*Artigo de Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘O bispo francês era de uma grande
simplicidade. Participava como qualquer outro diretor nacional na nossa
assembleia anual das Obras Missionárias Pontifícias.
Quando lhe pedi se podia presidir à
celebração da missa, aceitou logo com alegria e só perguntou se podia fazer
tudo em francês. Claro que sim – disse-lhe eu, e acrescentei – afinal vivemos
depois do Pentecostes! A verdade é que mais de metade dos participantes
entendíamos bem a língua francesa.
Na sua homilia, comentou o ritual da
aliança de Deus com o povo de Israel no sopé do monte Sinai. O sangue com que
Moisés aspergiu o altar e o povo explicava, segundo ele, um aspecto fundamental
daquela aliança : Deus tinha pedido tudo o que queria, e o povo responde
simplesmente : ‘Faremos tudo o que o Senhor nos pede!’
Tudo?, perguntou o bispo. Quem pode
honestamente dizer tal coisa? Eu não consigo fazer tudo o que Deus me pede, e
não sei se algum cristão é capaz de tal coisa.
Mas naquele dia, ao pé do monte Sinai,
havia uma coisa nova : aquele sangue da vítima do sacrifício que tinham
oferecido significava que, a partir daquele momento, uma só vida – o sangue era
para eles o mais poderoso símbolo da vida – estava em Deus (representado pelo
altar) e no seu povo. Israel podia prometer o que prometia não pelas suas
próprias forças, mas porque Deus tinha entrado na sua vida. Havia agora uma
força em acção que era completamente nova. A aliança era possível, porque a
vida de Deus e a vida do povo tinham entrado uma na outra, e uma nova
realidade, um povo novo, estava a nascer.
O bispo lá continuou a dizer mais
coisas interessantes, mas eu fiquei a pensar como, afinal, quem realiza algo de
grande na vida é porque experimentou essa força tremenda que vem de uma
aliança, seja ela de que tipo for.
Penso num par de pessoas que se
encontram e se apaixonam : conforme o amor vai amadurecendo, a vida de uma
acolhe cada vez mais a vida da outra, até que a vida de cada uma só se explica
com a partilha que tem na vida da outra; e a aliança vai-se cimentando sempre
mais forte com o passar do tempo. Duas vidas que passam a fazer parte uma da
outra, fazendo nascer uma realidade nova : um casal, uma família. Para nós,
cristãos, esta aliança que todo o ser humano pode viver avança ainda mais : com
o sacramento do matrimonio torna-se sinal vivo do amor criador entre Deus e a
humanidade.
Gosto de pensar que também a vida missionária nasce do mesmo tipo de
experiência : uma aliança. Começa-se
com um relacionamento um tanto superficial; pouco a pouco, a experiência de
aliança começa a realizar-se. O que experimentamos da vida, os nossos projetos
e os sonhos que nos aquecem o coração vêm sempre dessa realidade cada vez mais
amada, e Deus vai-nos fazendo avançar para uma aliança cada vez mais profunda e
mais envolvente. Também neste caso é verdade que ‘é Deus quem faz os casamentos’. A promessa solene de dedicar a vida às missões, ou a
profissão religiosa de um missionário, tem todo o sabor de uma aliança. É como se o mesmo sangue, a mesma vida,
começasse a circular nas veias de quem espera pelo Evangelho, e nas veias do
missionário. É uma aliança que nos dá a força de prometer e realizar coisas
que, de outra maneira, seriam difíceis de imaginar.
O meu amigo bispo tinha razão :
experimentar a força de uma verdadeira aliança abre horizontes novos e
disponibiliza energias extraordinárias.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuFVAFpVEuDDaqmIYn
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