãs e padres). Mas cerca
de três a quatro mil, segundo a Santa Sé, desistem por ano deste estilo de
vida.
O fenômeno indica uma crise de identidade que terá múltiplas explicações : perda de aspectos essenciais para a vida
consagrada (oração, momentos de qualidade na comunidade, retiros), perda dos
valores evangélicos (fraternidade, simplicidade e autodoação) e a assunção dos
ideais da modernidade (individualismo, comodismo, prazer e materialismo). A
experiência de Deus, a vida comunitária e o compromisso apostólico diluem-se,
vive-se de rotinas e formalismos, perde-se a paixão e o profetismo e, por fim,
experimenta-se cansaço e desilusão.
‘O
Ano da Vida Consagrada questiona-nos sobre a fidelidade à missão que nos foi
confiada’, escreveu o papa na carta apostólica para este ano. Tal requer
que os institutos e os seus membros se deixem interpelar pelo Evangelho e
procurem ser fiéis ao seu carisma – e não se contentem com superficialismos, ou
se deixem enganar por meias-verdades. Para um instituto missionário, uma delas
pode ser aquela de dizer que ‘a Europa
também é missão’ e aceitar os mais variados empenhos pastorais sem muito discernimento.
Quando trabalhava nas Filipinas, na
revista World Mission, quisemos fazer um especial sobre a missão. Procuramos
peritos em Roma. Um dos textos, de um professor de Missiologia numa das
universidades pontifícias e originário do Oriente, discutia o mandato universal
de Jesus, em particular o conceito ‘confins
da terra’ no verso ‘Sereis minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da
Terra’ (Act 1, 8). Defendia ele que os ‘confins
da Terra’ se tinham invertido : vinham agora aos ‘centros tradicionais da Cristandade’ na pessoa dos turistas,
estudantes e imigrantes pelo que o mais importante seria cuidar deles aqui
entre nós. Portanto, já não seria preciso viajar para fazer missão : o ‘turismo missionário’, como ele o chamou,
já estaria ultrapassado.
Os imigrantes e os estudantes que
chegam à Europa precisam, seguramente, de ajuda. Mas a missão nas ‘periferias existenciais’ não se reduz
ao que pode ser feito por eles, nem a ‘missão geográfica’ está definitivamente
ultrapassada : periferias humanas e geográficas, frequentemente, coincidem. Os religiosos e missionários são
chamados a estar nas fronteiras da Igreja e do mundo e ser um sinal de amor e
esperança, sobretudo para quem mais precisa. Por isso é que o papa os desafia a
olhar com gratidão para o passado, viver com paixão o presente e abraçar com
esperança o futuro : ‘Vós não tendes
apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a
construir!’ Sem medo, com generosidade e alegria, deixando-se guiar pelo
Espírito em toda a sua imprevisibilidade.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuFVAkFZuAaceTzcYb
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