Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Irmão Daniel Ludik, OHC
Priorado São Bento, Volmoed, África do Sul
‘Em 30 de agosto de 2019, três irmãos da Ordem da
Santa Cruz, uma ordem beneditina anglicana, chegaram ao centro de retiro
Volmoed perto de Hermanus, na província do promontório ocidental na
África do Sul, após terem deixado o seu mosteiro perto de Makhanda
(Grahamstown) na província do promontório oriental, com um caminhão cheio de
bíblias, breviários, livros, ícones, estátuas, móveis e um cão.
Uma breve história da ordem da Santa Cruz
A Ordem da Santa Cruz (OHC) foi fundada pelo padre
James Otis Sargent Huntington em 1884 em Nova Iorque, como uma ordem de padres
missionários que trabalhavam principalmente pela justiça social em favor dos
migrantes desfavorecidos. A OHC rapidamente se concentrou na educação,
notavelmente fundando escolas para as crianças pobres. Na América, a OHC fundou
a escola S. Andrews em Sewanee, Tennessee, e a escola Kent em Kent,
Connecticut. A OHC instalou-se igualmente na África desde o princípio do século
XX, com uma fundação em Bolahun, na Libéria, onde a ordem criou a escola S.
Mary. Este mosteiro teve infelizmente que fechar nos anos 1980 devido à guerra
civil que assolou o país.
Desejosos de prosseguir com a sua presença na
África, e a convite do arcebispo emérito Desmond Tutu, a OHC fundou o mosteiro Mariya
uMama weThemba perto de Grahamstown na África do Sul em 1998. A comunidade
monástica rapidamente lançou um programa paraescolar e um fundo de bolsas de
estudo para as crianças dos trabalhadores agrícolas nos arredores do mosteiro.
Entretanto, um dos maiores problemas identificados na educação na África do Sul
é uma deficiente atenção aos estudos de base. Decidimos lançar uma escola
primária que se encarregaria dos níveis (para as crianças dos 5 aos 8 anos).
Assim a escola Holy Cross começou em 2010.
A filiação beneditina
Com o tempo, e à medida que mudava a sociedade, a
OHC tornou-se mais beneditina no seu espírito e no seu carisma. Com o
encorajamento dos camaldulenses americanos, em relação de aliança com a OHC,
esta tornou-se oficialmente beneditina quando do seu capítulo anual em 1984,
cem anos após a sua fundação.
Enquanto beneditinos, fomos convidados a unirmo-nos
à BECOSA (Benedictine Communities of Southern Africa) pouco após a nossa
chegada à África do Sul. Este foi um recurso muito precioso para nós enquanto comunidade.
É mal conhecida a existência de mosteiros na Igreja anglicana, pelo qual é
muito importante e útil para nós fazer parte de uma família monástica alargada.
Graças à BECOSA fomos iniciados no programa de formação dos mosteiros no qual
participaram cinco monges da OHC a partir da África do Sul ao longo dos anos.
Igualmente, por intermediação da BECOSA, participamos em diversos programas e
cursos tornados possíveis pela generosidade da AIM. Isto poderia ser objeto de
um artigo à parte; entretanto, é também uma boa ocasião de dizer «obrigado»,
uma vez mais!
O centro de retiro Volmoed
O centro de retiro Volmoed nasceu no princípio dos
anos 1980, no pior do apartheid na África do Sul, de uma visão comum de
Bernhard Turkstra, então proprietário de um hotel, e de Barry Woods, padre
anglicano, para criar um lugar abertamente cristão mas onde as pessoas de todas
as raças e pertenças religiosas pudessem encontrar segurança e acolhimento em
vista de uma cura e de uma reconciliação. Encontraram finalmente uma quinta
chamada Volmoed (uma palavra africana que significa «cheio de coragem»), que
era originalmente, no século XVIII, uma colônia de leprosos. Uma bela aventura
de fé começou então nesse lugar maravilhoso que trouxe muitos frutos ao longo
dos anos.
A comunidade residencial de Volmoed compõe-se de
alguns casais de retirantes, todos muito ou pouco implicados na atividades
cotidianas de Volmoed. O centro de retiro é gerido por uma equipe profissional
cheia de dedicação sob a supervisão de um conselho de administração cujos
membros não residem todos na propriedade. Para concluir, Volmoed está sob o
patrocínio do bispo Desmond Tutu, grande amigo da ordem da Santa Cruz.
Mudanças em Volmoed
O que trouxe então os monges a Volmoed? Pouco após
a sua criação, a escola Holy Cross cresceu regularmente uma classe por ano.
Tornava-se evidente que a escola devia continuar a expandir-se, para além da
fase de fundação, para se tornar uma escola primária inteiramente à parte.
Devido à disposição dos edifícios da propriedade, a opção menos cara e a mais
sensata seria converter todo o recinto próximo dos monges em salas de aulas
suplementares.
No início, os monges instalaram-se numa parte da
hospedaria do mosteiro, mas esta solução depressa se revelou insustentável.
Começamos então a procurar um outro alojamento e, devido a contatos
anteriores com a comunidade Volmoed, pedimos-lhes ajuda para encontrar
possibilidades no promontório ocidental.
Uma parte da ética de Volmoed é ser uma presença
orante a todo o momento. Foi o que ofereceu o padre Barry Woods à sua morte no
princípio de 2019. Assim, quando nos informamos sobre as possibilidades de
instalação no promontório ocidental, a equipe de Volmoed convidou-nos a viver
junto como uma presença orante. Foi assim que o priorado de São Bento em Volmoed
viu o dia. Como era de se esperar, passar de um mosteiro totalmente autônomo a
um espaço ecumênico existente e funcionando bem, oferece um conjunto particular
de desafios e oportunidades.
A vida em Volmoed
Falei de Volmoed como de um lugar de cura e reconciliação,
o que é pois em si um ministério muito dinâmico. Volmoed mantem relações com
diversas organizações e comunidades locais e internacionais que se consagram à
consolidação da paz e à reconciliação. Uma dentre elas é a Community of
the Cross of Nails, na catedral de Coventry.
Através do programa de formação de liderança de
jovens de Volmoed (VYLTP: The Volmoed Youth Leadership Training Programme),
existe igualmente uma relação viva com a comunidade de Taizé na França. O VYLTP
é um programa residencial de nove semanas, no fim do qual um ou dois jovens que
se revelaram aptos são escolhidos e enviados a Taizé por três anos a fim de
trabalhar no quadro do seu programa de voluntariado.
Para o culto, Volmoed dispõe de um complexo de
capelas com uma grande capela principal, uma capela-santuário menor e, no nível
inferior, várias outras salas. Estas salas e o santuário estão à nossa
disposição. As partes do nível inferior servem-nos de escritório e de pequena sala de capítulo.
Seguimos o nosso horário monástico cotidiano e
reunimo-nos frequentemente com membros da comunidade Volmoed e/ou convidados. A
nossa eucaristia dominical é frequentemente seguida por um certo número de
pessoas que não se sentem particularmente ligadas a uma paróquia ou a uma
congregação local.
Há várias décadas, Volmoed propõe um serviço de
comunhão ecumênica às quintas-feiras de manhã que se revelou muito popular
junto da comunidade da vila de Hermanus em sentido amplo («Acolhimento de
pessoas com necessidades complexas»). A comunidade monástica foi convidada a
dirigir o serviço na última quinta-feira do mês, e aproveitamos esta ocasião
para apresentar à assembleia diferentes tipos de cantos (via YouTube) que
ajudaram a acomodar as pessoas conduzindo-as a uma maior calma, em atenção ao
grande número de pessoas presentes e não somente de monges! Estas eucaristias
de quinta-feira permitiram-nos igualmente fazer conhecer melhor vários
participantes do domingo.
Há muitas outras organizações e pessoas neste domínio
que encontramos ou que esperamos encontrar e com as quais podemos atar relações
e ministérios. Infelizmente, a maior parte do tempo que passamos aqui em
Volmoed, na África do Sul, mas também no resto do mundo, foi bloqueada ou
submetida a outras restrições devido à pandemia COVID-19. Esperamos continuar a
desenvolver estas relações na medida do possível.
Enquanto comunidade monástica, agradecemos a Deus o
estarmos em condições de oferecer uma direção espiritual, sobretudo nestes
tempos difíceis. Este ministério começou quase imediatamente após a nossa
chegada e permitiu, assim esperamos, uma evolução para certas pessoas. Muita
gente se esforça verdadeiramente por estar presente quando entes queridos
morrem, ou por poder estar com os doentes e/ou com os que se encontram sós.
Dito isto, as formas de comunicação on-line têm-se revelado inestimáveis neste
ministério, sobretudo para aqueles que se encontram demasiado longe para nos
virem ver pessoalmente.
Como diz São Tiago, «vós não sabeis sequer o que será a vossa vida amanhã», nestes tempos incertos, há muitas coisas que não sabemos; no entanto, em Cristo, sabemos o que é a nossa vida e damos graças por cada dia.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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