Vicente,
diácono da Igreja de Saragoça, morreu mártir em Valência (Espanha), durante a perseguição
de Diocleciano, depois de ter sofrido cruéis tormentos. Seu culto logo se
propagou por toda a Igreja.
A Liturgia
das Horas e a reflexão no dia de São Vicente :
Ofício das
Leituras
Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 176, 1-2: PL 38, 1256) (Séc.V)
Vicente venceu naquele por quem o mundo foi vencido
A vós foi dado por Cristo
não apenas crerdes nele, mas também sofrerdes por causa dele (Fl 1, 29), diz a Escritura. O levita Vicente recebera e possuía um e
outro dom. Se não tivesse recebido, como os haveria de possuir? Tinha confiança
na palavra, tinha coragem no sofrimento.
Ninguém, portanto, se envaideça de sua força interior, quando fala;
ninguém confie nas próprias forças, quando é tentado; porque se falamos bem e
com prudência, é de Deus que vem nossa sabedoria e, se suportamos os males com
firmeza, é dele que vem a nossa força.
Lembrai-vos de como, no Evangelho, Cristo Senhor adverte os que são
seus; lembrai-vos do Rei dos mártires instruindo nas armas espirituais os seus
exércitos, exortando-os para a guerra, dando-lhes ajuda e prometendo a
recompensa. Ele que disse aos discípulos : No
mundo, tereis tribulações, logo acrescenta, a fim de consolar os medrosos : Mas tende coragem! Eu venci o mundo (Jo 16, 33).
Por que então nos admiramos, caríssimo, se Vicente venceu naquele por
quem o mundo foi vencido? No mundo,
tereis tribulações, diz o Senhor. O mundo persegue, mas não triunfa; ataca,
mas não vence. O mundo conduz uma dupla batalha contra os soldados de Cristo :
afaga-os para enganá-los, aterroriza-os para quebra-los. Que o nosso bem-estar
não nos preocupe, não nos assuste a maldade alheia, e o mundo está vencido.
Cristo acorre a ambos os combates e o cristão não é vencido. Se neste
martírio se considera a capacidade humana para suportá-lo, o fato torna-se incompreensível;
mas se nele se reconhece o poder divino, nada há que se admirar.
Era tanta a crueldade que afligia o corpo do mártir, e tanta a serenidade
que transparecia de sua voz; era tamanha a ferocidade dos suplícios que
maltratavam os seus membros, e tamanha a firmeza que ressoava nas suas palavras
que, de algum modo maravilhoso, enquanto Vicente suportava o martírio,
julgávamos ser torturada outra pessoa diferente da que falava.
E era realmente assim, irmãos, era assim mesmo : era outro que falava.
No Evangelho, Cristo prometeu também isto a suas testemunhas, ao prepará-las
para tais combates . Falou deste modo : Não
fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Com efeito, não sereis vós que
havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós (Mt
10, 19-20).
Por conseguinte, a carne sofria e o Espírito falava; e enquanto o
Espírito falava, não apenas era vencida a impiedade, mas também a fraqueza era
confortada.
Fonte :
‘In
Liturgia das Horas III’, pg. 1202, 1203
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