Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Os livros das Sagradas Escrituras como as temos
hoje foram escritos em diversos gêneros e formas de linguagem.
 Compreender esses gêneros literários nos ajuda a entender melhor a
intenção dos autores sagrados e a mensagem que eles querem comunicar. 
Isso evita também uma interpretação errônea ou apressada que pode surgir do
desconhecimento do estilo literário e ainda permite uma leitura mais sensata e
justa dos textos bíblicos que são compostos por uma variedade de formas
literárias. 
Por essa razão encontramos nas páginas das Sagradas
Escrituras algumas histórias que dariam verdadeiras novelas, aliás já foram
temas de filmes e outras produções como a de Sansão e Dalila.
A Era dos Juízes
A história de Sansão e Dalila, uma das mais
fantasiosas do Antigo Testamento, é carregada de simbolismo, se encaixando no
período histórico conhecido como Era dos Juízes, estando registrada no Livro
dos Juízes, capítulos 13 a 16.
No período as doze tribos de Israel, herança dos
doze filhos de Jacó, haviam retornado da escravidão no Egito depois da longa
caminhada pelo deserto, estando em processo de estabelecimento na Terra
Prometida. Cada tribo tinha uma certa autonomia, mas se uniam para combater os
inimigos comuns, sendo os filisteus os mais fortes. A formação de um único povo
somente seria concretizada no período seguinte conhecido como Era dos Reis,
tendo o seu auge com Saul, Davi e Salomão.
O período dos Juízes durou cerca de 200 anos,
aproximadamente de 1200 a.C. a 1010 a.C. Os hebreus estavam inseridos numa
realidade organizacional onde cada tribo era governada por um juiz que não
devia subserviência a nenhum rei ou coroa. Esse juiz tinha poderes quase que
ilimitados porque sua escolha foi feita por Deus e suas decisões eram vistas
como ação do próprio Deus, o Senhor Javé. Na pessoa do juiz era o próprio
governando o seu povo.
Deus age em favor de seu povo
Da mesma forma que acontece em relação a outros
povos e civilizações, o início de sua história vem recheado de mitos e lendas
que nem sempre podem ter uma comprovação. No caso do Povo de Israel, vários
desses mitos foram herdados de povos da região. Alguns personagens se confundem
entre história e ficção, como é o caso de Sansão e Dalila.
Nessa famosa história do Livro de Juízes, acontece
o relacionamento entre Sansão, um juiz israelita dotado de força sobrenatural
vinda de Deus, e Dalila, uma filisteia que com astucia usava de sua beleza para
conseguir os seus objetivos. Subornada pelos líderes filisteus, Dalila
enganou Sansão a fim de descobrir o segredo de sua força que estava em seu
longo cabelo de nazireu e o trai, cortando seu cabelo e entregando-o aos
filisteus, que o cegam e o aprisionam. 
Depois dessas coisas, ele se apaixonou por uma
mulher do vale de Soreque, chamada Dalila. Os líderes dos filisteus foram dizer
a ela : ‘Veja se consegue induzi-lo a mostrar para você o segredo da sua grande
força e como poderemos dominá-lo, para que o amarremos e o subjuguemos. Cada um
de nós dará a você treze quilos de prata’ (Jz 16,4-5)
Sansão tinha sido escolhido antes mesmo de nascer.
Um anjo apareceu à sua mãe que era estéril, anunciando que ela teria um filho
que seria nazireu, totalmente dedicado a Deus desde o ventre. Isso incluía
votos rigorosos de não beber vinho, não tocar em mortos e jamais cortar o cabelo,
pois sua força vinha desse voto sagrado.
Certo dia o Anjo do Senhor apareceu a ela e lhe
disse : ‘Você é estéril, não tem filhos, mas engravidará e dará à luz um filho.
Todavia, tenha cuidado, não beba vinho nem outra bebida fermentada e não coma
nada impuro; e não se passará navalha na cabeça do filho que você vai ter,
porque o menino será nazireu, consagrado a Deus desde o nascimento; ele
iniciará a libertação de Israel das mãos dos filisteus’ (Jz 13,3-5).
Desde jovem, Sansão demonstrou força sobre-humana.
Ele desafiou o domínio estrangeiro sobre Israel, sendo temido pelos inimigos e
respeitado pelos de sua gente, mas também era impulsivo e guiado por paixões.
É nesse ponto que entra Dalila, mulher do Vale de
Soreque, com quem Sansão se envolveu. Os filisteus, inimigos jurados de Israel,
subornam Dalila para que ela descubra o segredo de sua força. Mesmo tendo
escapado várias vezes de suas armadilhas finalmente Sansão cede revelando que
jamais havia cortado o cabelo, pois era nazireu consagrado a Deus.
Enquanto ele dormia em seu colo ela mandou que suas
tranças fossem cortadas. Com isso, Sansão perde sua força, sendo capturado
pelos filisteus, tendo seus olhos arrancados.
Feito prisioneiro, humilhado e cego, Sansão passa a
trabalhar para os filisteus que descuidam e deixam que seu cabelo volte a
crescer. O final da história é bem conhecido, pois Sansão, levado para o templo
dos filisteus, acaba matando a si mesmo e a milhares de filisteus.
E Sansão orou ao Senhor : ‘Ó Soberano Senhor,
lembra-te de mim! Ó Deus, eu te suplico, dá-me forças, mais uma vez, e faze com
que eu me vingue dos filisteus por causa dos meus dois olhos’. Então Sansão
forçou as duas colunas centrais sobre as quais o templo se firmava. Apoiando-se
nelas, tendo a mão direita numa coluna e a esquerda na outra, disse : ‘Que eu
morra com os filisteus!’ Em seguida, ele as empurrou com toda a força, e o
templo desabou sobre os líderes e sobre todo o povo. (Jz 16,28-30)
Para os escritores sagrados não existe a
preocupação com a historicidade ou não do personagem. O pano de fundo da
história de Sansão e Dalila é mostrar a fragilidade da força quando confrontada
com a sedução, e sobre redenção mesmo após a queda. Um símbolo profundo de como
a fé pode ser restaurada mesmo no fim e de como o orgulho e a fraqueza humana
podem levar à destruição.
A história é também um alerta sobre os perigos da
confiança equivocada, da fraqueza emocional e da manipulação em
relacionamentos. E por fim, é sinal da traição do povo para com a aliança
assinada com Javé, deixando o verdadeiro Deus de lado, seguindo outros deuses
que não podem salvar.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-09/curiosidades-biblia-sansao-dalila.html
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