Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre José Inácio de Medeiros, CSsR
‘Uma das narrativas bíblicas do Antigo Testamento
que, com certeza, mais chama a atenção dos leitores é o diálogo de Abraão com
Deus, quando o patriarca da nação invoca sua clemência para com duas cidades.
Na passagem o Senhor anuncia a destruição de Sodoma e Gomorra. O
motivo apresentado seria o elevado nível de promiscuidade e corrupção do povo.
Assim está escrito :
‘Disse mais o Senhor : Porquanto o clamor de Sodoma
e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito’ (Livro
do Gênesis, capítulo 18, versículo 20).
Abraão intercedeu pelo povo diversas vezes,
perguntando ao Senhor que se houvesse homens justos no meio dos ímpios, ele
pouparia a cidade :
‘Disse mais : Ora, não se irrite o Senhor, que
ainda só mais esta vez falo : Se porventura se acharem ali dez justos? E Deus
disse : Não a destruirei por amor dos dez’ (Livro do Gênesis, capítulo 18,
versículo 32).
As Sagradas Escrituras contam que o Senhor poupou a
família de Abraão enviando dois anjos à casa de Ló, seu sobrinho, que habitava
a região a ser destruída. Eles o orientam a deixar a cidade, junto com sua
família. Os anjos orientam ainda que ao sair da cidade não olhassem para trás,
para não virarem estátua de sal. E por não haver ali sequer dez homens justos,
a cidade foi destruída. A mulher de Ló, entretanto, ao se virar para traz
imediatamente foi transformada numa estátua de sal. Assim está escrito no Livro
de Gênesis
 ‘Então o Senhor fez chover enxofre e fogo
desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra’ (Livro do Gênesis, capítulo 19,
versículo 24).
Localização das cidades de Sodoma e Gomorra
Pouco se sabe de concreto sobre as cidades de
Sodoma e Gomorra. Elas estavam situadas próximas ao mar Morto. A primeira
referência bíblica a seu respeito está no livro do Gênesis (Gn
10,19). São as duas mais conhecidas, porém, na verdade, havia outras três
cidades ao longo do Rio Jordão. Essas cinco cidades eram conhecidas como as
Cidades da Planície.
Nas passagens que nos referenciam a destruição das
cidades é motivada pela promiscuidade de seus moradores. Porém, outra versão
indica que as cidades tenham sido destruídas porque seus habitantes eram cruéis
e pouco hospitaleiros com os estranhos. A falta de hospitalidade comum naquela
época era muito criticada por ser uma atitude contrária à fraternidade como está
no evangelho de Mateus (Mt 10, 14-15) que diz :
‘E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas
palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em
verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma
e Gomorra do que para aquela cidade.’
Outras informações históricas mostram que essas
Cidades da Planície tiveram um passado difícil por serem cobiçadas. Bem antes
do evento apocalíptico acontecer, Sodoma e Gomorra foram realmente devastadas
pela guerra. Quedorlaomer, Rei de Elon, atacou as cidades, massacrou seus
moradores e roubou todas as suas riquezas e alimentos.
Quem sabe por isso mesmo, seus habitantes tenham
justificado o não seguimento da vontade de Deus, ao se tornarem rudes e
hedonistas. Mas, no final, eles pagaram por isso da pior maneira possível.
O pecado de Sodoma e Gomorra
A Bíblia não deixa muito claro a razão da
destruição de Sodoma e Gomorra, mas o profeta Ezequiel (EZ 16,49) já apresenta
as cidades como expressão de pecado ao dizer :
‘Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã :
Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas
nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado.’
O Profeta Jeremias (Jr 23,14), por sua vez,
acrescenta um detalhe a mais nesta questão :
‘Mas nos profetas de Jerusalém vejo uma coisa
horrenda : cometem adultérios, e andam com falsidade, e fortalecem as mãos dos
malfeitores, para que não se convertam da sua maldade; eles têm-se tornado para
mim como Sodoma, e os seus moradores como Gomorra.’
Uma leitura mais simples mostra estas cidades
completamente sem lei, devido a sua riquezas e vida fácil proporcionadas pela
fertilidade das planícies próximas ao Rio Jordão. Um homem, porém, foi digno de
escapar da destruição se transformando em sinal de retidão daqueles que andam à
luz do Senhor.
A segunda carta de Pedro (Pd 2, 6-9) enfatiza como
Ló foi salvo por Deus, por ser ele um homem piedoso e justo. Ló e suas filhas
conseguiram escapar sãos e salvos. A esposa de Ló, no entanto, não conseguiu porque
ela desobedeceu a Deus e olhou para trás. Por isso ela foi transformada numa
estátua de sal.  Na bíblia, o olhar para traz tem a interpretação de quem
não conseguiu se desvencilhar das riquezas e da vida fácil.
Os antigos romanos tinham também sua versão da
história. O escritor romano Ovídio escreveu uma fábula que mistura
elementos da mitologia grega e romana, na história de Baucis e Filémon. Nessa
história, os deuses Zeus e Hermes (ou Júpiter e Mercúrio, respectivamente na
mitologia romana) viajaram para uma cidade disfarçados de homens, para
tristemente descobrir que seus habitantes não eram hospitaleiros a não ser
Filémon e sua esposa, Baucis, que os recebem e lhes dão comida. Os deuses então
se revelam, avisando o casal para fugir, pois eles destruiriam a cidade.
Existe também uma versão da história no islamismo.
A Sura Hude 11, 81 do livro do Alcorão tem uma versão ainda pior. Lá
está escrito :
‘Então viaje com sua família no escuro da noite, e
não deixe nenhum de vocês olhar para trás, exceto sua esposa. Ela certamente
sofrerá o destino dos outros.’
Razões da destruição das cidades
Não existe uma clareza nos motivos que levaram à
destruição das cidades impenitentes, mas em 2005, arqueólogos descobriram uma
área na Jordânia conhecida como Telel Hamã. As ruinas e os objetos ali
encontrados indicam possivelmente a localização das Cidades da Planície, com
evidências de que o lugar foi devastado pelo fogo. Objetos de cerâmica que lá
foram desenterrados mostram que a cerâmica se transformou em vidro depois de
ser exposta a temperaturas extremamente altas.
A falta de água, as altas temperaturas do deserto e
a terra que se tornou imprópria para a produção agrícola podem explicar as
razões dos habitantes abandonarem as cidades. Mas nas Sagradas Escrituras, mais
importante do que o fato em si, está a simbolização das cidades de Sodoma e
Gomorra como lugares de pecado que são abomináveis para Deus, que sempre
oferece, porém, a sua misericórdia e a possibilidade de conversão.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-06/curiosidades-biblia-sodoma-gomorra-existiram.html

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