Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Nos campos de refugiados sobrelotados do Sudão,
onde a violência e a escassez são desafios diários, as Irmãs Hospitaleiras do
Sagrado Coração de Jesus (SHS) oferecem um apoio crucial às pessoas deslocadas.
A congregação sul-sudanesa, que vive em campos como Al Kashafa, presta cuidados
espirituais, aconselhamento sobre traumas e ajuda prática a milhares de pessoas
deslocadas por causa de décadas de conflito.
A presença das religiosas é vital no Estado do Nilo
Branco, servindo os refugiados em Al Kashafa e nos campos vizinhos, como
Gemeyia e Jorry. Elas organizam programas de catequese, visitam os doentes e
oferecem conforto a quantos sofrem de fome, maus-tratos e das consequências
emocionais do deslocamento. «O nosso principal serviço é ouvi-los», disse a
irmã Georgina Victor Nyarat, que trabalha em Al Kashafa desde Dezembro de 2023 :
«As pessoas estão realmente a sofrer.»
A congregação, fundada em 1954 pelo bispo Sisto
Mazzoldi [1898--1987, missionário comboniano, primeiro bispo de Juba] no Sudão
do Sul, viveu a guerra e o deslocamento em primeira mão. Depois de fugirem da
primeira guerra civil no Sudão, em 1964, as religiosas procuraram refúgio no
Uganda antes de regressarem ao Sudão do Sul, mas viram-se forçadas a fugir
novamente quando a segunda guerra civil eclodiu no Sudão, em 1983. Desde então,
permaneceram com o seu povo, atravessando fronteiras para continuar a missão.
Em 2016, após a escalada da violência no Sudão do
Sul, o bispo Daniel Adwok Kur, de Cartum, convidou as religiosas a irem cuidar
dos refugiados na região do Nilo Branco, no Sudão. Estabeleceram residência em
Al Kashafa, um campo que alberga mais de 150 mil sul-sudaneses. A residência
das religiosas, construída com telas de plástico, é uma estrutura humilde, mas
a presença delas tem sido uma tábua de salvação para as pessoas deslocadas.
Enfrentar a discriminação
As religiosas também são mediadoras num ambiente
tenso no qual as comunidades de acolhimento muitas vezes maltratam os
refugiados. A irmã Mary Achwany George, que trabalha em Al Kashafa desde 2016,
referiu que os refugiados do Sudão do Sul enfrentam discriminações, incluindo
restrições para recolher lenha e água. «Muitos recebem ameaças, inclusive
sexuais, quando deixam o campo», disse ela. Apesar desses desafios, as
religiosas oferecem refúgio e esperança através da oração e da solidariedade.
As religiosas também fornecem apoio crucial quando
as porções alimentares se tornam escassas. O Programa Alimentar Mundial (PAM)
oferece algum alívio, mas a escassez persiste, obrigando os refugiados a
trabalhar como jornaleiros com pouca compensação. «O stress e
a frustração podem tornar-se tão insuportáveis, especialmente para os jovens,
que muitas vezes adoecem», diz a irmã Mary.
Partilhar a fé e a esperança
No meio dessas dificuldades, a presença das Irmãs
SHS ajuda os refugiados a aprofundar a fé e a resistir. «No início, as pessoas
não estavam próximas da Igreja», recorda a irmã Georgina. «Agora gostam de
rezar conosco». Todos os anos, o bispo Daniel Adwok visita os campos para
administrar o sacramento da Confirmação e prestar cuidados pastorais.
A irmã Mary realça a capacidade de resistência dos
refugiados, que partilham o que possuem com os recém-chegados do Sudão. «Com o
pouco que têm, os refugiados do Sudão do Sul também oferecem ajuda aos
sudaneses deslocados que chegam aos campos. Eles dizem-nos : ‘Deus está lá,
irmãs, e um dia voltaremos para casa’.»’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/actualidade/6/1380/acompanhar-os-refugiados-do-sudao-do-sul/
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