quarta-feira, 8 de julho de 2015

Aliança

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano

  
‘O bispo francês era de uma grande simplicidade. Participava como qualquer outro diretor nacional na nossa assembleia anual das Obras Missionárias Pontifícias.

Quando lhe pedi se podia presidir à celebração da missa, aceitou logo com alegria e só perguntou se podia fazer tudo em francês. Claro que sim – disse-lhe eu, e acrescentei – afinal vivemos depois do Pentecostes! A verdade é que mais de metade dos participantes entendíamos bem a língua francesa.

Na sua homilia, comentou o ritual da aliança de Deus com o povo de Israel no sopé do monte Sinai. O sangue com que Moisés aspergiu o altar e o povo explicava, segundo ele, um aspecto fundamental daquela aliança : Deus tinha pedido tudo o que queria, e o povo responde simplesmente : ‘Faremos tudo o que o Senhor nos pede!

Tudo?, perguntou o bispo. Quem pode honestamente dizer tal coisa? Eu não consigo fazer tudo o que Deus me pede, e não sei se algum cristão é capaz de tal coisa.

Mas naquele dia, ao pé do monte Sinai, havia uma coisa nova : aquele sangue da vítima do sacrifício que tinham oferecido significava que, a partir daquele momento, uma só vida – o sangue era para eles o mais poderoso símbolo da vida – estava em Deus (representado pelo altar) e no seu povo. Israel podia prometer o que prometia não pelas suas próprias forças, mas porque Deus tinha entrado na sua vida. Havia agora uma força em acção que era completamente nova. A aliança era possível, porque a vida de Deus e a vida do povo tinham entrado uma na outra, e uma nova realidade, um povo novo, estava a nascer.

O bispo lá continuou a dizer mais coisas interessantes, mas eu fiquei a pensar como, afinal, quem realiza algo de grande na vida é porque experimentou essa força tremenda que vem de uma aliança, seja ela de que tipo for.

Penso num par de pessoas que se encontram e se apaixonam : conforme o amor vai amadurecendo, a vida de uma acolhe cada vez mais a vida da outra, até que a vida de cada uma só se explica com a partilha que tem na vida da outra; e a aliança vai-se cimentando sempre mais forte com o passar do tempo. Duas vidas que passam a fazer parte uma da outra, fazendo nascer uma realidade nova : um casal, uma família. Para nós, cristãos, esta aliança que todo o ser humano pode viver avança ainda mais : com o sacramento do matrimonio torna-se sinal vivo do amor criador entre Deus e a humanidade.

Gosto de pensar que também a vida missionária nasce do mesmo tipo de experiência : uma aliança. Começa-se com um relacionamento um tanto superficial; pouco a pouco, a experiência de aliança começa a realizar-se. O que experimentamos da vida, os nossos projetos e os sonhos que nos aquecem o coração vêm sempre dessa realidade cada vez mais amada, e Deus vai-nos fazendo avançar para uma aliança cada vez mais profunda e mais envolvente. Também neste caso é verdade que ‘é Deus quem faz os casamentos’. A promessa solene de dedicar a vida às missões, ou a profissão religiosa de um missionário, tem todo o sabor de uma aliança. É como se o mesmo sangue, a mesma vida, começasse a circular nas veias de quem espera pelo Evangelho, e nas veias do missionário. É uma aliança que nos dá a força de prometer e realizar coisas que, de outra maneira, seriam difíceis de imaginar.

O meu amigo bispo tinha razão : experimentar a força de uma verdadeira aliança abre horizontes novos e disponibiliza energias extraordinárias.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuFVAFpVEuDDaqmIYn


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