Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘O quinto mandamento da Lei de Deus é uma máxima em
favor da vida : ‘Não matar!’. No entanto, preservar a vida do outro não se
resume a não matá-lo com armas, mas também a respeitá-lo em sua integridade
como ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus.
A vida deve ser compreendida em sua amplitude. É
como observar um quadro formado por peças de um quebra-cabeça : cada peça,
quando colocada em seu devido lugar e unida às demais, revela a beleza do todo.
Se uma dessas peças for retirada, seja grande ou pequena, compromete a imagem
completa. Esse exemplo nos ajuda a entender que todo ser humano tem seu valor,
sua beleza real – a de ser filho de Deus –, e isso precisa ser preservado.
Essa é a visão que todos deveriam ter uns dos
outros, a fim de não destruir a vida de quem quer que seja. E, aqui, ‘destruir’
é como ‘quebrar’, ou seja, retirar uma peça do belo quadro da vida, deixando
uma lacuna, ferindo o conjunto. Não se mata ou destrói alguém apenas com armas
de fogo ou armas brancas, mas também com fofocas, atitudes de má-fé,
escândalos, enfim, comportamentos que ferem a dignidade do outro enquanto
pessoa.
Por esse motivo, a Igreja, de modo profético, fala
em defesa da integridade física e espiritual. O YouCat (Catecismo Jovem da
Igreja Católica), no parágrafo 386, ensina : ‘O mandamento ‘Não matarás’
presente em Êxodo 20, refere-se tanto à integridade física quanto à espiritual.
Qualquer utilização da violência é um grave pecado’.
O Catecismo da Igreja Católica também
deixa claro que o escândalo é um pecado grave contra a integridade : ‘O
escândalo é a atitude ou comportamento que leva outrem a fazer o mal. O
escandaloso transforma-se em tentador do seu próximo; atenta contra a virtude e
a retidão, podendo arrastar o irmão para a morte espiritual. O escândalo
constitui uma falta grave se, por ação ou omissão, levar deliberadamente outra
pessoa a cometer uma falta grave’ (2284).
O escândalo atinge tanto a vítima quanto o
causador. Quem faz o mal, receberá o mal de volta. Fazer mal ao outro é, de
certa forma, fazer mal a si. Ninguém fica imune! Entretanto, se sua vida é
voltada para abençoar, incentivar e elevar os outros, o retorno será sempre
favorável. Mãos que fazem o bem não têm a mesma disposição para praticar o mal.
Sendo assim, não antecipe a morte física de ninguém,
nem contribua para sua morte espiritual. Para refletir sobre isso, responda no
íntimo do seu coração :
- Minhas atitudes são boas ou más?
- Tenho sido causa de elevação ou de
rebaixamento das pessoas?
- O que alimento nos meus ouvidos e deixo sair
da minha boca é algo que faz bem ao próximo?
Essa reflexão é mais que necessária, pois nada
acontece por acaso. O que sai de você revela o que está em seu coração e em sua
mente. Muitas vezes, quem agride foi anteriormente agredido, quem faz o mal foi
amaldiçoado pelos outros, por isso, o olhar para dentro de si é essencial. Como
já dizia Mestre Eckhart, grande místico frade dominicano : ‘Se gostares de ti
próprio, gostarás de todas as pessoas como de ti mesmo. Se gostas menos de
alguma pessoa do que de ti mesmo, é porque nunca conseguiste gostar de ti
verdadeiramente’.
Esse é o verdadeiro termômetro para não violar as
vidas dos outros, ou seja, ame-se e amará; perdoe-se e perdoará; viva a
felicidade e será causa de felicidade!
Pare e reflita no mais íntimo do seu ser : a vida é
um dom precioso – não só a sua, mas a de todos. Se quer viver bem, mantenha o
outro vivo em seu coração e em suas atitudes, assim, não violará a obra do
Criador, que fez a todos à sua imagem e semelhança. Quem vive segundo essa
dinâmica descobre a verdadeira felicidade : preservando a vida, vive-se a
plenitude dela.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/a-vida-nao-pode-ser-quebrada.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário