Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘‘Então vocês declararão perante o Senhor, o seu
Deus : 'O meu pai era um arameu errante. Ele desceu ao Egito com pouca gente e
ali viveu e se tornou uma grande nação, poderosa e numerosa. Mas os egípcios
nos maltrataram e nos oprimiram, sujeitando-nos a trabalhos forçados. Então
clamamos ao Senhor, o Deus dos nossos antepassados, e o Senhor ouviu a nossa
voz e viu o nosso sofrimento, a nossa fadiga e a opressão que sofríamos. Por
isso o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa e braço forte, com feitos temíveis
e com sinais e maravilhas. Ele nos trouxe a este lugar e nos deu esta terra,
terra onde há leite e mel com fartura’. (Dt 26,5)
Para conhecermos melhor as Sagradas Escrituras,
inclusive a ligação de Jesus com a história de seu povo, precisamos conhecer um
pouco sobre a Civilização Aramaica.
Os arameus foram um antigo povo semítico que
habitou as terras do chamado Crescente Fértil, na região que abrange partes do
atual Oriente Médio, incluindo partes da Síria, Turquia, Iraque e Irã, durante
grande parte da história antiga. O povo arameu deixou profundas marcas na
história da região, contribuindo significativamente para a cultura, língua e
política do mundo antigo.
Origem da civilização aramaica
Além do texto do Livro do Deuteronômio com o qual
iniciamos este episódio várias passagens da Bíblia mencionam
os Arameus, povo oriundo da Mesopotâmia, do lugar chamado de
Aram-Naharaim, ou Aram dos dois rios, além das regiões circunvizinhas, como a
Síria, a Pérsia, o vale do Jordão ou as montanhas do Líbano.
Os arameus formavam tribos de pastores que
habitavam a região de Arã-Naharaim, fazendo fronteira com Assur (até 323 a.C.),
quando foi absorvida pelos gregos que renomearam a região como Selêucida
(323-64 a.C.). Conquistada pelos romanos a região recebeu o nome de Síria (64
a.C.-636 d.C.) que mantem até nos dias de hoje.
Os arameus desempenharam um importante papel
na história política do Oriente Médio. Por volta do século II a.C., conseguiram
estabelecer vários estados independentes conhecidos como ‘reinos arameus’. Um
deles, o Reino de Arã, com sua capital em Damasco se destacou, exercendo
influência sobre a região por vários séculos chegando a desafiar a hegemonia
dos reinos vizinhos, incluindo Israel e Judá.
Conforme narra o Segundo Livro de Samuel, no
processo de ocupação da região pelos Hebreus, o Rei Davi enfrentou e venceu o
reino arameu de Damasco, capital da Síria moderna.
Davi se apossou de mil dos seus carros de guerra,
sete mil cavaleiros e vinte mil soldados de infantaria. Ainda levou cem cavalos
de carros de guerra, e aleijou todos os outros. Quando os arameus de Damasco
vieram ajudar Hadadezer, rei de Zobá, Davi matou vinte e dois mil deles. Em
seguida estabeleceu guarnições militares no reino dos arameus de Damasco,
sujeitando-os a lhe pagarem impostos. E o Senhor dava vitórias a Davi aonde
quer que ele fosse. (II Sam 8, 4-6)
A língua falada por Jesus
A língua aramaica se consolidou como uma das
línguas semíticas mais importantes da antiguidade, sendo adotada como a língua
administrativa do Império Persa, usada em documentos oficiais e diplomáticos.
O aramaico era uma das línguas faladas por Jesus
Cristo e pelos seus discípulos, tornando-se importante no contexto do
Cristianismo primitivo. Jesus falava o aramaico porque era a língua do dia
a dia do Oriente Médio. Se o grego era a linga comercial, o aramaico era falado
pelas pessoas mais simples em seu quotidiano, tanto que partes do Novo
Testamento foram escritas nesta linga e o evangelho preserva várias expressões
em aramaico.
O povo que vivia em cidades e pequenas povoações da
Galileia, na região norte e em cidades como Cafarnaum, Nazaré, Caná, Tiberíades,
Corazim falava o aramaico. Ali Jesus foi educado, cresceu e passou a maior
parte de sua vida.
Fora das fronteiras da Galiléia o aramaico também
era falado e entendido porque somente se usava a língua hebraica no ambiente
religioso.
Herança dos arameus
Além das realizações políticas e linguísticas, os
arameus deram diversas contribuições para a cultura e sociedade do Oriente
Médio antigo. Sua arte e artesanato refletiam a rica tradição cultural,
evidenciada nas esculturas, cerâmicas e artefatos como os que foram descobertos
em sítios arqueológicos dos arameus. Eles também eram conhecidos pelas
habilidades comerciais e pelas técnicas agrícolas avançadas que contribuíram
para a prosperidade de suas cidades e de seus reinos.
Seu apogeu e queda estão ligados às mudanças
políticas e militares da região. A partir do século VIII a.C., o domínio
assírio levou à gradual assimilação dos arameus em seus vastos domínios. Depois
veio a dominação do Império Neobabilônico e do Império Persa Aquemênida que
governaram sobre as terras arameias, consolidando a influência persa na região
e marcando o declínio de sua civilização.
Apesar de terem perdido a independência política, o
legado dos arameus perdurou através dos séculos, principalmente através da
língua e da cultura que continuaram a influenciar o desenvolvimento do Oriente
Médio até os dias atuais.
Atualmente, pouco mais de dois
mil arameus considerados puritanos vivem na Síria, na Turquia e numa
pequena região do Iraque, mas estão ameaçados de extinção por conviverem em um
ambiente próximo do domínio islâmico, enfrentando exércitos turcos e
guerrilheiros curdos.
O povo arameu continua, entretanto, representando
uma peça importante no quebra-cabeça da história de ontem e de hoje do Oriente
Médio, como testemunho de uma civilização que deixou sua marca duradoura na
região.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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