quarta-feira, 29 de outubro de 2025

O monaquismo cisterciense de rito guèze

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Dom Negusse Woldai, OCist

Abade da comunidade de Asmara, Eritreia

Guèze (ou ge’ez) é a língua clássica da Abissínia, hoje usada somente como língua litúrgica. No nosso mosteiro rezamos as horas do Ofício em guèze, mas as leituras da Escritura e dos Padres são em tigrigna na Eritreia, e em amharique na Etiópia; ambas as línguas derivam da guèze.

 

‘Desde o começo, a intenção da Igreja e do nosso fundador, o venerável Abba Fesseha Ghebreamlak, era erigir um monaquismo católico indígena, paralelo à Igreja ortodoxa, igreja irmã existente na Abissínia (Etiópia e Eritreia).

Por iniciativa e mediação da Congregação para as Igrejas orientais, a congregação cisterciense de Casamari tornou-se o berço do projeto aceitando o futuro fundador Abba Fesseha Ghebreamlak, que era padre diocesano, e outros que lhe seguiram os passos.

Foram formados segundo a Regra de São Bento, as Constituições da congregação de Casamari, com a intenção de seguir o rito guèze, uma vez retornados ao país, e de estabelecer a vida monástica cisterciense na Eritreia.

Em 1940, o primeiro grupo de cistercienses, três italianos e quatro Eritreus chegaram à capital da Eritreia, Asmara, para começar o primeiro mosteiro num lugar chamado Beleza, a 13 km da capital. Mais tarde, em 1948 o mosteiro foi transferido para Asmara.

Não era fácil ter dois ritos, latino e guèze, no mesmo mosteiro durante os primeiros decenios, mas conseguiram caminhar juntos sob a Regra de São Bento. Em 1960, quando o primeiro monge Eritreu Abba Thimoteos Tesemma foi eleito superior, só o rito guèze era usado na Etiópia e na Eritreia. Como observância comum cisterciense, vivemos segundo o lema : Ora et Labora.

Vida Litúrgica

Nossa salmodia contem 150 salmos e 15 cânticos dos profetas; é contínua, e é repartida em duas semanas. Isto significa que a cada duas semanas começamos com o salmo 1.

A liturgia monástica das Horas, na semana tem :

1. 1º Noturno : os salmos e as leituras respetivas da Escritura, seguidos de uma curta oração chamada Liton

2. 2º Noturno Salmos respetivos e leitura dos Padres, seguido de Weddasie Mariam (louvor à Virgem Maria de Santo Efrem o Sírio)

3. Laudes : Salmos respetivos seguidos de Kidan Zalalit (do Testamentum Domini) I e II

4. Divina Liturgia (a santa missa)

5. Terça e Sexta às 12, 30

6. Vésperas às 18, 15 todos os dias (15, 30 nas festas)

7. Capítulo e Completas às 20, 45, que terminam com o Salve Regina em língua guèze.

Nos domingos e dias de festa, a nossa salmodia é o Ofício Divino da catedral segundo a liturgia de rito guèze. Como de costume, na véspera, as Vésperas são cantadas, e muito cedo as Vigílias começam ao canto do galo, quer dizer às 3 ou 4 horas até à Divina Liturgia ou Santa Missa. Os domingos comuns têm um tema próprio e um nome.

Utilizamos instrumentos tradicionais de música durante o ofício catedral, tais como tambores, sistros, ou o bastão que dá o ritmo, a dança litúrgica acompanhada com o bater das palmas e as vozes das mulheres. Aqui também os fiéis se juntam à salmodia.

Temos nosso lecionário tradicional e calendário litúrgico (12 meses de 30 dias, mais 5 – ou no ano bissexto – 6 dias suplementares). Aqui inserimos algumas festas de santos e comemorações da Igreja romana e beneditina. Segundo a tradição da Igreja católica Etio-eritreia, a Divina liturgia quotidiana é celebrada ‘com voz baixa’, ou cantada, enquanto na tradição da Igreja ortodoxa irmã é sempre cantada, ao domingo, dias de festa e em ocasiões especiais, tais como casamentos, serviços fúnebres, ou missa de defuntos, batismo de bebês, ou nos sacramentos de confirmação e de comunhão (quer dizer os sacramentos de iniciação) que são administrados simultaneamente etc.

O jejum é observado 200 dias por ano, com rigor. Na tradição da Igreja ortodoxa, nos dias de jejum a Divina Liturgia é celebrada a partir do meio dia, enquanto nós a celebramos de manhã. 

A música e o gestual do rito guèze são a reprodução do serviço musical e do gestual celeste. Os cantores estão separados em dois coros : do lado direito está simbolicamente o dos anjos querubins, do lado esquerdo o dos serafins. A coreografia dos cantores simboliza a paixão de Cristo.

O kabaro é um tambor de madeira em forma cónica em pele de vaca, coberto por um tecido que representa o sudário que cobriu o corpo de Cristo, ou o tecido que cobriu seu rosto, quando os soldados romanos o esbofetearam. A pequena membrana do tambor simboliza o Novo Testamento, a grande membrana o Antigo Testamento.

O bastão do coro representa a cruz de Cristo. A cabeça representa a cabeça do cordeiro pascal, símbolo do Cristo.

O sistro representa a escada de Jacó. É feito de dois montantes verticais, simbolizando o Antigo e o Novo Testamento. A junção dos dois, no cimo formando a Bíblia. Segundo alguns, o som do sistro simboliza o ruído das asas dos serafins e dos querubins no céu.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.aimintl.org/pt/communication/report/122

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