Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Sede santos
como o vosso Pai celestial é santo.’ (Mt 5,48)
‘Antes que o mundo nos chamasse por nomes
passageiros, Deus já sussurrava em nosso íntimo um nome eterno : ‘santo’. Antes
que nascêssemos, Deus já nos conhecia e nos chamava pelo nome (cf. Jr 1,5).
Esse chamado não é privilégio de poucos, mas o fundamento da existência de
todos. Não se trata de um ideal inalcançável, reservado aos altares e vitrais
das igrejas, mas de uma vocação profundamente humana, enraizada no dom da vida
que recebemos e que se desdobra, dia após dia, como resposta amorosa ao
Criador.
Ser humanos já é um chamado. Respirar já é uma
resposta. Cada batida do coração é um eco silencioso do Pai que nos convida à
plenitude : ‘Sede santos, como vosso Pai do Céu é santo’ (Mt 5,48). Essa é a
primeira e mais radical vocação que habita cada pessoa, a vocação à santidade,
à vida vivida como dom, entrega e missão. A santidade não começa com grandes
gestos, mas com pequenos e fiéis ‘sins’ dados no cotidiano : na paciência de um
educador, no cuidado de uma mãe, na escuta silenciosa de um consagrado, no
olhar compassivo de quem serve.
Agosto é, na tradição da Igreja do Brasil, o mês em
que celebramos de maneira especial as vocações : ao ministério ordenado, à vida
consagrada, à família, aos leigos e leigas, mas, antes de cada uma dessas
formas concretas de seguir Jesus há uma vocação primeira que nos atravessa a
todos : a vida como espaço de santificação, o existir como caminho de comunhão
com Deus e com os irmãos e irmãs. A vida é dom, é milagre, é missão. É nesse
chão da existência que floresce a voz de Deus, convocando-nos a descobrir a
melodia única que Ele mesmo compôs em nosso interior.
Descobrir a própria vocação é como escutar, em meio
ao ruído do mundo, um canto suave que nos chama pelo nome. É reconhecer que não
somos obra inacabada do acaso, mas, sonho amado de Deus. Esse sonho se realiza
não quando nos fechamos em expectativas humanas, mas quando nos abrimos à
lógica do Evangelho : perder para ganhar, servir para viver o amor e amar até o
fim. A vocação, qualquer que seja, nasce da escuta, amadurece no discernimento
e frutifica na entrega.
Ser vocacionado é, antes de tudo, deixar-se
alcançar. É permitir que Deus entre em nossa história e a transforme em bênção
para os outros. A vocação não é um peso, mas uma centelha de sentido; não é um
dever imposto, mas uma resposta amorosa que brota da liberdade. Essa liberdade,
quando atravessada pelo Espírito, conduz-nos a lugares inimagináveis,
ensina-nos a viver com inteireza e a amar com profundidade.
Neste mês vocacional, talvez a melhor pergunta não
seja ‘O que devo fazer?’, mas ‘Quem sou eu aos olhos de Deus?’. A resposta a
ela nos conduz à fonte da nossa identidade mais profunda. Somos filhos, somos
chamados, somos enviados. Nesse caminho de escuta e resposta, Maria nos
acompanha como mestra da vocação. Ela, que ouviu o chamado no silêncio de
Nazaré e respondeu com um ‘sim’ que mudou a história, continua a nos ensinar
que vocação se vive com humildade, coragem e disponibilidade.
Deixemo-nos tocar novamente pelo sussurro do Pai.
Talvez Ele não venha em forma de grandes revelações, mas no brilho de um gesto
simples, na inquietação do coração, na alegria que ressurge quando servimos.
Neste mês de agosto, abramos os ouvidos e os corações. A vocação nos chama. A
vida nos espera. A santidade nos abraça. E Maria caminha conosco, como estrela
que guia e coração que acolhe.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/o-chamado-a-santidade-da-vida.html
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