Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Missionário Comboniano
‘O padre Roberto Minora, com a sua paciência e bom
humor, introduziu-me na realidade social de Marcos Moura, marcada pela pobreza
generalizada, crescente violência e os grandes desafios que as famílias
enfrentam no quotidiano da vida. Gradualmente, inseri-me nas diversas pastorais
das comunidades cristãs que procuramos acompanhar com zelo, amor e compaixão,
ao jeito de Jesus. Sabemos muito bem que toda a pastoral vai beber ao múnus de
Cristo, isto é, ela está ligada à missão de Cristo, o Bom Pastor.
O acolhimento que recebi por parte das comunidades
cristãs foi fervoroso e afetuoso. Fizeram-me sentir parte desta grande família
que é o Povo de Deus. Gente simples, respeitosa e guerreira, pois a vida
quotidiana é dura para a maior parte das pessoas que moram neste bairro do
município de Santa Rita, Paraíba. Porém, a dureza da vida não lhes rouba a
alegria de viver e a gentileza no trato com os outros.
Ação pastoral
Partindo do princípio de que a pastoral visa
fundamentalmente anunciar Cristo ao mundo e colaborar no projeto humanizador do
Pai, ela envolve não apenas os pastores, mas toda a comunidade cristã. Sempre
acreditei no protagonismo comunitário e não individual. Também os ritmos, os
métodos, o modo de se fazer as coisas são igualmente diferentes em cada
situação histórica onde o Evangelho é anunciado e encarnado.
Neste breve tempo de ação pastoral que tenho vindo
a realizar na paróquia de Marcos Moura, a minha atuação tem sido mais de
escuta, proximidade e acompanhamento, marcada pelo anúncio do Evangelho e
formação cristã. De facto, os nossos interlocutores são pessoas que já conhecem
a Cristo. Os desafios pastorais apontam mais para uma ação dirigida aos
cristãos cuja fé ainda é bastante superficial ou marcadamente de sabor popular.
Mas sentimos também a necessidade de ir à procura da «ovelha perdida». As
igrejas evangélicas que vemos amontoadas ao longo das ruas com toda a sua
gritaria e intenção proselitista podem «apanhar» aqueles cristãos católicos
mais desprevenidos quanto a fé e compromisso.
Nesta realidade eclesial onde estamos inseridos, em
que as nossas comunidades cristãs são relativamente pequenas, temos procurado
encorajar os cristãos a viverem a sua vocação na Igreja em chave missionária,
incentivando-os a ter uma presença mais forte nas casas das pessoas em forma de
visita planeada em que se reza o terço, se celebra a Eucaristia reunindo os
cristãos residentes naquela área e outras iniciativas. Aprecio muito os passos
que algumas comunidades têm dado nesta direção de «sair para a rua» no sentido
de evangelizar, mas ainda há muito que fazer
Servir os mais necessitados
A ação pastoral envolve, entre outras coisas, o
serviço aos necessitados, o estudo bíblico, a dimensão celebrativa que temos
procurado promover nas nossas comunidades cristãs. Conscientes de que estamos
inseridos numa realidade social bastante pobre, com muitas carências humanas e
afetivas, o desafio de uma participação mais generosa por parte das comunidades
neste serviço aos mais carenciados é cada vez mais pertinente.
A paróquia, por meio da Pastoral da Criança,
realiza ações de apoio aos menores e às suas famílias vulneráveis. Temos também
outras instituições de cariz social, animadas e planeadas pelos combonianos e
suas respectivas equipas, que dão um apoio extraordinário aos mais
desfavorecidos da população. Entre elas, destacamos : o Centro de Formação
Educativo Comunitário, sob a direção das Irmãs da Divina Providência; o Centro
de Defesa dos Direitos Humanos Dom Óscar Romero; o Projeto Legal, programa de
apoio às crianças e adolescentes em vulnerabilidade social; a Cooperativa de
Catadores de Reciclagem.
Desafios
Sentimos a necessidade de reativar e fortalecer a
pastoral juvenil, familiar e vocacional. Infelizmente, a maioria dos cristãos
não mostram grande disponibilidade em assumir compromissos e, nesse sentido, há
um trabalho enorme a fazer para consciencializar as pessoas e envolvê-las mais
nos diversos ministérios da comunidade.
Por fim, manifesto um desejo que trago no coração :
poder vislumbrar uma igreja diocesana menos clerical e mais pastoral. Posso
correr o risco de estar equivocado, pois estou aqui há pouco tempo, mas é um
sentimento que quero expressar de forma fraterna. Citando as palavras do Papa
Francisco, tenho a impressão de que a atitude de fundo que mais aflora numa
grande parte do nosso clero é de serem «clérigos de Estado» e não «pastores do
povo». É um sinal evidente de que existe ainda alguma resistência em se
despojar das seguranças «clericais».
Sonho com uma pastoral de escuta,
proximidade e acompanhamento, porque esta foi a prática de Jesus como parte da
sua pedagogia do caminho em que Ele agia na vida das pessoas sempre a partir
das suas situações concretas e existenciais, e em comunhão constante com o Pai,
que O enviou como Servo de todos. Consciente das minhas limitações, desejo
também fazer o mesmo caminho.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/actualidade/6/1409/uma-pastoral-de-escuta-proximidade-e-acompanhamento/
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