sábado, 4 de outubro de 2025

Tessalônica, as Igrejas ortodoxas e o desafio tecnológico

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Beatrice Guarrera


‘‘A Igreja ortodoxa e sua teologia continuarão a se interessar pelos desenvolvimentos científicos, pela cultura e civilização, pelos eventos sociais e pelas condições históricas em que se desenrola a vida dos fiéis. As tensões que inevitavelmente existem entre a identidade cristã e a vida contemporânea devem servir como oportunidades para um encontro criativo, destacando a relevância do Evangelho cristão.’ Foi o que afirmou o patriarca ecumênico Bartolomeu, na cerimônia oficial de abertura do segundo congresso internacional pelo centenário da revista ‘Theologia’, realizado em Tessalônica, na Grécia, de 29 de setembro a 1º de outubro. O evento reuniu delegados das Igrejas autocéfalas e especialistas internacionais abordando o tema ‘Teologia ortodoxa e ontologia da tecnologia : consequências antropológicas, políticas, econômicas, sociais e culturais’. Na noite de segunda-feira, a esplêndida igreja de São Demétrio, em Tessalônica, ressoou com cantos sagrados executados pelo coro ‘José Estudita, arcebispo de Tessalônica’, aguardando a delegação para a cerimônia de abertura. O evento também contou com a presença do presidente da Grécia, Konstantinos Tasoulas, do arcebispo Hieronymos II de Atenas e de toda a Grécia, e dos demais primazes das Igrejas ortodoxas da Bulgária, Chipre e Albânia.

Fé e ciência como colaboradoras

‘Estamos particularmente contentes com o encontro entre a teologia ortodoxa e a tecnologia’, continuou Bartolomeu. ‘Neste encontro, fé e ciência não participam como adversárias, mas como colaboradoras e parceiras a serviço do homem.’ A visão de um choque inevitável entre fé e ciência, de fato, ‘surge de uma incompreensão da essência e do propósito dessas duas grandes forças espirituais, a saber, fé e ciência’. Em seu diálogo, continuou ele, ‘a verdade também se revela : a pessoa humana é sempre mais do que a ciência pode apreender, que a abordagem do homem como criação divina, à imagem e semelhança de Deus, confere à sua existência o maior valor possível, enquanto a negação do Transcendente leva a uma diminuição gradual do respeito pelo homem’.

O homem e a tecnologia

‘Nenhum intelecto - afirmou em seguida o patriarca ecumênico - pode ​​questionar plenamente os benefícios da ciência e da tecnologia. No entanto, também é inegável que a ciência não pode oferecer respostas e soluções para os grandes problemas existenciais e sociais que afligem a humanidade’. Portanto, é importante compreender a diferença entre as duas, sabendo que ‘a civilização tecnológica é uma tentativa dinâmica do homem de responder à questão central : o que é o homem? E, no futuro, a busca por novas respostas para essa questão continuará’. Nenhuma civilização, concluiu Bartolomeu, ‘constitui uma solução definitiva para o enigma humano; nenhuma civilização cria um paraíso terrestre para o homem’. Com esse entendimento havia partido os trabalhos da conferência na Faculdade de Teologia da Universidade Aristóteles de Tessalônica. Igreja, ciência, política e tecnologia foram o foco da primeira sessão da manhã, que deu origem a um animado debate. Entre os palestrantes, estavam também o metropolita Daniel de Sófia e patriarca da Igreja ortodoxa búlgara, e o primaz Georgios III, da Igreja ortodoxa de Chipre. Muitas questões foram abordadas : a tecnologia pode substituir a oração? A dimensão sacramental de uma liturgia é diminuída se transmitida online? Qual é a ontologia das mídias sociais e quais são as possibilidades de proclamar o Evangelho por meio delas?

‘A Igreja deve ter olhos sábios para ver o bem que há na tecnologia e alertar as pessoas sobre seus perigos’, explicou o primaz Joan, da Igreja ortodoxa autocéfala da Albânia, à mídia vaticana. ‘O problema não é a tecnologia, mas como a usamos.’ A pergunta a ser feita, segundo o primaz da Albânia, é se ‘podemos controlá-la e se ela pode ser vantajosa para nós, não apenas para o lucro, mas também pode ser uma vantagem para a nossa vida espiritual?’ Além disso, devemos reconhecer que todo ser humano deve sempre considerar as necessidades da alma tão importantes quanto as necessidades do corpo. ‘Devemos santificar a maneira como abordamos a tecnologia, para que ela possa beneficiar a humanidade e não ser uma ameaça a ela’, acrescenta Joan. Neste nosso tempo, a Igreja ortodoxa albanesa pode contar com um forte envolvimento dos jovens, acrescenta, numa época em que as pessoas estão ‘buscando’ um sentido, ‘mais do que nunca, a Igreja deve responder às suas perguntas. Esperando por elas, dando-lhes amor, compreensão e sempre lembrando que não somos um tribunal. Somos um hospital e não devemos julgá-las, mas ajudá-las.’

O que une o mundo é a fé em Deus

Numa época em que a nossa relação com o progresso tecnológico representa um desafio comum, a tecnologia pode unir Igrejas e povos? Georgios III, primaz da Igreja ortodoxa de Chipre, responde a esta pergunta numa entrevista à mídia vaticana : ‘A Igreja e o mundo usam a tecnologia, mas o que une as pessoas é a sua fé em Deus e o uso desta tecnologia como meio de alcançar os outros. Sendo a tecnologia neutra, pode ser usada positivamente, mas também pode ser usada destrutivamente. Dependendo da nossa humanidade e da nossa atitude, podemos usá-la a nosso favor.’ Portanto, o que devemos cultivar como cristãos é a relação com Deus, da qual flui a nossa relação com o mundo. Neste sentido, a Igreja de Chipre, que tem vivido divisões políticas e sociais durante décadas, pode transmitir uma importante mensagem de dignidade, disse Georgios III, um exemplo de Igreja que persevera diante do sofrimento.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-10/tessalonica-igrejas-ortodoxas-desafio-tecnologico.html

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