Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Abade da comunidade de Asmara, Eritreia
Guèze (ou
ge’ez) é a língua clássica da Abissínia, hoje usada somente como língua
litúrgica. No nosso mosteiro rezamos as horas do Ofício em guèze, mas as
leituras da Escritura e dos Padres são em tigrigna na Eritreia, e em amharique
na Etiópia; ambas as línguas derivam da guèze.
‘Desde o começo, a intenção da Igreja e do nosso
fundador, o venerável Abba Fesseha Ghebreamlak, era erigir um monaquismo
católico indígena, paralelo à Igreja ortodoxa, igreja irmã existente na
Abissínia (Etiópia e Eritreia).
Por iniciativa e mediação da Congregação para as
Igrejas orientais, a congregação cisterciense de Casamari tornou-se o berço do
projeto aceitando o futuro fundador Abba Fesseha Ghebreamlak, que era padre
diocesano, e outros que lhe seguiram os passos.
Foram formados segundo a Regra de São Bento, as
Constituições da congregação de Casamari, com a intenção de seguir o rito
guèze, uma vez retornados ao país, e de estabelecer a vida monástica
cisterciense na Eritreia.
Em 1940, o primeiro grupo de cistercienses, três
italianos e quatro Eritreus chegaram à capital da Eritreia, Asmara, para
começar o primeiro mosteiro num lugar chamado Beleza, a 13 km da capital. Mais
tarde, em 1948 o mosteiro foi transferido para Asmara.
Não era fácil ter dois ritos, latino e guèze, no
mesmo mosteiro durante os primeiros decenios, mas conseguiram caminhar juntos
sob a Regra de São Bento. Em 1960, quando o primeiro monge Eritreu Abba
Thimoteos Tesemma foi eleito superior, só o rito guèze era usado na Etiópia e
na Eritreia. Como observância comum cisterciense, vivemos segundo o lema : Ora
et Labora.
Vida Litúrgica
Nossa salmodia contem 150 salmos e 15 cânticos dos
profetas; é contínua, e é repartida em duas semanas. Isto significa que a cada
duas semanas começamos com o salmo 1.
A liturgia monástica das Horas, na semana tem :
1. 1º Noturno : os salmos e as leituras respetivas
da Escritura, seguidos de uma curta oração chamada Liton
2. 2º Noturno Salmos respetivos e leitura dos
Padres, seguido de Weddasie Mariam (louvor à Virgem Maria de Santo Efrem
o Sírio)
3. Laudes : Salmos respetivos seguidos de Kidan
Zalalit (do Testamentum Domini) I e II
4. Divina Liturgia (a santa missa)
5. Terça e Sexta às 12, 30
6. Vésperas às 18, 15 todos os dias (15, 30 nas
festas)
7. Capítulo e Completas às 20, 45, que terminam com
o Salve Regina em língua guèze.
Nos domingos e dias de festa, a nossa salmodia é o
Ofício Divino da catedral segundo a liturgia de rito guèze. Como de costume, na
véspera, as Vésperas são cantadas, e muito cedo as Vigílias começam ao canto do
galo, quer dizer às 3 ou 4 horas até à Divina Liturgia ou Santa Missa. Os
domingos comuns têm um tema próprio e um nome.
Utilizamos instrumentos tradicionais de música
durante o ofício catedral, tais como tambores, sistros, ou o bastão que dá o
ritmo, a dança litúrgica acompanhada com o bater das palmas e as vozes das
mulheres. Aqui também os fiéis se juntam à salmodia.
Temos nosso lecionário tradicional e calendário
litúrgico (12 meses de 30 dias, mais 5 – ou no ano bissexto – 6 dias
suplementares). Aqui inserimos algumas festas de santos e comemorações da
Igreja romana e beneditina. Segundo a tradição da Igreja católica
Etio-eritreia, a Divina liturgia quotidiana é celebrada ‘com voz baixa’, ou
cantada, enquanto na tradição da Igreja ortodoxa irmã é sempre cantada, ao
domingo, dias de festa e em ocasiões especiais, tais como casamentos, serviços
fúnebres, ou missa de defuntos, batismo de bebês, ou nos sacramentos de
confirmação e de comunhão (quer dizer os sacramentos de iniciação) que são
administrados simultaneamente etc.
O jejum é observado 200 dias por ano, com rigor. Na
tradição da Igreja ortodoxa, nos dias de jejum a Divina Liturgia é celebrada a
partir do meio dia, enquanto nós a celebramos de manhã. 
A música e o gestual do rito guèze são a reprodução
do serviço musical e do gestual celeste. Os cantores estão separados em
dois coros : do lado direito está simbolicamente o dos anjos querubins, do lado
esquerdo o dos serafins. A coreografia dos cantores simboliza a paixão de
Cristo.
O kabaro é um tambor de madeira em forma cónica em
pele de vaca, coberto por um tecido que representa o sudário que cobriu o corpo
de Cristo, ou o tecido que cobriu seu rosto, quando os soldados romanos o
esbofetearam. A pequena membrana do tambor simboliza o Novo Testamento, a
grande membrana o Antigo Testamento.
O bastão do coro representa a cruz de Cristo. A
cabeça representa a cabeça do cordeiro pascal, símbolo do Cristo.
O sistro representa a escada de Jacó. É feito de
dois montantes verticais, simbolizando o Antigo e o Novo Testamento. A junção
dos dois, no cimo formando a Bíblia. Segundo alguns, o som do sistro simboliza
o ruído das asas dos serafins e dos querubins no céu.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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