domingo, 12 de outubro de 2025

Grandes figuras da vida monástica - Viktor Josef Dammertz

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

 Viktor Josef Dammertz (1929-2020)

*Artigo de Dom Cyrill Schäffer, OSB

Mosteiro de Santa Ottilien, Alemanha

 

‘Josef Dammertz nasceu no dia 8 de junho 1929 em Schaephuysen, no Baixo Reno. A família materna era dos Países Baixos. O pai, Wilhelm Dammertz cresceu numa quinta de Schaephuysen, até que, depois do seu casamento com Engelina Schepens, retomou uma mercearia que seu sogro, já falecido, tinha começado. Tiveram dois filhos, Josef e Marga.

Muito engajado na ação católica de juventude Neudeutschland aonde aprofundou sua fé e a arte de servir, Josef no fim dos estudos anunciou a seus pais que queria ser padre.

Foi assim que no segundo semestre de 1950 entrou no Collegium Borromaeum, o seminário da Diocese de Münster. Continuou seus estudos em Innsbruck, morando no colégio jesuíta Caniisianum. Na universidade pôde escutar professores conhecidos como Andreas Jungmann e Karl Rahner. Já em Innsbruck tinha conhecido, no terceiro ano de estudos, o mosteiro missionário de Sankt Ottilien na Baviera, e sentiu-se atraído pelo espírito de Igreja universal e a vida religiosa que aí reinava.

Josef Dammertz entrou, assim, em Sankt Ottilien no dia 12 de setembro de 1953, aonde recebeu o nome de Viktor, em memória do mártir paleocristão Victor de Xanten. Depois da sua primeira profissão, continuou os estudos de teologia na faculdade beneditina de Santo Anselmo em Roma, aonde se licenciou. Depois de ter terminado o percurso romano foi ordenado sacerdote em 1957. Seu lema como abade primaz exprime claramente sua visão de um sacerdócio de serviço : ‘Sacerdote de Jesus Cristo a serviço dos homens’.

Foi-lhe pedido que fizesse Direito Canônico, pois o abade Dom Suso precisava de um secretário que tivesse conhecimentos de direito canônico.  Doutorou-se ‘summa cum laude’, com uma tese sobre o ‘Direito constitucional das congregações monásticas beneditinas na história e no presente’. No fundo, com esta tese e levando em conta suas capacidades intelectuais, poderia ter entrado numa carreira acadêmica, mas nunca se pensou seriamente nisso.

No 6º Capítulo Geral de Sankt Ottilien, em 1960, P. Viktor foi chamado a ser secretário da Congregação, e o Arquiabade Suso nomeou-o, ao mesmo tempo, seu secretário pessoal. Mesmo se o cargo de secretário abacial é mais secundário, P. Viktor pôde exercer uma influência de moderador sobre o seu superior e equilibrar as tensões entre o arquiabade e a comunidade. Como especialista da Congregação em Direito Canônico, P. Viktor teve um papel essencial na revisão das Constituições dos Beneditinos Missionários, adotadas em 1970. Sua colaboração de consultor foi igualmente apreciada por outras Congregações beneditinas e não beneditinas. Participou também, de modo mais ou menos intensivo, na elaboração do direito próprio pós-conciliar de várias congregações beneditinas.

O arquiabade Suso teve de renunciar aos 65 anos, por causa de um câncer, no começo de 1975. Quando P. Viktor foi eleito seu sucessor, no dia 8 de janeiro de 1975, não foi uma grande surpresa.

Como novo abade do mosteiro, P. Viktor continuou a cuidar de seu predecessor, que tinha aguentado até à eleição, mas que veio a falecer alguns dias mais tarde, no dia 12 de fevereiro.

O arquiabade Dammertz escolheu como lema : ‘Iter para tutum’. Esta frase programática tirada do hino ‘Ave maris stella’ expressa por um lado sua piedade marial, mas também a consciência de viver em tempos de mudanças tumultuosas, durante os quais é preciso uma estrela que guia.

Assumindo suas funções, o arquiabade Viktor entrou numa grande rede de obrigações, e sobretudo de esperas. Tratava-se sobretudo de intervenções na diocese de Augsbourg quando das missas solenes, confirmações e manifestações de todo o tipo, no mosteiro e com seus numerosos anexos, como a escola, as paróquias, as cinco casas dependentes, as empresas e ateliers, e evidentemente, junto dos mosteiros da Congregação, que esperavam orientações da parte do Presidente da Congregação, sobretudo nas Igrejas jovens. O seu mandato de arquiabade só durou dois anos e oito meses, mas ele pôde contribuir para dar uma certa estabilidade à Congregação, no tempo pós-concílio. No seu próprio mosteiro ele pôde realizar a integração de um liceu (escola secundária) na rede escolar da diocese de Augsbourg, o que assegurou a perenidade da escola.

Em setembro 1977, o arquiabade participou do congresso dos abades da Confederação beneditina em Roma, aonde já era, há anos, secretário da Comissão Canónica, e tinha tido um papel determinante no refazer o direito próprio. Além da questão do futuro do Colégio de Santo Anselmo, o congresso também se debruçou sobre o novo direito religioso dos beneditinos. O arquiabade Viktor, como canonista, teve uma exposição inovadora sobre o assunto. Pouco depois, no dia 20 de setembro, o Abade Primaz Rembert Weakland surpreendeu os abades reunidos anunciando-lhes que acabava de ser nomeado arcebispo de Milwaukee, e que deixava as funções de Abade Primaz. Novas eleições foram imediatamente organizadas para encontrar um sucessor. A partir do dia 22 de setembro as vozes dos abades concentraram-se no arquiabade de Sankt Ottilien, que não somente estava à frente de um dos maiores mosteiros da ordem beneditina, mas tinha igualmente a competência em direito religioso, um assunto urgente. A comunidade de Sankt Ottilien foi avisada do que se passava em Roma. Mas quando o Prior Paulus Hörger enviou um fax em nome da comunidade ‘por favor, não aceite por nenhum pretexto’, o arquiabade já tinha respondido favoravelmente ao voto do Congresso dos abades e, deixava assim sua função de abade do mosteiro e de presidente da congregação de Sankt Ottilien.

Nos anos que se seguiram o Abade primaz Viktor conseguiu apaziguar as relações agitadas no seio do Colégio beneditino. Ele tinha a seu lado colaboradores altamente qualificados na pessoa do reitor Magnus Löhrer (1928-1999) e do Prior Gerhard Békès (1915-1999). Apesar do número de estudantes da Ordem ter baixado, a faculdade conheceu um período de prosperidade científica, graças a um certo número de professores de qualidade, que elaboraram juntos, entre outras, a obra de referência pós-conciliar ‘Mysterium Salutis’ (1965-1976).

O Abade Primaz deu muitas ajudas para a revisão necessária das Constituições da Congregação; participou na refundação do direito religioso e foi membro da Comissão para a interpretação autêntica do direito canónico. Depois de 14 anos passados à frente da Confederação Beneditina, foi reeleito duas vezes, o Abade Primaz Viktor visitou mais de 750 comunidades femininas e masculinas no mundo inteiro, em inúmeras viagens. Um dos pontos altos do seu mandato foi a organização do grande jubileu de São Bento em 1980, quando se celebraram os 1500 anos do nascimento do pai da Ordem Beneditina. Por esta ocasião 500 abades da família beneditina reuniram-se em Roma. Em Santo Anselmo, a biblioteca situada na antiga cripta da igreja abacial é a principal herança arquitetônica da atividade do Primaz.

Numa entrevista em 1992, expressou sua ideia do ministério dizendo que o abade Primaz deve promover nos mosteiros beneditinos a consciência que fazem parte de uma ‘grande comunidade mundial’. Face às forças centrífugas no seio da Ordem, o Abade Primaz tentou promover a unidade sem, no entanto, reduzir a diversidade legítima e vital no seio da Ordem. Seu serviço de mediação comportava também a construção de pontes entre as irmãs e as monjas da Ordem, que na conceção da época estavam separadas em mundos diferentes. No seus esforços de mediação o abade Primaz defendia o reconhecimento mútuo das opções beneditinas legítimas, que ele comparava a Marta e Maria. Sugeriu que os Secretariados separados para as monjas e para as irmãs, fossem reunidos, o que constituiu um passo importante no caminho atual ‘Communio Internationalis Benedictinarum’, a Comunhão Internacional das Beneditinas (CIB).

No Congresso dos Abades de 1992, o abade de Collegeville, Jerome Theisen (1930-1995) foi eleito para lhe suceder. Terminado o seu mandato em 20 de setembro 1992, o P. Dammertz tinha previsto retirar-se tranquilamente para o seu mosteiro, embora já se tivesse falado de uma nomeação para a Congregação para os Religiosos no Vaticano. Durante um retiro privado antes do Natal de 1992, o Núncio apostólico telefonou-lhe para lhe anunciar que o Papa João Paulo II o tinha nomeado 78º bispo de Augsbourg.

Na sua residência oficial, o palácio episcopal situado na frente da Catedral de Augsbourg, o bispo Viktor fez uma pequena comunidade doméstica com seu secretário Dr. Christian Hartl, sua irmã Marga e duas irmãs franciscanas de Maria Stern, com as quais celebrava a liturgia das Horas e a eucaristia. Ele próprio fala dessa casa como de um pequeno convento, e achava bom continuar um pouco a vida comunitária monástica no episcopado.

Entre os acontecimentos marcantes do seu mandato, convém citar alguns, importantes para o próprio bispo Viktor. Entre eles a assinatura da ‘Declaração comum sobre a doutrina da justificação’, no dia 31 de outubro 1999 em Augsbourg, o grande dia da fé por ocasião do ano santo 2000 no Rosenaustadion de Augsbourg e a canonização de Crescentia von Kaufbeuron em Roma, no dia 25 de novembro 2001, e, justo no fim do seu mandato, o ‘ano das vocações’, que proclamou em dezembro 2003 durante o qual devia-se rezar pelas vocações eclesiais, mas sobretudo descobrir cada caminho de vida como uma vocação e um dom. Como vemos nestes acontecimentos tão diversos o bispo Viktor podia e queria tocar diferentes registos, que englobavam tanto a piedade popular como os novos desenvolvimentos teológicos e eclesiásticos mundiais.

No dia dos seus 75 anos, 8 de junho 2004, o Papa João Paulo II aceitou seu pedido de demissão como bispo de Augsbourg, e o bispo emérito pôde se retirar para um lugar, que já era para ele um lugar de repouso familiar depois das férias : o convento das beneditinas e a Aldeia das crianças Santo Albano, aonde servia as irmãs como diretor espiritual. Sua irmã Marga, que já estava a seu lado como bispo, acompanhou-o. Muitos amigos e companheiros de caminhada visitaram-no nesse lugar, até que em janeiro 2015 uma fraqueza crescente, por causa da idade, o levou a mudar para a enfermaria de Sankt Ottilien. Lá, na grande sala de estar, podia-se visitá-lo, junto a uma pilha de livros e de revistas.

Um súbito declínio das forças não lhe permitiu estar presente na ordenação episcopal de seu segundo sucessor, e depois de alguns dias de fraqueza crescente, despediu-se em plena consciência. O funeral na catedral de Augsbourg foi presidido pelo cardeal Reinhard Marx, e seu sucessor Bertram Meier fez a homilia. O seu corpo repousa na cripta da catedral.

Depois desta resenha biográfica, é bom agora examinar mais de perto a marca beneditina do bispo religioso. Quando de uma primeira entrevista ao novo bispo, perguntaram-lhe, de forma um pouco provocadora, se o mundo monástico fechado era uma preparação útil para as muitas responsabilidades de um bispo. Ele reconheceu que o espaço monástico era, de fato, muito diferente da pastoral diocesana. Mas havia a vantagens ligadas à experiência. Entre as vantagens o bispo citava a importância do aprofundamento espiritual para o futuro da Igreja, e a apreciação da diversidade na unidade, pois isso exige aceitação mútua e diálogo. No final do seu mandato, o bispo Viktor sublinhou estas vantagens ainda de um modo mais marcante :

‘A vida monástica segundo a Regra de São Bento marcou-me profundamente, e os valores e atitudes fundamentais que me foram transmitidos me ajudaram como bispo. A imagem que São Bento dá do abade pode facilmente ser adaptada ao bispo. A procura de um equilíbrio entre ora et labora, entre oração e trabalho é também um desafio permanente para o bispo (…) A virtude da sábia moderação, que São Bento chama de discretio, e que considera a mãe de todas as virtudes (RB 64, 19) ajuda o bispo a não procurar soluções para os problemas com posições extremas’.

Com base na imagem beneditina do abade, Viktor-Joseph pôde estabelecer um pequeno espelho episcopal beneditino, e até viu que a direção de uma paróquia não se afastava assim tanto da de um mosteiro, nas questões fundamentais.

A linha de conduta do bispo, sempre centrada na mediação, criou um certo número de descontentes, que achavam que faltava energia e decisão. Mas no conjunto, o porta voz do Conselho presbiteral de Augsbourg resume assim : ‘A vida segundo a sábia Regra de São Bento do bispo Viktor, é para nós um exemplo e um encorajamento, particularmente no que diz respeito à espiritualidade e ao estilo de direção.’

Gostaria, na continuação, de retomar esta apreciação, pondo-a em questão : alguém com um cargo beneditino, no séc. XX e XXI, segue efetivamente as diretrizes da Regra de São Bento? Onde começa o vasto espaço de uma reapropriação criativa e pessoal?

O bispo Viktor falava do seu ministério assim :

Uma das tarefas mais importantes de um abade, é preservar, promover e recriar, sem cessar a unidade da comunidade, apesar de todas as oposições. Isto não é menos verdadeiro para um bispo diocesano numa Igreja, que sofre cada vez mais polarizações. Os diferentes grupos acusam-se rapidamente uns aos outros de não serem mais ‘católicos’, ou de formar uma seita. O papel do bispo é excluir excessos dos dois lados, mas quanto ao resto, é manter juntos na unidade eclesial os grupos que derivam, e esforçar-se por ser, sem cessar, um mediador’.

Podem-se deduzir duas coisas desta declaração. Por um lado, para descrever a direção eclesial o bispo Viktor recorre à imagem beneditina do abade no cap. 2 da Regra, segundo a qual o responsável de uma comunidade deve ‘servir aos temperamentos de muitos’ (RB 2,31). Por outro lado, alarga a consideração sábia da diversidade humana com a aspiração fundamental pela unidade e pela mediação, quer seja nas comunidades monásticas, ou na Igreja local e universal. Mesmo que isso corresponda à atitude beneditina, um tal serviço pela paz não se encontra explicitamente na regra de São Bento.

Um outro traço marcante do bispo Viktor Joseph, que se elogia regularmente, era a sua capacidade de ‘trabalhar em equipe’. As pessoas implicadas sublinham sua capacidade de escuta, a paciência e o tempo que dava aos outros. Podiam assim explicar seu ponto de vista e sentir a estima, mesmo em casos de divergências persistentes. É conhecido que a regra beneditina começa com um convite à escuta. Recomenda que o monge escute as palavras do mestre, quer dizer as palavras do Cristo e se abra a elas (RB Prol. 1). Em continuação deste princípio de base, o abade é convidado a ‘escutar o conselho dos irmãos’ RB 3, 2. Depois diz-se, contudo, que é ele quem decide o que é justo. Deve-se ver, assim, que a regra de São Bento contem certos traços de uma tomada de decisão democrática, mas que o modelo fica essencialmente uma monarquia. As restrições atuais do poder abacial por meio do Capítulo e por meio do Conselho são desenvolvimentos ulteriores. As representações da procura da verdade por meio do diálogo, que nos parecem evidentes, não correspondem aos reflexos do monaquismo primitivo.

Estas breves reflexões não visam contestar a inegável marca beneditina do estilo de vida e da direção do bispo Viktor Joseph, que, aliás, ele mesmo sublinhou. Querem, no entanto, convidar a usar de forma refletida a fórmula muitas vezes usada de ‘espiritualidade beneditina’. A Regra de São Bento oferece possibilidades de interpretação quase ilimitadas. Os meios tradicionalistas e integristas referem-se a ela, tanto quanto os cristãos liberais e abertos ao diálogo. No caso do bispo Viktor, trata-se antes de mais de um modo muito pessoal de pôr em prática o carisma beneditino, que vinha do seu caráter, de sua experiência de vida e de sabedoria. Talvez tenha mais a ver com Viktor Dammertz do que com São Bento. Talvez mais de acordo com a tradição beneditina, o bispo Viktor gostava de caracterizar esta tradição com a expressão ‘diversidade na unidade’. As duas são importantes, a diversidade e a unidade, mas como sublinha Viktor Dammertz, pondo a diversidade na frente : a diversidade tem uma pequena prioridade.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.aimintl.org/pt/communication/report/122

sábado, 11 de outubro de 2025

Nossa Senhora Aparecida

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Dom Jaime Vieira Rocha


‘Neste mês de outubro celebramos Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Há mais de 300 anos a pequenina imagem, encontrada no Rio Paraíba, é sinal de que ‘Deus ofereceu ao Brasil a sua própria Mãe’. Mas, ‘em Aparecida, Deus deu também uma lição sobre Si mesmo, sobre o seu modo de ser e agir. Uma lição sobre a humildade que pertence a Deus como traço essencial e que está no DNA de Deus. Há algo de perene para aprender sobre Deus e sobre a Igreja, em Aparecida; um ensinamento, que nem a Igreja no Brasil nem o próprio Brasil devem esquecer’ (PAPA FRANCISCO. Discurso no encontro com o Episcopado brasileiro. Rio de Janeiro, 27 de julho de 2013). 

Essas palavras de Papa Francisco expressam o sentido de uma relação de devoção que vai além de religiosidade. Ela manifesta o sentido de nossa própria vocação como discípulos missionários de Jesus Cristo. Nosso modo de ser e de agir é iluminado por essa manifestação de Deus, inspirada em toda manifestação divina na história da humanidade. Sim, Deus vem ao encontro dos homens e das mulheres, reúne e conduz com seu Espírito Santo, formando os corações na vivência das virtudes, especialmente na humildade, como seu Filho ensinou e se colocou como modelo : ‘aprendei de mim porque sou manso e humildade de coração’ (Mt 11,29). A devoção à Nossa Senhora Aparecida é um patrimônio da religiosidade popular, está enraizado em nosso povo. Ao olhar para a pequenina imagem de nossa Padroeira, somos chamados a nos deixar envolver pela ternura divina pois, o encontro da imagem de nossa Mãe do Céu é para nós um impulso à missão, alicerçada no discipulado do seu Filho, manso e humilde de coração. 

A devoção à Nossa Senhora Aparecida leva-nos a contemplar a beleza e o significado do Santuário Nacional de Aparecida, em São Paulo, lugar de peregrinação dos fiéis católicos, lá, encontramos a casa da Mãe de cada brasileiro. Todos os anos milhares de peregrinos acodem ao Santuário para honrar aquela que viveu o discipulado missionário como humildade e confiança na ação amorosa de nosso Deus. De lá, vem para todos nós o grande apelo da Igreja : todos os discípulos missionários reunidos sob o manto da Mãe do Céu morena, para juntos caminharmos anunciando a boa nova de Jesus Cristo.   

Que a nossa devoção à Nossa Senhora Aparecida nos lembre que a Mãe de Jesus é exemplo de mulher que se põe a caminho, que tem uma fé profética e que esteve sempre cheia de compaixão. São virtudes presentes na Virgem de Nazaré que nós, como seguidores de seu Filho somos chamados a experimentar e vivenciar. Que aprendamos a seguir Jesus do mesmo modo. Lembremo-nos : somos uma Igreja disposta a caminhar juntos, anunciando a obra de Deus e sua presença constante na vida dos homens e das mulheres, e parte da obra de Deus se realiza em nossa vida de discípulos missionários quando damos testemunho de compaixão. A sinodalidade que somos chamados a deixar que dê o toque em nossas atividades e em nossa compreensão das realidades de nossa Igreja, deve sempre fazer de nós testemunhas do evangelho da graça e da ternura divinas, destinadas a envolver todos os homens e mulheres. Que o exemplo da Padroeira do Brasil, Mãe Aparecida, seja seguido por todos!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.cnbb.org.br/nossa-senhora-aparecida-2/

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Eucaristia, fonte de vida e salvação

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Flavio Jose Lima da Silva


‘A Eucaristia é fonte de vida, é alimento espiritual que nos dá força e vitalidade, alimento que nos santifica. Nela, Cristo se torna esse alimento essencial para a nossa existência; é a ceia sacramental na qual Ele atualiza sua presença e sua entrega à comunidade cristã.

A Igreja nos ensina que a Eucaristia nasceu da vontade e do mandato do próprio Cristo. Nela, celebramos o encontro entre Deus e o ser humano em Cristo, na nova aliança selada na cruz. Portanto, o cristão deve fazer de tudo para estar sempre em comunhão com esse alimento que sustenta e conduz gradativamente à salvação.

O Catecismo da Igreja apresenta, antes de tudo, a Eucaristia como ‘sacrifício de louvor’ ao Pai, pela obra da criação e da redenção, e também como memorial sacrifical de Cristo e de seu corpo, a Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1356-1372). Na celebração da Missa não se realiza um novo sacrifício, nem se repete o de Cristo, mas atualiza-se sacramentalmente sempre o mesmo e definitivo sacrifício da cruz.

A chave para a compreensão do sacrifício eucarístico é o memorial. A Missa é o memorial sacramental do sacrifício único e irrepetível da cruz. Esse sacrifício cristão se cumpriu de uma vez por todas na entrega pessoal de Cristo, que superou e aboliu os sacrifícios de coisas e animais apresentados no Antigo Testamento.

Sendo assim, compreende-se que a Eucaristia é sacrifício, pois constitui a presença de Cristo crucificado, glorioso e intercessor, que apresenta diante do Pai, por nós, o seu sacrifício único para a nossa salvação. Esse oferecimento eucarístico do sacrifício de Cristo é, ao mesmo tempo, ato de fé, obediência e conformidade vital, que gera salvação.

Por fim, ao tomarmos consciência de que a Eucaristia é fonte de vida e salvação, alimento que nos sustenta em nossa caminhada de fé, devemos, como cristãos católicos, buscar constantemente esse alimento salvífico. Sem ele, nossa vida espiritual torna-se deficiente, sem sentido e sem rumo, pois Jesus Cristo se entregou gratuitamente como sacrifício, como alimento que sacia toda a nossa fome. A Eucaristia nos completa, purifica e santifica todo o nosso ser.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/eucaristia-fonte-de-vida-e-salvacao.html

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

As muralhas de Jericó

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


*Artigo do Padre José Inácio de Medeiros, CSsR


‘Comunidades e paróquias de várias partes do mundo costumam realizar hoje em dia o chamado ‘Cerco de Jericó’ que relembra o momento em que os israelitas, depois de sua longa caminhada pelo deserto, cercaram e conquistaram a cidade depois de vários dias de batalha.

A história da queda das muralhas de Jericó, apesar de ser uma das passagens mais conhecidas da Bíblia também não tem uma comprovação histórica, e esta não era a preocupação maior dos escritores sagrados, tendo um significado simbólico para os israelitas, representando a vitória da fé sobre os obstáculos humanos, a fidelidade de Deus às suas promessas e a necessidade de obedecer aos seus mandamentos. Além disso, ela mostra que Deus pode usar de pessoas improváveis, como Raabe, para cumprir os seus propósitos.

Além de sua importância histórica e religiosa, as muralhas de Jericó são um marco do desenvolvimento humano. Elas representam uma das primeiras expressões de urbanização e engenharia na história da humanidade. Construídas com recursos locais e técnicas rudimentares, elas são testemunhos do esforço coletivo de uma sociedade que já compreendia a necessidade de proteção, organização e infraestrutura. Mais do que estruturas físicas, as muralhas de Jericó simbolizam a transição de comunidades nômades para sociedades sedentárias e urbanas, marcando o início de uma nova era na civilização humana.

As muralhas eram uma poderosa fortificação que protegia a cidade de Jericó, localizada no vale do Rio Jordão, na atual Cisjordânia, hoje localizada a apenas 25 km de Jerusalém. A cidade é considerada uma das mais antigas do mundo e as evidências arqueológicas da ocupação humana datam mais ou menos do ano 8 mil a.C.

Suas muralhas foram construídas em diferentes períodos da história e a mais famosa delas data do século XV a.C., quando os israelitas, liderados por Josué, invadiram a terra de Canaã, prometida por Deus a Abraão e seus descendentes, atravessaram o Rio Jordao e cercaram a cidade.

As escrituras Sagradas relatam que os israelitas por 6 dias cercaram a cidade de Jericó, seguindo as instruções divinas pronunciadas por Josué que havia sucedido a Moisés na condução do povo. No sétimo dia, eles deram sete voltas ao redor da cidade, tocando trombetas de chifres de carneiros, gritando e conduzindo a Arca da Aliança com as Tábuas da Lei em procissão.

Depois disso, as muralhas caíram permitindo que os israelitas entrassem e conquistassem a cidade. As Escrituras narram ainda que a única família que foi poupada foi a de Raab, uma prostituta que escondeu os espiões que haviam sido enviados por Josué e que reconheceu o poder do Deus de Israel. Todo o resto foi destruído pelo fogo e pelos saques dos israelitas.

Na sétima vez, quando os sacerdotes deram o toque de trombeta, Josué ordenou ao povo : ‘Gritem! O Senhor lhes entregou a cidade!

A cidade, com tudo o que nela existe, será consagrada ao Senhor para destruição. Somente a prostituta Raabe e todos os que estão com ela em sua casa serão poupados, pois ela escondeu os espiões que enviamos. Mas fiquem longe das coisas consagradas, não se apossem de nenhuma delas, para que não sejam destruídos. Do contrário trarão destruição e desgraça ao acampamento de Israel.

Toda a prata, todo o ouro e todos os utensílios de bronze e de ferro são sagrados e pertencem ao Senhor e deverão ser levados para o seu tesouro.

Quando soaram as trombetas o povo gritou. Ao som das trombetas, e do forte grito, o muro caiu. Cada um atacou do lugar onde estava, e tomaram a cidade. Consagraram a cidade ao Senhor, destruindo ao fio da espada homens, mulheres, jovens, velhos, bois, ovelhas e jumentos, todos os seres vivos que nela havia. (Jos 6,16-21).

As muralhas de Jericó continuam sendo uma das construções mais enigmáticas da Antiguidade, associadas tanto à arqueologia quanto a relatos bíblicos. Sua fama procede tanto da narrativa bíblica encontrada no Livro de Josué, que descreve a conquista da cidade pelos israelitas após suas muralhas desabarem ao som de trombetas e gritos, como ao significado histórico da cidade que foi tantas vezes destruída e sempre reconstruída. Por isso, além do relato religioso que é mais simbólico que real, as muralhas e a cidade têm um significado histórico e arqueológico profundo.

Graças às escavações arqueológicas realizadas em vários períodos as muralhas da cidade foram descobertas, a começar das ruínas mais antigas de algumas estruturas fortificadas que datam do período neolítico, por volta de 8 mil anos a.C. Muros e torres feitos de pedra tinham fins defensivos, servindo também para finalidades religiosos ou cerimoniais.

No entanto, a historicidade desse evento é motivo de debate entre estudiosos. Algumas escavações chegaram a sugerir que Jericó não teria muralhas correspondentes às que são descritas na época em que os israelitas teriam conquistado a cidade, por volta do século XIII ou XV a.C.

Assim como outras passagens do Primeiro Testamento o relato bíblico pode ser entendido mais como uma tradição simbólica ou metafórica.  Independentemente de sua conexão com os relatos bíblicos, Jericó e suas muralhas continuam a fascinar arqueólogos, historiadores e religiosos, sendo um exemplo poderoso de como os vestígios do passado podem lançar luz sobre as complexas origens da sociedade e da cultura humanas.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-09/curiosidades-biblia-muralhas-jerico.html

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

As mulheres no Evangelho de Lucas

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Antonio Ferreira, cmf


‘O Evangelho de Lucas apresenta-se como aquele que mais concede espaço e protagonismo às mulheres na vida e na missão de Jesus. Desde os primeiros capítulos, observa-se uma valorização singular da presença feminina, não apenas como figuras secundárias, mas como discípulas e testemunhas privilegiadas da Boa-Nova. Esse traço particular reflete a intenção do evangelista de destacar a universalidade da salvação e a inclusão dos marginalizados, entre os quais as mulheres ocupam lugar central.

Já no início da narrativa, duas mulheres desempenham papel fundamental : Maria e Isabel. Maria é saudada como a cheia de graça (cf. Lc 1,28), modelo de fé e disponibilidade ao plano divino. Seu cântico, o Magnificat (cf. Lc 1,46-55), expressa a inversão das estruturas sociais e anuncia a justiça do Reino, elevando os humildes e derrubando os poderosos. Isabel, por sua vez, é retratada como mulher justa e repleta do Espírito Santo (cf. Lc 1,41), reconhecendo em Maria a mãe do Senhor. Ambas inauguram o protagonismo feminino no processo da encarnação e da promessa messiânica.

Outro exemplo é Ana, a profetisa (cf. Lc 2,36-38), viúva idosa que reconhece no Menino Jesus o cumprimento da esperança de Israel e anuncia sua chegada a todos os que esperavam a redenção. A presença de Ana, ao lado de Simeão, ilustra a complementaridade entre homens e mulheres no testemunho da fé.

Lucas apresenta também figuras anônimas que evidenciam a compaixão de Jesus. A viúva de Naim (cf. Lc 7,11-17) recebe dele a misericórdia ao ver restituído à vida o seu único filho. Esse gesto revela a profunda sensibilidade de Jesus diante da condição de fragilidade da mulher na sociedade patriarcal, na qual a perda do marido ou dos filhos significava abandono e miséria.

No caminho de Jesus, encontram-se ainda mulheres discípulas que o acompanham de perto : ‘Maria Madalena, Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes e Susana, e muitas outras que os ajudavam com seus bens’ (Lc 8,1-3). Esse trecho é notável por situar as mulheres entre os discípulos, em contraste com as estruturas sociais da época. Maria Madalena, em particular, será apresentada no fim do Evangelho como a primeira testemunha da ressurreição (cf. Lc 24,1-10), título de grande relevância, pois na cultura judaica o testemunho feminino não era juridicamente reconhecido.

Na narrativa de Lucas, destacam-se igualmente as irmãs Marta e Maria (cf. Lc 10,38-42). Marta representa a dedicação do serviço hospitaleiro, enquanto Maria é apresentada aos pés de Jesus, em atitude de escuta e discipulado. Ao tomar a defesa de Maria, o Mestre legitima a presença da mulher no espaço do discipulado e da escuta da Palavra, rompendo as barreiras culturais vigentes em sua época.

Assim, Lucas articula uma teologia inclusiva, em que as mulheres não são apenas beneficiárias da ação de Jesus, mas participantes ativas de sua missão. Como observa Brown (1999), a opção do evangelista por enfatizar essas personagens revela uma ‘dimensão universal do Evangelho, na qual os que eram considerados socialmente frágeis tornam-se portadores da revelação’. Bovon (2002) acrescenta que a figura feminina em Lucas funciona como ‘espelho da comunidade cristã nascente, chamada a viver a fé na escuta, no serviço e no testemunho’.

O Evangelho de Lucas apresenta as mulheres como presenças discretas, mas decisivas, na história da salvação. Elas acompanham Jesus desde o anúncio do Messias até a ressurreição, indicando que a mensagem do Reino de Deus irrompe barreiras culturais e sociais. Essa ênfase de Lucas constitui um convite permanente para o reconhecimento e valorização da missão das mulheres na vida comunitária e na evangelização.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/as-mulheres-no-evangelho-de-lucas.html

sábado, 4 de outubro de 2025

Tessalônica, as Igrejas ortodoxas e o desafio tecnológico

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Beatrice Guarrera


‘‘A Igreja ortodoxa e sua teologia continuarão a se interessar pelos desenvolvimentos científicos, pela cultura e civilização, pelos eventos sociais e pelas condições históricas em que se desenrola a vida dos fiéis. As tensões que inevitavelmente existem entre a identidade cristã e a vida contemporânea devem servir como oportunidades para um encontro criativo, destacando a relevância do Evangelho cristão.’ Foi o que afirmou o patriarca ecumênico Bartolomeu, na cerimônia oficial de abertura do segundo congresso internacional pelo centenário da revista ‘Theologia’, realizado em Tessalônica, na Grécia, de 29 de setembro a 1º de outubro. O evento reuniu delegados das Igrejas autocéfalas e especialistas internacionais abordando o tema ‘Teologia ortodoxa e ontologia da tecnologia : consequências antropológicas, políticas, econômicas, sociais e culturais’. Na noite de segunda-feira, a esplêndida igreja de São Demétrio, em Tessalônica, ressoou com cantos sagrados executados pelo coro ‘José Estudita, arcebispo de Tessalônica’, aguardando a delegação para a cerimônia de abertura. O evento também contou com a presença do presidente da Grécia, Konstantinos Tasoulas, do arcebispo Hieronymos II de Atenas e de toda a Grécia, e dos demais primazes das Igrejas ortodoxas da Bulgária, Chipre e Albânia.

Fé e ciência como colaboradoras

‘Estamos particularmente contentes com o encontro entre a teologia ortodoxa e a tecnologia’, continuou Bartolomeu. ‘Neste encontro, fé e ciência não participam como adversárias, mas como colaboradoras e parceiras a serviço do homem.’ A visão de um choque inevitável entre fé e ciência, de fato, ‘surge de uma incompreensão da essência e do propósito dessas duas grandes forças espirituais, a saber, fé e ciência’. Em seu diálogo, continuou ele, ‘a verdade também se revela : a pessoa humana é sempre mais do que a ciência pode apreender, que a abordagem do homem como criação divina, à imagem e semelhança de Deus, confere à sua existência o maior valor possível, enquanto a negação do Transcendente leva a uma diminuição gradual do respeito pelo homem’.

O homem e a tecnologia

‘Nenhum intelecto - afirmou em seguida o patriarca ecumênico - pode ​​questionar plenamente os benefícios da ciência e da tecnologia. No entanto, também é inegável que a ciência não pode oferecer respostas e soluções para os grandes problemas existenciais e sociais que afligem a humanidade’. Portanto, é importante compreender a diferença entre as duas, sabendo que ‘a civilização tecnológica é uma tentativa dinâmica do homem de responder à questão central : o que é o homem? E, no futuro, a busca por novas respostas para essa questão continuará’. Nenhuma civilização, concluiu Bartolomeu, ‘constitui uma solução definitiva para o enigma humano; nenhuma civilização cria um paraíso terrestre para o homem’. Com esse entendimento havia partido os trabalhos da conferência na Faculdade de Teologia da Universidade Aristóteles de Tessalônica. Igreja, ciência, política e tecnologia foram o foco da primeira sessão da manhã, que deu origem a um animado debate. Entre os palestrantes, estavam também o metropolita Daniel de Sófia e patriarca da Igreja ortodoxa búlgara, e o primaz Georgios III, da Igreja ortodoxa de Chipre. Muitas questões foram abordadas : a tecnologia pode substituir a oração? A dimensão sacramental de uma liturgia é diminuída se transmitida online? Qual é a ontologia das mídias sociais e quais são as possibilidades de proclamar o Evangelho por meio delas?

‘A Igreja deve ter olhos sábios para ver o bem que há na tecnologia e alertar as pessoas sobre seus perigos’, explicou o primaz Joan, da Igreja ortodoxa autocéfala da Albânia, à mídia vaticana. ‘O problema não é a tecnologia, mas como a usamos.’ A pergunta a ser feita, segundo o primaz da Albânia, é se ‘podemos controlá-la e se ela pode ser vantajosa para nós, não apenas para o lucro, mas também pode ser uma vantagem para a nossa vida espiritual?’ Além disso, devemos reconhecer que todo ser humano deve sempre considerar as necessidades da alma tão importantes quanto as necessidades do corpo. ‘Devemos santificar a maneira como abordamos a tecnologia, para que ela possa beneficiar a humanidade e não ser uma ameaça a ela’, acrescenta Joan. Neste nosso tempo, a Igreja ortodoxa albanesa pode contar com um forte envolvimento dos jovens, acrescenta, numa época em que as pessoas estão ‘buscando’ um sentido, ‘mais do que nunca, a Igreja deve responder às suas perguntas. Esperando por elas, dando-lhes amor, compreensão e sempre lembrando que não somos um tribunal. Somos um hospital e não devemos julgá-las, mas ajudá-las.’

O que une o mundo é a fé em Deus

Numa época em que a nossa relação com o progresso tecnológico representa um desafio comum, a tecnologia pode unir Igrejas e povos? Georgios III, primaz da Igreja ortodoxa de Chipre, responde a esta pergunta numa entrevista à mídia vaticana : ‘A Igreja e o mundo usam a tecnologia, mas o que une as pessoas é a sua fé em Deus e o uso desta tecnologia como meio de alcançar os outros. Sendo a tecnologia neutra, pode ser usada positivamente, mas também pode ser usada destrutivamente. Dependendo da nossa humanidade e da nossa atitude, podemos usá-la a nosso favor.’ Portanto, o que devemos cultivar como cristãos é a relação com Deus, da qual flui a nossa relação com o mundo. Neste sentido, a Igreja de Chipre, que tem vivido divisões políticas e sociais durante décadas, pode transmitir uma importante mensagem de dignidade, disse Georgios III, um exemplo de Igreja que persevera diante do sofrimento.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-10/tessalonica-igrejas-ortodoxas-desafio-tecnologico.html

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Que vos agrade o cantar dos meus labios

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Ricardo Abrahão

 

‘Muitos são os que dizem fazer de tudo para agradar a Deus. Poucos são os que realmente se colocam em busca dele. Buscar a Deus com sinceridade do coração sem a pretensão do encontro. Como assim? A pretensão carrega a busca de vaidade e orgulho e para buscar ao Senhor é preciso despojar-se de si. É um esvaziar-se de tudo o que alimenta o orgulho. Quem busca a Deus é porque já o encontrou e entende que é na constante busca que se encontra a atividade do amor. O Catecismo da Igreja Católica inicia dizendo que o homem é ‘capaz’ de Deus : ‘O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso’ (27). Esse é o sentido do cantar na Igreja. Cantar em comunidade.

O canto tem um papel fundamental na liturgia católica : é constante busca de Deus. Sendo assim, deve ser bem-estruturado, usando todos os recursos possíveis para que a tarefa musical se faça sem reservas. 

Há uma grande confusão entre entusiasmo e impulso. Praticamente se ouve nas igrejas canto impulsivo, sem técnica, sem estudo e, o mais perigoso, sem entusiasmo. Cantar com entusiasmo é se encontrar mergulhado nas verdades do Espírito Santo. O entusiasmo quando verdadeiro só pode ser fruto do silêncio; Deus não vem na tempestade, mas somente na brisa suave, no sussurro delicado. O profeta Elias encontrou o estado de canto, ou seja, na suavidade da presença de Deus ele ficou encantado. Estar encantado é se encontrar em estado de canto. Por que o barulho tomou conta das igrejas? Porque o encantamento e o entusiasmo sobre o amor de Deus são substituídos pelos impulsos da vaidade humana sem o filtro do silêncio e do verdadeiro preparo espiritual. Isso não quer dizer que o amor de Deus não está presente no coração das pessoas, nada disso, mas o amor do Senhor tem se misturado com as ilusões do amor próprio, então, o resultado não é espiritual totalmente. Seria como se lêssemos o cardápio para matar a fome. É necessário muito trabalho para que o cardápio se concretize à mesa! Falar de Deus pelos impulsos não é a mesma coisa que falar em Deus pelo entusiasmo.

Música é oração e a oração católica é feita com música. Somente no exercício do silêncio se pode encontrar o Espírito Santo e abrir os lábios para emitir, com entusiasmo, os sons que chegam a Deus. A música cristã necessita de exame de consciência! O monge beneditino Anselm Grün, no seu livro A saúde como tarefa espiritual, convida ao pensamento : ‘Quem sou eu diante do meu Deus? Como estou? O exame de consciência propriamente dito é o encontro com Deus’. É questão de silêncio, escuta e humildade. Que a música seja portadora de entusiasmo a todos que desejam caminhar ao encontro com o Senhor!

‘Que vos agrade o cantar dos meus lábios e a voz da minha alma; que ela chegue até vós, ó Senhor, meu Rochedo e Redentor!’ (Sl 18 [19]).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/que-vos-agrade-o-cantar-dos-meus-labios-2.html

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Anjos: uma verdade de fé

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Luís Eugênio Sanábio e Souza


‘Meu memorável avô paterno Antônio Moreira de Souza (1896-1975) dizia ter visto um anjo durante sua infância vivida no campo.  Na época, diante dessa visão incomum, a sua família interpretou isso apenas como uma fantasia de criança. O fato é que meu avô Ferreira (como era chamado) jamais esqueceu este anjo ao longo de sua vida. Hoje, considerando as admiráveis virtudes morais e religiosas que meu avô testemunhou, sua ardorosa fé católica, sua colaboração ativa com padres e bispos e também com os mais necessitados, posso entender e acreditar naquela sua visão sobrenatural do anjo, pois, segundo a fé cristã, os anjos são mensageiros das coisas de Deus ! 

A Igreja Católica ensina que ‘a existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição’ (Catecismo da Igreja Católica nº 328). Etimologicamente, a palavra anjo significa ‘mensageiro’. No século IV,  Santo Agostinho explicou a respeito dos anjos : 'Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza.  Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo :  é espírito por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz’. ‘Com todo o seu ser, os anjos são servos e mensageiros de Deus. Pelo fato de contemplarem ‘continuamente o rosto do meu Pai que está nos céus’ (Mateus 18,10),  eles são ‘os poderosos executores das suas ordens, sempre atentos à sua palavra’ (Salmo 103, 20). Enquanto criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e vontade : são criaturas pessoais (Papa Pio XII) e imortais (Lucas 20,36). Excedem em perfeição todas as criaturas visíveis’ (Catecismo da Igreja Católica nº 329 e 330). 

No ano 1215, o IV Concílio de Latrão recordou que Deus ‘criou conjuntamente, do nada, desde o início do tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; em seguida, a criatura humana, que tem algo de ambas, por compor-se de espírito e de corpo’. Como puros espíritos, os anjos são invisíveis aos homens, mas por mandado divino tomam forma visível. 'Cada fiel tem a seu lado um anjo como protetor e pastor para o guiar na vida’ (Catecismo da Igreja Católica nº 336). Trata-se aqui do ‘anjo da guarda’.  Esta crença está baseada em diversas passagens da Escritura (Gênesis 48,16; Mateus 18,10; Atos dos Apóstolos 12,15). A Igreja festeja mais particularmente a memória de certos anjos (S. Miguel, S. Gabriel, S. Rafael, os anjos da guarda). Foi um anjo (Gabriel) que anunciou o nascimento de Jesus Cristo (Lucas 1,11-26). O anjo disse a Maria : 'Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus’ (Lucas 1, 30-31).  A Igreja ensina que os anjos são de Cristo. São seus porque foram criados por e para Ele; são seus, mais ainda, porque Ele os fez mensageiros de seu projeto de salvação (Catecismo da Igreja Católica nº 331). Os anjos aí estão, desde a criação e ao longo de toda a história da Salvação, anunciando de longe ou de perto esta mesma salvação, e postos ao serviço do plano divino da sua realização : eles fecham o paraíso terrestre (Gênesis 3,24); protegem Lot (Gênesis 19), salvam Agar e seu filho (Gênesis 21,17), seguram a mão de Abraão (Gênesis 22,11) pelo seu ministério é comunicada a Lei (Atos dos Apóstolos 7,53), conduzem o povo de Deus (Êxodo 23,20-23), anunciam nascimentos (Juízes 13) e vocações (Juízes 6,11-24; Isaías 6,6) assistem os profetas (1 Reis 19,5) – para citarmos apenas alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e o do próprio Jesus (Lucas, 1,11-26) (Catecismo da Igreja Católica nº 332). Por fim, lembro aqui da tradicional oração do Santo Anjo que minha mãe Carmen me ensinou durante minha infância : ‘Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, pois que a ti me confiou a Piedade divina, hoje e sempre me governa, rege, guarda e ilumina. Amém’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-09/anjos-verdade-fe.html